sábado, 12 de novembro de 2011

Desordem

                                         
      O noticiário dos jornais, em primeira página, mas em coluna lateral, informa que a mancha de óleo no campo do Frade, na Bacia de Campos, que é operado pela multinacional americana Chevron, já atinge cerca de 60 quilômetros quadrados.
     No entanto, segundo se assegura, o risco de a mancha alcançar o litoral fluminense seria pequeno, eis que os ventos estariam cooperando, levando o óleo na direção do alto-mar.
     Ontem, dia onze, a Presidente Dilma Rousseff determinou ‘atenção redobrada e uma rigorosa apuração das causas’. O vazamento, definido de médio porte, ocorrera na quarta-feira, dia nove de novembro, em área a 120 km da costa. Conforme indicação técnica, o óleo está vazando de uma estrutura geológica (rocha submarina) a 130 m de um poço que estava sendo perfurado. Suspensa a perfuração, a explotação de outros poços no campo continua. O campo do Frade é o oitavo campo produtor no Brasil, com média diária de 75 mil barris.
     Consoante informa a diretora de mineração  do Serviço Geológico do Estado do Rio, Debora Toci, apesar de raros, vazamentos a partir de rochas ocorrem. Frisando que tais vazamentos são previsíveis, assinalou que ‘os estudos que precedem a perfuração devem indicar  a vulnerabilidade da rocha, para evitar que acontençam.’
    Acresce notar que o vazamento é de um barril de petróleo por hora, ritmo considerado baixo pelo oceanógrafo David Zee (Uerj). Não obstante, como o foco está a mil metros de profundidade, ainda há petróleo subindo, e, portanto, a mancha deve aumentar.
     Pela profundidade do foco, as dificuldades são incrementadas para os trabalhos de contenção. Nesse quadro, a empresa tenta cimentar o poço que fica próximo à falha geológica, ainda que a produção de outros poços no campo continue.
     Não é necessário ser adivinho para antever que a exploração submarina, feita pela Petrobrás e outras empresas associadas, está sujeita a tal tipo de acidente. A catástrofe ecológica do poço da British Petroleum no Golfo do México é uma incômoda lembrança nesse sentido. Também a tentativa da empresa de cimentar o poço é reminiscente dos intentos da B.P., na sua longa batalha com o vazamento do poço Deepwater Horizon [1]no Golfo do México. Dadas as perdas humanas e a destruição da plataforma, a magnitude do desastre nos Estados Unidos foi bastante maior, mas, no caso presente, semelha muito cedo para prognósticos tranquilizantes no que tange à poluição marinha e das costas, eis que os ventos e as correntes podem ser muito volúveis.
     Outro aspecto que precisa ser sublinhado é a reação governamental que assaz difere da resposta da Administração Obama. Se a gravidade da ocorrência com a BP foi objetivamente maior desde o início, nada aconselha, s.m.j., o enfoque otimista das autoridades, notadamente no que respeita à flora e à fauna aquáticas das costas do estado do Rio, assim como quanto à continuada operação de outros poços pela Chevron no mesmo campo, antes de apuradas as causas do vazamento geológico.
      Por outro lado, em Brasília, se arrasta o caso do sexto ministro, o senhor Carlos Lupi. Muitos já o conheciam pelo vezo de açambarcar a propaganda partidária obrigatória, no que tange ao P.D.T., partido de que é dito presidente licenciado. Com efeito, o partido que coubera a Lionel Brizola, pela maligna intervenção do General Golbery favorecendo a Ivete Vargas na então prestigiosa legenda do PTB, foi esse sucedâneo da ideia de Getúlio Vargas, que ensejara, na consueta habilidade, dois partidos de apoio, o velho PSD (nada a ver com a adventícia formação do Sr. Kassab), pela direita, e o PTB, pela esquerda. Brizola sentiu fundo o golpe que lhe aplicou o feiticeiro, eis que o PTB era legenda respeitável de Alberto Pasqualini e de tantos outros, e nada teria a ver com a agremiação que Golbery tratata de fazer cair benfazeja no colo de Ivete Vargas.
      O senhor Lupi, dirigente militante do PDT pós-Brizola, tem tido nessa enésima crise ministerial atitudes díspares, que vão da ameaça a declarações de amor. Os seus predecessores nesta via crucis de vários ministros herdados da leniente administração do Presidente Lula da Silva terão até tentado agarrar-se à posição, mas nem mesmo Orlando Silva e a turma do PCdoB podem igualar-se às histriônicas estripulias do pesado (por auto-definição) Ministro Carlos Lupi.
     Carões, caras torcidas e reprimendas por mensageiros ministeriais à parte, fica no observador político e na opinião pública uma impressão de fraqueza, malgrado os altos coturnos palaciais. É inadmissível que a autoridade da Chefe da Nação seja tratada de forma folhetinesca. Para tudo há  limite, e muita indecisão, a despeito dos arreganhos, transmite um ar de quem parece intimidada em agir no que lhe compete.  
     Por fim, observações fora de moda sobre o culto dos feriados e, em especial, dessa peculiar figura dos costumes hodiernos chamada feriadão. No Brasil, quiçá pelo excesso legiferante herdado da colônia com as ditas Ordenações Filipinas, se pensa desde muito que a letra da lei deve amiúde passar pela peneira das usanças. Daí, aquela abstrusa expressão, só encontradiça em Pindorama, de que tal ou tal lei não pegou.
     Sem entrar nas vãs lutas contra a burocracia dos cartórios, com sua profusão de firmas reconhecidas et al., há outro fenômeno que a demagogia de governantes e os mores da população tem incentivado. Reporto-me aos feriadões, essas construções sociológicas em que generosas pontes ensejam prolongadas miniférias para os brasileiros.
     Assim como a autoridade federal se curvara a que o horário de verão, ao invés do que acontece alhures, fosse implementado pela vontade dos estados[2] (e não das conveniências de poupança de energia), tampouco se logrou aplicar o que outros países realizam. Dessarte, com a exceção das grandes datas – primeiro de janeiro, primeiro de maio, sete de setembro e vinte e cinco de dezembro – todos os demais feriados devem ser, sem exceção, gozados na segunda feira. Com isso, desaparecem as notórias ‘pontes’, em que se enforcam dias úteis[3]. Tampouco seria admissível esta versão da sociológica hipocrisia do brasileiro – o famigerado ponto facultativo – cuja utilização, pela demagogia e até por inconfessáveis propósitos políticos, só tem feito aumentar.   
        No Brasil, contudo, o bom senso se choca com a tibieza dos governantes. E, assim como nos casos da anomia cartorial, nos deparamos com gente que deveria liderar, mas por falta de personalidade, se deixa gostosamente agregar ao rebanho dos que dizem: é pena, mas essa lei não pegou...



( Fonte:  O  Globo )



[1] Poço Horizonte de águas profundas.
[2] Hoje a questão assinala certa melhora, com a bem-vinda adesão do estado da Bahia ao horário de verão. Mas ainda falta a região nordestina, que também integra a União Federal.
[3] Temos um exemplo nesta próxima semana, com o feriadão do dia quinze, em que se estrangula, com a sem-cerimônia habitual, a detestada segunda-feira.

Um comentário:

Maria Dalila Bohrer disse...

Quanto ao séquito de ministros que estão rolando não tenho tido nem a impressão de fraqueza, nem intimidação por parte da Presidente mas a tática da"fritura para depois despejar..."