quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Eleições... na Rússia e nos EUA

                        
A quase aclamação do Tsar Vladimir

       O anúncio de Vladimir Putin, a 24 de setembro último, de sua ‘candidatura’ à presidência de todas as Rússias não colheu exatamente de surpresa os observadores. No longo processo de confronto de Dmitri Medvedev com o rival Putin, as perspectivas de reeleição do delfim se evaporavam como o tímido orvalho matinal diante do astro-rei.
        O acerto anunciado pela dupla – ambos voltam às posições iniciais – poderá ter sido do agrado da diarquia, mas, pelo visto, esta se esqueceu de auscultar o sentir do povo russo.
        A reação popular foi mais do que de desencanto. Há uma difusa impressão de que a opinião pública está farta com tais procedimentos, em que a cúpula toma as decisões que lhe aprazem, enquanto consideram a massa eleitoral com menosprezo equivalente  àquele que votam  à oficialista bancada do partido situacionista ‘Russia Unida’, cuja única ideologia semelha ser a de ocupar o poder.
       O crescimento da corrupção, as disfunções nos serviços estatais, e a decorrente insatisfação com o Estado ineficiente e claudicante, o arrocho da mídia independente, e a chaga da repressão na Tchetchênia só podem refletir-se nos índices de aprovação dados a Putin. Com efeito, o atual nível de aceitação de 61% é considerado baixo, se o cotejarmos com os totais anteriores da máxima autoridade na Federação Russa.
       Dada a duração do predomínio de Vladimir Putin – direta ou indiretamente – de doze anos, é possível ver a inflexão na curva como fenômento que acompanha alentadas permanências no poder, mesmo em países nos quais a democracia não é apenas formal, como  na Rússia.  Dessarte, no fim de seus reinos, líderes ocidentais como o general Charles de Gaulle (fim dos anos sessenta), Margareth  Thatcher (fim dos oitenta), e Helmut Kohl, na virada do século, também arrostaram situações similares.
 

Os percalços republicanos de Obama ...

      Os pré-candidatos à designação do GOP dividem o seu tempo em uma série de debates intrapartidários e anúncios negativos na mídia contra o adversário comum, o presidente democrata.
      É exercício custoso, em que as acusações contra Barack Obama tem discutível compromisso com a verdade factual. Vejam, v.g., a propaganda de Mitt Romney, um dos competidores do pelotão da frente: ‘A maior crise de emprego desde a Grande Depressão.Recorde na perda das casas hipotecadas. Recorde na dívida pública. Obama prometeu dar um jeito na economia. Ele fracassou.’
       Com as velas infladas pela sentença da Suprema Corte ‘Cidadãos Unidos’ que permite às corporações gastar em propaganda política sem qualquer limite, os irmãos bilionários Koch despejam dólares em anúncios negativos contra Obama.
      A estratégia do GOP é a de tentar gravar no eleitor um perfil bastante desfavorável do Presidente. Esse antecipado negativismo, a quase um ano dos comícios de novembro, pode implicar em duplo desperdício de dinheiro – não só os montantes jogados fora com tão baixo escopo, senão no malogro do fim colimado - , na medida em que tais imagens acerbas e contrárias teriam a força relativa prejudicada, na natural deslembrança do americano comum. O que, diga-se de passagem, sob o aspecto ético não seria de lamentar pelo implícito castigo à mendaz deslealdade.
        Com a liberalidade da Suprema Corte, as estações de tevê devem lucrar com esse fluxo de propaganda eleitoreira, que passaria de US$ 2.1 bilhões (na eleição passada) a três bilhões na vindoura.
        Conquanto se antecipe que o Presidente disporá de montante superior ao do seu contendor  republicano, nesse longo espaço precedente à definição dos dois candidatos a vantagem está com o GOP, mormente através da publicidade negativa aberta para entidades direitistas.
        Nesse aspecto, o caráter a um tempo odioso, e de outro, de esmerado profissionalismo político, assinalam, v.g., os anúncios do GPS Encruzilhadas, que obedece à orientação de Karl Rove (quem inventou George Bush júnior). Assim, tais inserções extremamente críticas do Presidente são pontualmente colocadas na mídia estadual e local pertinente quando das viagens políticas de Obama a estados indecisos (swing states), como Colorado, Flórida, Ohio e Pennsylvania. Desse modo, os diligentes consultores republicanos procuram predispor o eleitor destes estados contra a insidiosa propaganda esquerdista de Barack Obama...


... e a gangorra dos pré-candidatos republicanos.   

        A ronda talvez fosse a imagem mais adequada para descrever as progressões dos pré-candidatos ultraconservadores, na sua perseguição do dourado objetivo de designação pela Convenção Republicana como candidato oficial, para buscar tornar realidade o fim tão ansiado pelo lider da minoria no Senado, Mitch McConnell – fazer que Barack Hussein Obama seja presidente de um só mandato.
       Nesse carrossel, a primazia de tais representantes tem sido efêmera. Na verdade, a partida se resume a encontrar uma saída em termos de candidatura que não seja a de Mitt Romney. O ex-governador do Massachusetts se mantém  com os seus 25% nas pesquisas, as suas previsíveis respostas, e o seu profissionalismo como o pré-candidato mais temível. Não obstante, a respectiva moderação inspira desconfiança nas bases republicanas, que prefeririam como campeão do partido em novembro de 2012 um aguerrido conservador, que reduzisse a presença do Estado na economia, e mantivesse a política libertária dos baixos impostos e altos déficits.
       Desafortunadamente, as opções anti-Romney têm tido desempenho decepcionante. Assim, como cometas no firmamento brilham com grandes esperanças, seguidas de acabrunhantes resultados. Foram os casos da deputada Michele Bachmann (Minnesota), ao empatar com Mitt nas prévias do Iowa, para mais adiante voltar ao pelotão traseiro; Rick Perry, governador do Texas, arrebatando o primeiro posto, para logo enrolar-se em desastrosas intervenções nos debates; e, por fim, Herman Cain, o empresário afro-americano, que virou o preferido nas pesquisas, só para atolar-se em acusações de acosso sexual e exceler em sólida ignorância no campo da política externa (talibãs na Líbia ?).
        A atual ressurreição de Newt Gingrich como pré-candidato prova duas coisas pelo menos: (a) o eleitor republicano busca desesperadamente  um candidato para novembro que preencha uma única e solitária condição: não ser o moderado Mitt Romney; (b) para tanto, o militante do GOP está mais do que propenso a relevar antecedentes vistos como negativos no passado, como disto Newt Gingrich é o melhor exemplo.  Derrotado por Bill Clinton ao tentar a chantagem do bloqueio do orçamento – a mesma, com diversos resultados, empregada pela presente liderança republicana na Casa dos Representantes – Newt Gingrich teria final melancólico como Speaker, de onde foi apeado por questões éticas. Consta também de seu currículo a consultoria fornecida a agência Freddie Mac (cerca de US$ 1.5 milhão). Dado o papel desempenhado por essa agência público-privada no escândalo das hipotecas subprime a tal questionável consultoria é mais um peso no currículo do esperançoso pré-candidato.
        Pelas fraquezas evidenciadas, a suposta posição dianteira de Newt tem sido vista como um contrassenso, uma autêntica bolha que se espera vá estourar em breve – para que os desalentados eleitores do GOP tenham de novo pela frente a detestada candidatura de Mitt Romney.



( Fonte:  International Herald Tribune )

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