domingo, 26 de agosto de 2012

A Hora da Verdade para Dilma ?


                              
       As greves no serviço público tiverem como precursor o movimento dos professores universitários. Quanto à justiça e à urgência desta reivindicação específica, o leitor deste blog conhece a minha posição e não me parece o caso de aqui desenvolvê-la uma vez mais (V. a propósito ‘O Escândalo do Salário dos Professores’, de 30 de junho de 2012).
       Parece-me de toda oportunidade, no entanto, ensaiar uma primeira apreciação de o que significa o desafio da greve  generalizada no serviço público para Dilma Rousseff enquanto presidente da república.
      O tratamento por ela dado ao surto grevista transmitiu, de início, às categorias envolvidas, a impressão de que a presidente tinha mais o que fazer do que ocupar-se com a súbita irrupção no seu gabinete de tais demandas salariais. Ao delegar o assunto à esfera ministerial, deu aos funcionários que cruzavam os braços uma dúplice mensagem: (a) a questão não possuía importância bastante para que chamasse a si própria a responsabilidade de respondê-la; (b) e o corolário disso, vale dizer a maneira tímida com que o segundo escalão se dispôs a tratá-la.
       Por cima disso tudo, pairava o menosprezo presidencial pelo movimento reivindicatório. Esse tipo de reação não semelha aconselhável para as categorias de servidores públicos cujo inchaço numérico correspondera ao empreguismo demagógico implementado pelo lulo-petismo, ao longo de oito anos. A sensação de partilha do poder que se infundiu a muitas dessas levas teria a consequência inexorável de trazer para o serviço público o espírito sindicalista, com todos os seus efeitos não necessariamente consentâneos com as observâncias do funcionalismo de estado.  
       É uma pena que  nos alegados amistosos contatos entre a Presidenta e o seu predecessor não-imediato, i.e., Fernando Henrique Cardoso, ela não haja feito alguma pergunta sobre como FHC encaminhara a solução para um incipiente repto à sua autoridade, como foi a greve dos petroleiros. Ninguém duvida que esse ex-presidente daria uma resposta diversa à questão, do que a porventura dada por Lula da Silva. A esse respeito, semelha difícil pensar que Dilma Rousseff haja reputado de seu interesse conversar a respeito com os seus antecessores, tanto o respectivo criador, quanto aquele a que depois do longo exílio lulista tem de novo convidado aos paços presidenciais.
       A criatura terá acaso desejado frisar a respectiva autonomia e capacidade de juízo? Se foi isso realmente o que ocorreu, mostrou singular falta de sensibilidade e por que não dizer, de senso crítico e da necessidade de valer-se de opiniões de pessoas que conhecem o problema com muito maior profundidade do que a Primeira Magistrada da Nação.
        Como na velha luta entre Anteu e Hércules, aquele só poderá ser derrotado se tiver cortado o acesso às bases. Através da falha inicial, Dilma iria, sem dar-se conta, ensejar o alastramento da greve e a respectiva radicalização, com a descida na arena de outras categorias de serviços estatais.
      De repente, a sociedade se depara com um filme que os seus maiores já conhecem, mas que há muito não costumava aparecer com tal virulência.
     Os movimentos grevistas descambaram para uma atmosfera que tem colocado em xeque a autoridade da Presidente da República. Isto é grave e é também inadmissível.
     Tais paros selvagens levantam questões bastante delicadas e desmoralizantes. A ineficácia do Congresso Nacional e a falta de regulamentação dos dispositivos constitucionais é, nestas ocasiões, exposta com uma dupla crueldade. Primeiro, a mais importante, vale dizer a desídia de Senado e Câmara de cumprir o mandamento constitucional – e isto por décadas a fio – e não regulamentar a atividade de categorias indispensáveis para a defesa da ordem e da saúde públicas.
     Os motins dos bombeiros de meses passados porventura não desnudaram essa escandalosa situação que pode ser hoje replicada em posturas de insubordinação de categorias cuja obediência à hierarquia constitui pressuposto de sua atividade ?
     Há no Brasil um afrouxamento do respeito à lei. Como interpretar de outra forma as chamadas operações-padrão que, na verdade, são uma caricatura das disposições legais, e a fortiori empregadas nesse arremedo sobre os cidadãos, que são aí utilizados como um grupo de vítimas propiciatórias, de forma a extorquir das autoridades à custa da cidadania o atendimento de pleitos que nada têm a ver com as procrusteanas exigências de funcionários em greve branca ?
    Mais grave ainda nesta escala – que outrem diria ter horror em referir – é a criminosa retenção de medicamentos (chegando ao absurdo de inviabilizar tratamentos quimio-terápicos de que literalmente depende a sobrevivência do paciente) que, a par de eticamente censurável e de manifesta ilegalidade, só serve para patentear a baderna prevalente.
     Se este não é o primeiro artigo que escrevo sobre Dilma Rousseff e a autoridade, tampouco aqui será   decerto o caso de repeti-los. O desafio agora vem curvado não pelos anos, mas pela sua irradiação e caráter inaudito. Não adianta mais fingir que o agourento personagem não bate à sua porta. Há evidente urgência  na necessidade de arrostar o problema e solucioná-lo. Senão Sua Excelência corre o risco que, nos antigos mitos, se apresentava àqueles que não logravam deslindar o enigma, ora proposto por estranha e bem moderna esfinge.

 

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