segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O que fazer do sexto Ministro ?

                                                     

         Enquanto não se der nome aos bois e, em especial,se fizer o afastamento das funções valer na prática com um castigo terminal, os ‘malfeitos’ continuarão a ser chamados assim, com esse pudico pó de arroz, que pretende dissimular a fraude e a corrupção.
        Até a própria ‘faxina’ é mal-aceita pelo partido-mor, que torce o nariz para a suposta exposição de uma das chamadas ‘dádivas’ de Lula, vale dizer a tolerância com a corrupção.
         Um a um ministros da safra lulista ou assemelhados vão caindo na rede dos ditos ‘malfeitos’, com a consequente exoneração do cargo. Tudo é feito com um lenço de seda no nariz. Criam-se as condições para que o indigitado compareça a Palácio – seja por audiência seja por correspondência – e peça demissão da posição ministerial, pretextando escusas.
          Refletindo os padrões éticos vigentes, esta iniciativa é tida como suficiente. Amontoam-se as denúncias, a Polícia Federal e o Ministério Público são acionados, o próprio Supremo pode até acolher ações, mas se nos ativermos aos precedentes toda essa montagem semelha feita com o escopo de derrubar o ministro da vez.
          Pelo visto, os clamores na imprensa, as investigações da P.F.,  a reação do Ministério Público, o desconcerto nas bancadas e os ocasionais grupelhos de representantes éticos (dentro de um mar de surdo silêncio), tudo isso faria parte de um cenário que se conclui pelo afastamento da suposta vítima designada.
          A própria presidência parece de nada saber, a menos que as increpações surjam nas páginas de Veja ou da Folha, por vezes, em reportagem-denúncia no programa dominical de variedades Fantástico, da Rede Globo. Então, como maridos-enganados, agindo como se de nada soubessem, agitam-se as ondas na opinião pública, não falta aos jornalões matéria para cabeçalhos,  encetado-se o escândalo da vez.
        Os processos podem ser rápidos, quando os envolvidos agregam ao peso leve respectivo a volumosa carga de denúncias irrespondíveis, sobretudo se de pouca monta. Então, cai sobre o alvo toda a fúria dessa justiça.
         E podem ser mais longos, quando os atingidos exercem funções mais relevantes, o que tende a acarretar acusações mais persistentes e abrangentes. Se ao peso do ataque já não corresponderem os ganhos secundários de uma resistência de personagem enfraquecido mas não derribado, virá o dia conclusivo, em que as portas do apoio incondicional antes abertas, ora se fecham discreta, mas em comovente consonância.
        Neste país, onde há turbador exemplo em que o parlamentar que cumpre o respectivo juramento ao assumir e desempenhar suas públicas funções se vê forçado ao exílio que, mesmo temporário, cai sobre os corpos legislativos e executivos como uma mortalha, será demais exigir justiça e não um arremedo envergonhado ?
        Os ditos escândalos no Brasil semelham aqueles transitórios acidentes em cloacas e esgotos. Tão logo encerrados pelo conveniente afastamento do personagem catalisador, voltam todos felizes ao quartel de Abrantes, embalados pela crença de que tudo pode tornar a ser como dantes.
        Dirão que estamos diante de um problema cultural. Não é do império e do século dezenove a expressão ‘para inglês ver’ ? Ela designava o que se fazia de mentirinha para aplacar o então poder hegemônico das canhoneiras de Sua Majestade britânica. Algo na linha de um gesto ou providência hipócrita com que o vício fazia a sua contingente homenagem à imperante virtude.
       Será que o Natal mudou, ou tudo permanece na mesma em Pindorama ?
       Enquanto as coisas ficarem pela metade, nessa metódica e fantomática caça aos ‘malfeitos’, se estará adubando para o futuro em que as acusações permanecerão com a presente cláusula suspensiva. A demissão do cargo semelha o mais pesado dos castigos e, por causa desse critério, o indigitado não corre outros riscos de eventual punição. Coitado – ou coitada (não esqueçamos Erenice Guerra, a boa amiga) – já terá pago o suficiente, ao ser destituido em meio a toda aquela rebarbativa gritaria da sociedade civil.
       É estranho que tal silêncio pós-demissão seja aplicado igualmente às vítimas, àquelas que foram abatidas torpemente no bom ( e por vezes solitário )combate. Alguém ouviu falar de homenagens devidas das altas autoridades judiciais à Juiza mártir Patrícia Acioli ?
        Viremos logo a página deste senhor Ministro Carlos Lupi, que tanto aparece na propaganda política obrigatória (e põe obrigatória nisso!).
        Mas a viremos, por favor, com dignidade. Respeitemos aqueles que não hesitam na boa luta. Nos dias que correm, se pode por vezes ter a  absurda impressão de que são importunos, turbando a  plácida fotografia da ordem imperante.



( Fonte subsidiária: O Globo )    

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