terça-feira, 7 de agosto de 2012

Mensalão: a Vez Primeira da Defesa

                                     
                           
        Nada admitir, nada reconhecer, terá sido a palavra de ordem dos quatro advogados de ontem, seis de agosto. A única admissão, que faria parte de um plano concertado, foi de parte do advogado Arnaldo Malheiros, no que tange a seu cliente e ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares: teria praticado um ilícito, o crime de caixa dois. Como Delúbio não responde por caixa dois na denúncia, e de qualquer forma, a essa altura, o crime já está prescrito, inexiste possibilidade de condenação por tal prática.
        Consoante O Globo houve jogo de empurra no STF. Nas palavras do advogado José Luis Oliveira Lima, José Dirceu não sabia de nada do PT. Ele não teria comandado quadrilha porque sequer conhecia a forma usada pelo PT para organizar suas finanças, pois era chefe da Casa Civil de Lula.
       A colunista Eliane Cantanhêde sublinha que “só no admirável mundo dos advogados seria possível dizer (...) que Dirceu, como Chefe da Casa Civil não mandava nada no PT, não articulava nada, não interferia sequer nas nomeações para cargos públicos. (...) Quanto às audiências de Dirceu com banqueiros e empresários no Palácio do Planalto (...) Oliveira Lima disse que eram parte do trabalho do então ministro. Mas não explicou onde Delúbio Soares, Sílvio Pereira e Marcos Valério se encaixavam.”
        Por sua vez José Genoino,  ex-presidente do PT, segundo alegou – no relato de O Globo - só tratava de assuntos políticos. ‘Ele não cuidava das finanças do PT, que era assunto de Delúbio.Os empréstimos por ele avalizados seriam legais. Nunca tratou de empréstimos com Valério. “Genoino cuidava das relações com os partidos da base aliada em termos políticos, não tratava de finanças.” Seu advogado, Luiz Fernando Pacheco, assinala Eliane Cantanhêde, caíu em contradição: ‘disse, primeiro, que o mensalão é “inventado e fantasioso” e, ao final, que Genoíno foi “arrastado pela irresponsabilidade de alguns”. E a propósito, pergunta-se a colunista: ‘irresponsabilidade’ é tradução para mensalão ?
      Por sua vez, o advogado de Marcos Valério, Marcelo Leonardo, disse: Ninguém dá notícia de compra ou pedido de compra de voto de deputado, apesar das 300 testemunhas ouvidas na instrução criminal. Em defesa de Valério, havido como operador do mensalão, ‘os empréstimos contraídos para o PT teriam sido legais. Não teria havido uso de dinheiro público ou compra de votos.’ Valério, consoante o defensor, “não é troféu ou personagem a ser sacrificado em altar midiático. Foi vítima de implacável e insidiosa campanha de publicidade”
     O representante do lobista Valério não fez carga contra Dirceu ou Genoino. Recorreu à terra firme do caixa dois, reconhecido por Delúbio e já prescrito: ‘O fato provado é o caixa dois de campanhas eleitorais. Delúbio lhe informou que o PT tinha dívidas de campanha”.
     Dentre outras alusões, Dirceu recorreu aos dois ícones do PT, a atual Presidente, e o seu antecessor.  O advogado Lima citou depoimentos da então Ministra Dilma Roussef, que afirmou desconhecer irregularidade por atuação de José Dirceu, e do próprio Luiz Inacio Lula da Silva com a lapidar frase : “Não tenho conhecimento de nenhum ato indevido.”
       Eliane Cantanhêde mostrou singular poder de síntese, dentro do reduzido mas relevante espaço de que dispõe: “ os quatro advogados de ontem contaram uma mesma história, com um mesmo enredo, variando apenas quanto à importância dos personagens (...).”
      O anódino caixa dois, que Lula já referira, em observação famosa, explicaria então toda a complexa trama ? E será mesmo que a culpa é do Delúbio ?





( Fontes: Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, O Globo )

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