domingo, 11 de dezembro de 2011

Colcha de Retalhos XCIX

                       
A dança dos pré-candidatos do GOP

       O comportamento dos militantes do Partido Republicano neste início da campanha presidencial evidencia as seguintes características: (a) cerca de 25% daqueles que pretendem votar em candidato republicano para Presidente favorecem o ex-governador do Massachusetts, Mitt Romney; (b) entre 30 e 25% se tem orientado, nos últimos seis meses,para outro candidato; (c) esta segunda parcela de sufragantes está formada pela rejeição ao pré-candidato Romney, e tende a orientar-se para aquele postulante que aparente melhores condições de receber a designação pela Convenção do GOP.
        Como se verifica, uma primeira prévia de julho, assinalou que a deputada Michele Bachmann dividia a liderança dos pré-candidatos com Romney. A permanência de Bachmann, a queridinha do Tea Party, à frente da disputa foi fugaz. Mais do que imprecisões nas suas assertivas, foi determinante para a sua queda o respectivo radicalismo.
        Na qualidade de virtual candidato a empolgar a convenção, tomou conta então do noticiário o governador do Texas, Rick Perry. Como Paul Krugman o referiu, este se perdeu pela boca, através de decepcionantes performances nos debates, além de gafes, como a sua incapacidade de dizer qual seria uma das agências governamentais que, se presidente, extinguiria, como acabara de anunciar.
       Seguiu-se o afro-americano Herman Cain, que caiu no goto da maioria republicana, pelas suas ideias simples, como o 9-9-9 à guisa de percentual dos principais impostos. Foi derrubado pela série de denúncias, feitas por louras, de acosso sexual, e também pela garrafal ignorância em termos de política externa (v.g., colocando os talibãs na Líbia).
       Agora, as preferências das bases republicanas se orientam para Newt Gingrich, o antigo ideólogo do Contrato com a América (que dera, em 1994, a maioria na Câmara e no Senado ao GOP). Elevado a Speaker, Gingrich seria vencido por Bill Clinton na tribunal da opinião pública, quando de sua tentativa de fechar o governo. Em seguida, seria forçado a renunciar à presidência da Câmara por envolvimento em escândalos.
      Durante a presidência de George Bush foi regalado com um consultoria junto à empresa Freddie Mac (posteriormente chamuscada na crise das hipotecas subprime). Tem tentado explicar o substancial montante (que oscila entre US$ 1.6 e US$ 1.8 milhão) rendido por seus pareceres.
        Antes considerado sem maiores possibilidades, como apenas um do pelotão, a atual posição de Newt Gingrich se afigura, no que tange ao permanente segundo colocado, Mitt Romney, como uma evolução deveras patética.
       Preferir Gingrich como candidato, malgrado o seu curriculum vitae, e  sua fragilidade diante de revisitas aos escândalos anteriores que lhe marcaram a carreira política, parece menos uma adesão às suas qualidades, do que uma reiterada negativa a endossar como inevitável a candidatura do ex-governador de Massachusetts.
        Na verdade, cerca de dois terços dos prováveis eleitores republicanos têm demonstrado, de modo consistente, que votariam em qualquer candidato do GOP para presidente, desde que não seja Mitt Romney. Não confiam em Romney como pessoa, por mudar de posição de acordo com contingências de oportunismo. Exemplo disso é o fato de que o abominado (pelos republicanos) Obamacare (a grande reforma da saúde aprovada com exclusivos votos democratas em 2010) é quase uma cópia de uma reforma sanitária vigente no estado de Massachusetts, e que foi sancionada quando o dito Mitt Romney era governador daquele estado.
         Tampouco o rank and file republicano (a arraia miúda do partido) põe fé nas convicções conservadoras de Mitt. Julgam muito provável que na Casa Branca trairia os presentes ditames partidários que preconizam um estado menor, com menos impostos (de preferência taxar os pobres, mas nunca os ricos), e outras posturas do mesmo jaez.
          Em resumo: os republicanos procuram desesperadamente um candidato presidencial que não seja Mitt Romney. Os malogros precedentes tendem a indicar que tal propósito não é de fácil implementação. Por outro lado, o mais pitoresco é que o ex-governador de Massachusetts encontra, por ora, a porta fechada para a indicação, menos por causa do seu caráter, do que pela carência de títulos que o acreditem como conservador de boa cepa.

        
A Reação Democrática na Rússia


          Apesar dos intentos de Vladimir Putin de usar a carta patriótica – acusando a Secretária de Estado Hillary Clinton de intromissão nos assuntos internos russos – a deslavada fraude eleitoral no pleito para a Douma (Câmara baixa) na Federação Russa provocou revolta na opinião pública, e alavancou uma demonstração de protesto que não se via em Moscou desde os tempos de Boris Ieltsin.
       Cerca de cem mil pessoas enfrentaram a polícia de choque, para manifestar-se contra esse desrespeito ao cidadão e à democracia, que é a fraude nos sufrágios, realizada de maneira insolente e quase às escancaras.
       Vladimir Putin terá sentido o golpe. O ex-agente da KGB pensará acaso lidar com manifestações de eleitores – que é um dos direitos basilares da democracia – apelando para a intervenção da polícia de choque ?
       É até certo ponto irrelevante se o número de manifestantes foi de cem mil ou de cinquenta mil.  O importante foi o erro cometido pelo presente Primeiro Ministro, no mínimo fazendo vista grossa à adulteração ultrajante do resultado das urnas.
      Sabemos que a estruturação da democracia russa dificulta ao extremo a apresentação de candidaturas viáveis à presidência, que não aquelas do establishment, assim como dos partidos tolerados, e que se prestam à composição de um cenário supostamente democrático. A referência ao partido Rússia Unida se encontraria no México em que o Partido Revolucionário Institucional era ladeado por partidos menores, que estavam ali dar credibilidade a eleições trucadas.A ironia no caso do México foi que dessa oposição tolerada – no caso, o PAN – surgiria candidato que derrotaria o PRI.
       Assim,  prender manifestantes que se pronunciam contra a fraude eleitoral pode representar, para Putin, um tiro que lhe saia pela culatra.
        De qualquer forma, a última eleição manchou a imagem de Vladimir Putin e a sua aura de esmagadora popularidade. O espírito democrático é adversário ardiloso, capaz de inventar rivais credíveis, onde antes só prevalecia a húbris e a arrogância dos poderosos.


O Agravamento da Crise na  Síria


        A despeito de asserções do Presidente Bashar al-Assad – que, supostamente, não tem nada a ver com ordens para matar – continuam os massacres de manifestantes na Síria.
       O caráter autista do regime sírio – e em especial do Presidente al-Assad – é um traço que tem marcado as suas manifestações oficiais. Da tribuna da assembléia, sob os aplausos do público oficialista, Bashar prometeu abolir leis e promover a abertura do regime. A vigência de tais promessas do bom Bashar, no entanto, só valia no interior daquele recinto. Como  nunca tiveram qualquer consequência prática no restante do território, não espanta que não exerceram qualquer efeito prático no desenvolvimento da insurgência. Ou melhor, contribuíram para acirrar ainda mais os ânimos.
       Nos últimos dias,  pelo menos catorze pessoas morreram, malgrado afirmativas oficiais de que os comícios pacíficos seriam admitidos. Dessas vítimas, nove foram abatidas em Homs, havida como o centro da resistência ao regime. As palavras de ordem, escandidas pela multidão, incluíam ‘a Síria quer a liberdade’ e ‘Bashar é um inimigo da humanidade’.
      No contexto dos protestos populares, o Ministro do Exterior turco, Ahmet Davutoglu, advertiu o governo sírio de que a Turquia agiria para proteger-se se a repressão governamental síria sobre os manifestantes pela democracia provocasse uma onda de refugiados em suas fronteiras.
      A autoridade turca não precisou que ação seria tomada, mas deixou claro que não hesitaria em isolar a região do tumulto no interior da Síria: “A Turquia não pretende interferir nos assuntos internos de quem quer que seja. Mas se surgir um risco para a segurança regional, então não podemos contemplar o luxo de assistir sem tomar nenhuma providência”.
     As perturbações na Síria começaram em março último. Desde o início, a resposta default[1] do governo sírio foi o recurso a armas letais, cerca de 4500 vítimas fatais caíram nos nove meses do levante.  Centenas de sírios atravessaram a sua fronteira sul com a Turquia e hoje engrossam campos de refugiados.
      Consoante as estórias do Presidente Bashar, se houve alguns ‘erros’, o número de baixas se localizaria sobretudo nas suas forças de segurança, que sofreriam ataques de ‘gangues de terroristas armados’, cuja motivação seria insuflada por influências estrangeiras não-identificadas.
       As sanções internacionais contra o governo Bashar al-Assad na Síria foram impostas pela Liga Árabe, pelos Estados Unidos e a União Europeia. Não tem sido possível extrair outra coisa do Conselho de Segurança das Nações Unidas senão declarações sem qualquer impacto ou efeito prático. As resoluções com os dentes das sanções são inviabilizadas pela ditadura da República Popular da China e pelo regime autoritário da Federação Russa, ambos munidos do direito de veto. O Primeiro Ministro Vladimir Putin – que deveria talvez cuidar mais das ameaças internas ao respectivo poder – advertiu o Ocidente a não interferir nas questões sírias.




 ( Fontes:  Folha de S. Paulo, International Herald Tribune )



[1] rotineira.

Um comentário:

Maria Dalila Bohrer disse...

Me parece que esta falta de candidatos consistentes do Partido Republicano só favorece o candidato do Partido Democrático porém paira no ar a dúvida se a vitória do Obama será fácil?

Em outras épocas eu tinha grandes ilusões sobre as conquistas da classe operária da União Soviética. Depois de tantas divisões criando-se novos países, muitos deles massacrados pela Rússia mudei de opinião. O autoritarismo dos tempos de Stálin continua em "moldes modernos". Não tenho boa impressão deste Putin.