segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Notícias do Front (28)

                               
O Autocrata Vladimir Putin

       Se o poder do Presidente Putin continua a crescer após a sua contestada eleição, os resultados não se afiguram benéficos seja para seu povo, seja no que concerne à  influência da Federação Russa na crise síria.
      A autocracia sempre foi uma característica dos czares. Se naquele tempo, os soberanos viajavam pouco, tal não é o caso com os dirigentes do século XXI. E as violências praticadas no próprio quintal tendem a afetar-lhes a pose, e a constranger os respectivos e eventuais anfitriões.
      De visita no Reino Unido – mais especificamente aos Jogos Olímpicos de 2012 - sua entrevista com o Primeiro Ministro David Cameron provocou reações de celebridades  como Sting e Pete Townshend do The Who e outros músicos, pela maneira atrabiliária com quem vem tratando o conjunto de rock ‘Pussy Riot’[1]. As jovens escolheram local inusitado e não adequado para  exibição não-autorizada no altar de uma igreja ortodoxa.
      Se o gesto do grupo é censurável, a cura aplicada supera em violência e crueldade qualquer expectativa. Presas desde março último, as três mulheres, duas das quais mães de crianças pequenas, são candidatas a sete anos de cadeia.
      O próprio vigário da Catedral de Cristo Salvador que, a princípio não as perdoara, pensa agora que o castigo já foi bastante (na dita performance musical o conjunto suplicou à Virgem Maria que livre a Rússia de V.V. Putin).
      É conhecida a queda que gospodin Putin tem por servir-se da dócil justiça (o exemplo mais gritante e acintoso é o do ex-milionário Mikhail Khodorkovsky, que teve prorrogada até 2017 a sua prisão na Sibéria).
     Agora, na campanha intimidatória contra a corajosa oposição ao déspota, o ativista anti-corrupção Aleksei Navalny – de que as milhares de visualizações do blog exacerbam a irritação do Kremlin – acaba de ser acusado de peculato, com pena prevista de dez anos.
     Exumando pretenso delito levantado contra o blogger Navalny – no que se associa à perseguição judicial orquestrada pelo vizinho presidente ucraniano Viktor Yanukovich contra a lider da oposição Iulia Timoshenko  a Comissão Investigativa do Estado alega que na qualidade de assessor  do governador da região de Kirov, o indigitado Navalny organizara um esquemão para roubar madeira da companhia estatal KirovLes, com perdas para o erário regional de quinhentos mil rublos.
      Na avaliação de advogado Vadim Kobzev, Navalny – que se declara inocente – deverá ser condenado a sete anos de prisão. Apesar de não saber como os esbirros do Czar Putin conseguirão ‘provar’ o seu ‘crime’, Navalny não duvida que eles dêem um jeito, apesar de a estória por trás da acusação haver sido radicalmente mudada.
      Quanto à nefasta influência de Putin, através do veto no Conselho de Segurança, de impedir qualquer ação das Nações Unidas no sentido de criar condições tendentes a paz na Síria, há demasiados exemplos que apontam nesse sentido, o último dos quais uma rara Resolução da Assembleia Geral – a que me reportei em blog precedente – pela qual se increpa o principal órgão das Nações Unidas, dadas as suas atribuições executivas de responsabilidade pela situação prevalente naquele país do Oriente Próximo.

Gastança na campanha de Obama ?    

      Os cofres da campanha pró-reeleição de Barack Obama estariam quase sem fundos, se merece crédito a reportagem reproduzida pelo International Herald Tribune.
      Os dispêndios se teriam elevado bastante desde o início do ano passado, em um esforço sem paralelo com vistas à promoção de sua candidatura à reeleição. A crer no artigo, Obama e seu quartel-general político se diferenciam na história contemporânea de seus antecessores na Casa Branca, no âmbito de um projeto sustentado para viabilizar-lhe a vitória nos comícios de seis de novembro de 2012.
     Ter-se-á realmente evaporado o capital para a campanha, consoante refere a reportagem ?  Uma análise mais percuciente e menos superficial nos trará elementos para qualificar em grande parte esse anúncio, à primeira vista alarmante, da situação em termos de recursos do candidato Barack Obama.
     De acordo com os dados fornecidos pelo diário – que se baseou nos anais da Comissão Eleitoral Federal – foram gastos desde o princípio de 2011 até 30 de junho último quatrocentos milhões de dólares. Nesse total estão incluídos US$ 86 milhões, despendidos em propaganda de campanha.
     Sobram, portanto, cerca de US$ 314 milhões. A visão inicial, vincada pelo natural viés do sensacionalismo da mídia, se examinada com maior atenção, carece de ser relativizada. Será mesmo que a campanha de Obama terá ‘queimado’ milhões de dólares para achar e registrar votantes ?
     Antes de avançarmos nos demais ítens da planilha de gastos da candidatura Barack Obama, é relevante relembrar que em muitos estados cujas assembleias tem maioria republicana se tem realizado um trabalho anti-democrático, que vai na contramão do cometimento do Partido Democrata. Como Romney, em uma de suas gafes mais ilustrativas, indicara o seu desinteresse pelos extratos mais pobres, será porventura desperdício conscientizar negros, latinos e os extratos mais desfavorecidos quanto à necessidade de fazer valer o respectivo direito de votar ( e de inscrever-se no registro de eleitores) ? A prioridade dessa empresa se ressalta a contrario sensu, se observarmos o esforço concertado do GOP em criar obstáculos para a votação dos mais pobres, esforço este que é passado adiante às assembleias com maioria republicana.
     Não é por acaso de resto que os irmãos Koch, os multibilionários petroleiros, são persona non grata na Casa Branca de Obama. De forma agressiva, eles têm  contribuido  para todas as campanhas que se caracterizem pelo anti-ambientalismo, pelo apoio aos candidatos de ultra-direita, e, não por último, pelo combate desleal e desbragado contra a presidência Obama, os dois irmãos, com sede em Wichita, no Kansas exercem um poder econômico considerável na União Americana, poder este que foi assaz incrementado pela sentença Citizens United, da Suprema Corte, em que se liberou, praticamente de forma total, a capacidade do dinheiro grosso das grandes corporações atuarem no cenário político, como se fossem pessoas físicas, retiradas muitas das restrições da legislação eleitoral anterior.   
         Mas voltemos à alegada gastança do Presidente Obama em termos de campanha. Cerca de US$ 50 milhões foram empregados para subsidiar as seções estaduais do Partido Democrata para engajar trabalhadores, pagar as contas de celulares e atualizar as listas de eleitores. Gastaram, outrossim, dezenas de milhões de dólares em pesquisa eleitoral, anúncios on-line e elaboração de softwares educativos para transformar o inexperiente corpo de voluntários em um exército junto às bases (grass-root).
        Todo esse esforço está voltado para habilitar o partido a penetrar nos segmentos sociais que muita vez deixam de votar nos democratas, ou por ignorância, ou por intimidação (real ou burocrática). Ao acercar-se a data das respectivas Convenções, a ordem de prioridades carece de ser mudada, dada a precedência da eleição.
       Neste momento, o desafio para Obama é priorizar a busca de fundos para a publicidade da respectiva candidatura, assim como responder aos ataques do campo adversário. Segundo se informa, neste ínterim Mitt Romney e o Comitê Nacional Republicano dispõem de cerca de vinte e cinco milhões de dólares a mais do que o quartel-general de Barack Obama.
       O horizonte em termos de recursos para o futuro inclui as quotas públicas tornadas disponíveis para os dois candidatos em setembro.  Sendo o mês de agosto um período marcado pela lentidão na disponibilização de fundos – por ser uma época de férias – Obama endereçou aos seus principais partidários ( e doadores) um apelo para que aumentem as respectivas contribuições, com vistas a contra-arrestar a atual vantagem do antagonista.
       Se a anterior supremacia de Obama em termos de contribuições se vê contestada, a sua organização se empenha em voltar a motivar os eleitores, sobretudo aqueles com mais dinheiro, para a necessária reação. Nesse particular, grande atenção vem sendo dada aos chamados ‘swing states’ (estados indecisos), para incrementar a conscientização dos eleitores da faixa democrata.
      


( Fontes:  International Herald Tribune, Folha de S. Paulo )     

     



[1] Garotas da Fuzarca.

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