quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Notícias do Front (XXIII)

                            
Desafio  gritante ?

     Até o presente, Dilma Rousseff tem lidado com o afastamento de ministros envolvidos em ‘malfeitos’ de forma um tanto envergonhada, em que não toma a iniciativa de exonerar o ministro da vez, e deixa a ele – ou a sua frente de apoio político – a tarefa de forçá-lo a submeter a um rito de passagem que se tornou inelutável e incontornável.
     Parece que no caso do ministro Carlos Lupi, presidente licenciado do P.D.T., se apresenta a primeira prova não só quanto à credibilidade da chamada ‘faxina’ – a que Dilma por um lado torce o nariz, e por outro, se regala satisfeita, dados os dividendos na opinião pública - acerca de seu perfil de mandatária enérgica e ciosa de suas prerrogativas.
     O Senhor Lupi – que está entre os inúmeros ministros ‘herdados’ de Lula da Silva por  Dilma – já configura, no script quase rotineiro da demissão ministerial, o principal desafio à autoridade da Chefe da Nação. Personagem que se movimenta mais nos bastidores partidários do que em matéria de sufrágios, Lupi açambarca espaços com muita desenvoltura. Prova disto está na sua apresentação nos programas e mensagens da propaganda partidária obrigatória, em que a sua figura está sempre presente e, em muitas vezes, ocupa por inteiro a inserção relativa ao PDT.
    Dir-se-á que isto é assunto do âmbito do PDT, o que procede, mas não será decerto improvável assumir que tal tratamento personalista não será do agrado dos representantes políticos pedetistas, por discrepar, de resto, da atitude de todos os principais partidos. E são muitos, como o leitor há de convir.
    Na sua luta pela permanência no poder – como declarou, ele é ‘um osso duro de roer’ – Lupi pode, nesse jogo, não ter mão muito forte, mas não faz segredo de que vá deixar-se afastar com a facilidade dos cinco predecessores.
    Não há outro jeito de interpretar-lhe a declaração: “Duvido que a Dilma me tire! (...) Pela relação que tenho com a Dilma, não saio nem na reforma.”
    São assertivas imprudentes. Como definir então a de que só sairia do ministério “abatido à bala”, como refere o colunista Merval Pereira ?
    De qualquer forma, blefando ou não, há um momento de verdade para a Presidente da República. No caso, semelha difícil que outrem vá retirar-lhe esta brasa do fogo.


 É demissão mesmo ?

     Pelos antecedentes, o quesito se impõe. Silvio Berlusconi – e com maior frequência nesses últimos tempos – tem sido declarado um defunto político por inúmeras vezes. Até ontem, as suas renúncias (ou saidas de cena) haviam sido desmentidas por votações de hitchcockiano suspense, em que o prognóstico generalizado se descobria desmentido por ínfimas – mas determinantes – vantagens nos cômputos das votações seja em Palazzo Montecittorio (Câmara de Deputados), seja em Palazzo Madama (Senado).
      O reino de Berlusconi, com todos os seus apadrinhamentos, escândalos e processos, poderia estar podre, mas lograva sempre sair com um boletim de saúde, se precário na aparência, suficiente na realidade para dar sequência à longa supremacia desta direita farcesca e com tantos indícios de endêmica corrupção. Em verdade,  a trajetória de il Cavaliere lhe terá infundido, em termos de peninsular personalismo, com os seus atos e assertivas que, no que tange a outros mortais, bastariam, em versão isolada, para livrarem a Itália desta era incrível, mas desafortunadamente tão condizente com as piores imagens dessa peculiar escola itálica de governança.
       O episódio presente pode ser o terminal, mas só rematado ignaro em matéria  italiana se aventuraria a escrever-lhe o obituário. O reino de Berlusconi é demasiado longo para que o seu eventual continuismo não venha a suceder. Como em outros transes do passado, o afastamento de Silvio Berlusconi é pronunciado com base em supostas renúncias e ‘traições’. Se a decadência – ou o declínio, que é vocábulo mais leve – já se arrasta por anos, Berlusconi e o monstro que criou, não surgiram do nada. Há muitos indícios de que o relógio do poder de Berlusconi entraria em suas derradeiras horas.
       Antes dos festejos, aguardemos, porém, que ele desça efetivamente os últimos degraus, e entre na planície, onde o aguarda uma chusma de processos judiciários. Como esse filme já foi visto no passado, uma elementar pausa prudencial seria tão oportuna, quanto adequada.
 

Será que Bashar agora favorece o entendimento ?


      As tratativas recomendadas pela Liga Árabe foram desrespeitadas pelo regime alauíta de al-Assad.  Persiste, no entanto,  a resistência da cidade de Homs, a terceira maior da Síria, às tropas governamentais, com dezenas de mortes.
      A estratégia da ditadura síria de estender por um lado o ramo de oliveira (para a Liga Árabe ver), e por outro ensejar que a repressão continue, como se nada fora, tem a desagradável aparência de que esse tenaz e cínico ‘approach’ sirva mais ao tirano do que à causa da liberdade.
      Depois da queda e brutal eliminação de Muammar Kaddafi, a opinião pública internacional semelha à primeira vista cansada da longa primavera árabe. A rebelião no Iemen não logra desalojar do poder o ditador Ali Abdullah Saleh, a situação no Bahrein estaria ‘sob controle’, na verdade sob o tacão dos al-Khalifa e da força expedicionária saudita, e na Síria, do oftalmologista Bashar al-Assad, malgrado haver passado e de muito a marca sinistra das três mil mortes (e o número será muito maior, pela falta de presença da mídia), não faltam motivos de inquietação no que tange às perspectivas do movimento democrático.
      Se a atenção internacional decai – o que favorece Bashar e seus esbirros -, reponta inefável a pergunta de por quanto tempo ainda a resistência democrática na Síria enfrentará, em confrontos desiguais, o regime de al-Assad. Se continuar o presente quadro, de benévola indiferença do sistema internacional democrático quanto à evolução da refrega naquele país, cabe colocar a pesada questão se uma vez mais – como já ocorrera com o pai de Bashar, o general Hafez al-Assad – se há de tolerar que um crime contra a Humanidade – como foi o indisturbado massacre em 1982 na cidade de Hama  - premiará os seus fautores, e condenará as vítimas à persistência no poder do déspota. 

     

( Fontes: O Globo, International Herald Tribune )

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