quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Comédia ou Farsa ?

                                  
        Por qualquer critério de presidente constitucional, não se pode dizer que o tempo para a demissão do Ministro do Trabalho, Carlos Lupi, não perfez todas as estapas razoáveis, exigidas por Chefe de Estado, não só cioso das próprias atribuições, senão dos direitos putativos de seus subordinados ministeriais, para que se atendam todas as formalidades jurídicas, a par das conveniências da governabilidade.
       Continuar a pretextar falta de condições, a par de encastelar-se no último bastião dos fracos e de seus próximos parentes, os irresolutos, que é  a inadmissibilidade das pressões políticas, será o patético recurso ou do avestruz que, ao enfiar a microcefálica cabeça na areia se acredita magicamente livre de um perigo invisível, ou daqueles que acreditam em estórias da carochinha.
      Pois será que dona Dilma não apreendeu até hoje a condição diuturna do governante que é a de mover-se em um mundo onde as pressões constituem condição tão necessária quanto usual, que condiciona a trajetória de todas as autoridades ? E não se vá transformá-la em avantesmas e bichos de sete cabeças. O fato de serem miríades no dia-a-dia dos poderosos – e de seus parentes burocratas, segundo a lição de mestre Michel Foucault – não as carimba de absurdas ou inaceitáveis. Cabe à autoridade, seja máxima ou mínima, sopesá-las, cotejá-las e inseri-las no quadro da respectiva escolha determinante.
      Eis que é esta uma das funções precípuas de governo, alto ou rasteiro, administrar as pressões, julgá-las quanto à oportunidade e ao mérito, e decidir em consequência!
     Refugiar-se por trás dos muros do próprio cargo e fingir que a inação diante diante de situações de força maior é prerrogativa de governante importa, na verdade, em confissão de fraqueza e de incapacidade psíquica de exercer poderes que lhe são intrínsecos e de que somente a falta de resolução própria será responsável pela consequente omissão.
     Para que o patético do episódio seja página o quanto antes virada, a exoneração do sr. Carlos Lupi é requerida pelo sem número de atitudes inconvenientes, de desatenção não só à liturgia, senão ao próprio respeito devido ao cargo, sem referir-se às repetidas mentiras, o que grita aos céus a urgência de demitir ad nutum – não servirá de nada a letra da Constituição ? Quem muito protela e quem muito hesita, se vê amiúde submetida a cobranças antes impensáveis, a partirem de comissões que até o presente se tinham pautado pelo dócil silêncio ou por bem-comportadas ponderações.
     Fazer-se de desentendida e ignorar a recomendação da Comissão de Ética, pela voz de Sepúlveda Pertence, será transformar a tal de faxina não só em fantasia publicitária,  mas mostrar quão tímida e indecisa pode ser ao pilhar-se confrontada por um dever do ofício: tomar da caneta e nomear ou demitir quem julgue deva ser assim tratado, sem esquecer que cinquenta e cinco milhões de brasileiros a puseram nesta curul.
     Dessarte, depois de exonerar de suas funções o senhor Carlos Lupi, o faça suceder por algum outro político, seja do PDT ou do PT, que Vossa Excelência repute indicado para atender a seus deveres constitucionais.
     E, por favor, ponhamos um ponto final nessa interminável novela, para evitar-se, em respeito ao alto cargo, que a respectiva audiência no público caia ainda mais.



(Fonte subsidiária: O Globo )  

Nenhum comentário: