quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Dois Temas do Interesse de Obama


                                       
        Turbado com a súbita introdução na campanha da questão do aborto, Mitt Romney vê, com presumível irritação, que a gafe cometida pelo republicano Todd Akin de novo levanta a poeira em torno de uma polêmica, que os democratas julgam resolvida desde 1973, com a célebre sentença da Suprema Corte Roe v. Wade, que,  fundada no direito à intimidade da mulher, descriminalizou o aborto. Ora, com a ascendência da corrente evangélica no GOP, e a ajuda da atual maioria  conservadora no Supremo, os republicanos  se esforçam em, através de táticas salame, preparar progressivamente, através de série de juízos que cerceiam a liberdade feminina neste campo, e destarte criar as condições para o sonhado (por eles) – e impensável para a sociedade democrática  statu quo ante, reinstituindo a proibição do aborto. Vale dizer, a radicalização conservadora desembocaria em uma situação anterior a 1973, o que é vivamente repelido pela opinião pública na sua vertente liberal e, em especial, por grande parte das mulheres.
         O interesse de Mitt é levar o debate da campanha para a questão da economia, na qual o incumbent (presidente em exercício) se acharia em desvantagem. Às vésperas da Convenção de Tampa Mitt deseja arrumar a vitrina do Grand Old Party sem ninguém por perto que porventura venha a perturbar a mítica visão da unidade partidária. Não aproveita ao virtual candidato republicano que na sua plataforma esteja o tópico divisor do aborto, conforme proposto – com teses ofensivas a inteligência de pessoas normais – pelo deputado Todd Akin, que já teve os seus quinze minutos de notoriedade mundial, mas que teima em não atender ao recado de Romney em renunciar à candidatura ao Senado pelo Missouri, no que é atualmente mais outra disputa acirrada, com concorrente democrata.
         Não colabora decerto para a imagem de líder de Mitt Romney que o quase desconhecido Todd Akin, depois de ressuscitar a inoportuna polêmica sobre o aborto, venha a ignorar-lhe a determinação de renunciar à respectiva campanha para o Senado.
        Nesse contexto, o vice da chapa republicana, Paul Ryan - católico observante das disposições da hierarquia episcopal – tampouco ajuda deveras, por relembrar uma meta do GOP (na plataforma, por exigência das correntes da direita partidária) que Mitt desejaria fosse mantida em surdina, para não afastar possíveis adesões na ala feminina.
        A discussão suscitada pela inclusão de Ryan – com a sua proposta de orçamento que ataca as conquistas do Medicare e do Medicaid – já dera algum desconforto ao ex-governador de Massachusetts, eis que levanta visões pouco alentadoras tipo Robin Hood ao revés (tira dos pobres para dar aos ricos), e que não acrescenta ao propósito da candidato de somar votos, e não de afugentá-los.
       Por outro lado, no campo de alavancar a economia – inviabilizado no presente por uma negativa da liderança republicana sobretudo na Camara de Representantes, onde eles detêm a maioria, e que recorda o negativismo do GOP nos tempos da campanha de  Truman, como underdog (literalmente, o cachorro por baixo, i.e., o candidato desfavorecido pelas pesquisas) que lhe valeu uma incrível vitória contra Thomas Dewey, o candidato republicano a presidente em 1948 – o Federal Reserve Bank semelha agora disposto a injetar mais fundos em uma economia que careceria de ser reativada, para tender a dar maiores possibilidades de criação de emprego, e consequente redução da alta taxa de desemprego.
      Depois de uma sinalização precedente de Ben Bernamke com vistas a manter o Fed de fora de um intento de colocar mais fundos na economia, estudos posteriores teriam convencido a liderança do Fed a mudar a respectiva orientação, com políticas tendentes à infusão de mais recursos no mercado, com vistas a redespertar-lhe as forças no sentido de criar melhores condições para sacudir  a economia estadunidense do seu atual letargo. Se tal política tiver êxito, com a sinalização de uma possível saída em futuro próximo da presente  grande recessão, seriam óbvias as repercussões favoráveis ao atual gestor da atribulada economia de tio Sam, no caso Barack H. Obama.

 

 
( Fontes subsidiárias: O Globo,  International Herald Tribune )        

Nenhum comentário: