quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Qual a base das previsões otimistas ?

                              
          Segundo alguns analistas, o aumento do salário mínimo – de R$545 para R$622 – terá efeito benéfico na economia, dada a substancial injeção no consumo, a partir da ativação nas compras nas classes C, D, e E.
          No entanto, consoante o próprio noticiário especializado recorda, há um certo viés para o otimismo nas previsões do mercado. Nesse sentido, as projeções para 2011 erraram para mais tanto no crescimento do PIB – estimado em 4,5% , quando seria de 2,9% - quanto para menos na inflação – orçada em 5,32%, e na verdade, de 6,54%.
          Qual será o efeito deste salto no valor do mínimo, com um incremento absoluto de R$77, no seu montante total ? Além do acréscimo no déficit da previdência, dada a indexação das aposentadorias sobre o salário mínimo, a maior disponibilidade na remuneração para as classes de menor renda não só alavancará o respectivo consumo, mas também será fator positivo para o aumento da produção industrial brasileira ?
          Assinale-se que um dos maiores equívocos nas estimativas de 2010 para 2011 residiu na produção de nossa indústria, estimada em 5,30%, e, na verdade, reduzida a um inquietante 0,82%. Se a apreciação do real continuar, assim como a incapacidade efetiva de lidar com a concorrência das importações – notadamente chinesas, com o artificialmente depreciado renminbi – o resultado desse fluxo artificial na quantidade disponível de reais na economia resultará no aquecimento dos preços e, por conseguinte, em incremento da inflação.
          Em nosso passado inflacionário, esta foi a reação provocada por aumentos substanciais no salário mínimo, mormente se a oferta de bens de consumo permaneceu estável. Nesse contexto, não tranquiliza de certo o cálculo do novo salário mínimo, cujo valor para 2012 se objetivou superar de muito o índice inflacionário que, seja dito en passant, já fora bastante superior àqueles a que, por longos anos de uma correta gestão economico-financeira, tinham prevalecido por um bom período.
          De nada vale inchar o salário mínimo se preexiste um viés inflacionário para a economia. Com o desenvolvimentismo de dona Dilma – e a sua tendência de ‘enfrentar’a carestia com frases rituais como ‘manter a inflação sob controle’, ao invés de atacar-lhe as causas (e de fazer o dever de casa) – tudo isso não é de molde a infundir demasiada segurança sobre as perspectivas reais do IPCA e dos outros índices inflacionários.
          Enquanto o governo – e por governo me refiro especificamente às autoridades fazendárias e do Banco Central – não lograr superar esse desafio representado por um real que tira a competitividade de nossa indústria, com a consequente invasão da produção chinesa, as nossas perspectivas poderão insuflar um ocasional oba-oba causado por um artificial aumento do PIB, mas não nos trarão o vigor necessário para vencer o verdadeiro desafio do crescimento econômico.
          A nossa economia continua a evidenciar uma secular tendência para pontificar nos produtos de base - as chamadas commodities – caracterizados por maior vulnerabilidade em relação aos ciclos econômicos. Assim, a despeito da propaganda triunfalista oficial, o Brasil continua em termos macro-economicos como um país de là-bas, exposto decerto aos ventos e rajadas das crises.
        Enquanto não criarmos uma sólida indústria nacional de bens de capital e de consumo durável em nosso país não nos devemos enganar seja sobre as propriedades taumatúrgicas de índices salariais, seja sobre os efeitos cambiais de nossa hiper-valorizada divisa.
         Ou será que nos contentaremos sempre com o esquema das denominadas feitorias, vale dizer indústrias de média tecnologia, destinadas especificamente a bombar  para o exterior a mais-valia de suas sucursais, máxime as da indústria automobilística de terceiro-mundo (em especial no que tange ao gritante defasamento tecnológico em matéria de respeito ao meio ambiente) ?



( Fonte:  O  Globo)

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