quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A Autoridade da Presidente Dilma Rousseff


                                
       A autoridade do Presidente da República é daqueles atributos de difícil definição, mas de  fácil apreensão pela opinião pública e de todos os cidadãos (e não só os comuns daqueles porventura privilegiados, na lição dada há tempos pelo Presidente Lula da Silva a respeito de um dignitário da República).
      Autoridade não se confunde com mau gênio, nem tratamento grosseiro ou pouco civil dispensado a subordinados, sejam eles de alta hierarquia ou não.
      Decerto, a autoridade se distingue na forma do tratamento dispensado (e recebido) quer no contato cotidiano com o círculo de pessoas que estão funcionalmente subordinadas ao mais alto magistrado do Estado, quer na maneira com que o (a) presidente pratica não só com os chefes dos demais poderes, os governadores estaduais, os deputados, senadores e membros das demais instituições republicanas.
     Igualmente, e para nossa fortuna, não estamos em uma corte – posto que sob D. Pedro II houvesse democracia, como lamentou um governante sul-americano quando do golpe que o derrubou – e, portanto, não só os insignes dignitários, senão os representantes dos vários círculos que conformam a democracia têm em princípio o direito de bater à porta da máxima autoridade, se têm observações que, à luz incômoda da razão, justifiquem o gesto.
    De acordo com a mídia, subsiste a impressão de que Dilma Rousseff trata mal os subordinados, e desse vezo não estão dispensados os augustos ministros, que, a  crer-se a voz comum, em certos casos são levados a formas emotivas em geral não consentâneas com esse tipo de relação.
    Neste contexto específico, se o chefe de estado tem muitos direitos – e bem haja por tê-los – tem um  dever específico e questionável. Todos os seus subordinados, do mais elevado ao mais humilde, são tão seres humanos quanto a excelsa autoridade presidencial e, por isso, são credores de um mínimo respeito.
    A autoridade não carece manifestar-se em arrogância e incivilidade. A firmeza na atitude dispensa o desrespeito a qualquer interlocutor. Quem tudo ou quase tudo tem, não precisa demonstrá-lo pelo menosprezo ou violência verbal para quem tenha contato com ele (ela). Para os que tiverem a oportunidade de conviver – inda que pelo espaço de minutos – com grandes personagens da história, que grata lembrança experimentada, seja por gentileza, nobreza de caráter e afabilidade, mesmo se a ocasião fosse delicada, e o momento nem sempre risonho.
    Pois, é isto que separa o joio do trigo. Os verdadeiramente grandes não carecem de espezinhar os seus visitantes, por mais árduo que seja o instante, ou pesadas as circunstâncias a rodearem a entrevista.
    A Presidente Dilma Rousseff tem autoridade e muita decerto. Deveria, por isso, empregá-la no interesse do Brasil, como presumo, de resto, seja o seu desígnio.
    A autoridade e o respeito que dela deflui não se aplica apenas a auxiliares e pessoas do respectivo círculo. Que gente dela dependente trema na sua presença, pode até entender-se pelo eventual apego que tenham aos cargos. Mas na verdade, senhora Presidente da República, o interesse do Estado exige outro tipo de autoridade.
    A sua popularidade tem recebido avaliações bastante elevadas. Essas notas acaso persistirão quando cair no entendimento popular a onda de greves que, pelos mais variados pretextos, se alastra pelo país ?
    Para a memória de quem tem muitos anos de presença nesta terra, e não para repetir o bordão de seu antecessor, nunca dantes houve tanto desrespeito da autoridade do Estado e tanta desenvoltura, em declarar todo o tipo de greve, desde as mais sofridas, como a dos professores universitários, quanto as abusivas e manifestamente contrárias ao sentir e ao interesse da sociedade.
    As greves espoucam por toda a parte, em um aparente liberou-total, como se a sorte dos que trabalham na esplanada dos ministérios é ouvir por toda a jornada as tolices e sentir a visão egoísta de gatos gordos do funcionalismo ? Se se limitasse a aguentar a sandice alheia, seria até suportável, se muitos desses movimentos pecassem pela irresponsabilidade com a comunidade, a quem privam de serviços essenciais.
    Difunde-se a impressão de que o laxismo (ou o temor de aplicar a lei contra categorias havidas como simpatizantes) passou a constituir a lei que se não constante do diário oficial reponta em todas as paredes e muros dos edifícios públicos.
    Em toda terra civilizada, o direito de greve é respeitado. Sem embargo, ele deve ser fiscalizado pelo bom senso (o que implica  respeito à sociedade civil, que precisa de remédios, de mercadorias e de segurança, entre otras cositas más) e a exação republicana. Greve em todo lugar – exceto Pindorama – exige de quem recorre a esse direito sagrado, o entendimento que ela não é feita de graça (nem a custa da comunidade), mas exige o desconto no ponto respectivo. Será que as greves no serviço público – ao contrário das atividades privadas – seriam tão amiudadas e tão longas, se os grevistas soubessem que não teriam reposição de salário pelos dias do paro ?
      Presidente Dilma, a sua autoridade é muito importante para a coletividade brasileira. E o modo de evidenciá-la é o de enfrentar essa onda incrível e abusiva de greves. Autoridade de presidente é, entre outras coisas, para isto. Se não a utiliza, essa autoridade vira fraqueza.
     Sem dúvida, a senhora errou ao delegar a subordinados tratar de  assunto tão importante. É hora de dar meia-volta e arrostar este desafio à sua real autoridade.



( Fonte: Folha de S. Paulo )   

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