sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Cameron e a Cúpula de Bruxelas

                         
          Atualização do  blog  A Chanceler  Merkel e a Cúpula Europeia 

          Infelizmente, o Primeiro Ministro David Cameron não soube sair do risco de giz que o torna o ‘homem de fora’ do consenso europeu sobre a necessidade de novo acordo para resolver o problema da divida continental.
         Na quarta-feira, Cameron dissera para um agitado parlamento que o seu principal objetivo em Bruxelas seria ‘buscar salvaguardas para a Inglaterra’ e ‘proteger o nosso interesse nacional’.
         Não parece difícil imaginar o irônico sorriso de De Gaulle – que vetara por sentida incompatibilidade de interesses a adesão do Reino Unido à antiga Comunidade Econômica Europeia (CEE), que é a antepassada da atual União Europeia.
         Cogitando apenas de defender o próprio interesse, a posição de Cameron discrepava acintosamente das prioridades europeias  que presidiam à reunião emergencial.
         Pela sua postura, Cameron só contribuíu para marcar ainda mais o respectivo isolamento.  Sarkozy já sintetizara no passado imediato o pensamento da maioria dos líderes europeus: “Estamos cansados de suas críticas e de suas tentativas de nos dizer o que devemos fazer. Você disse que odeia o Euro e agora quer interferir em nossas reuniões.”
        A grande preocupação inglesa é a saúde de sua indústria financeira, um motor importante para a economia inglesa, a que se encara como vulnerável para novas regras europeias que podem prejudicar a competitividade britânica nos mercados globais.
       Como se antecipava, e a despeito das dez horas consagradas a tentá-lo trazer para o consenso europeu, Cameron não pôde impedir que ao arrepio de seus intentos, o consenso dos lideres europeus sobre o acordo prévio de novo tratado intergovernamental com vistas a aprofundar a integração dos orçamentos nacionais. Foi unânime a aprovação pelos dezessete da zona do euro. Quanto aos demais países membros da U.E., seis já se manifestaram a favor. Três outros  - a República Tcheca, Hungria e Suécia – condicionaram o exame à apreciação pelos parlamentos respectivos.
       Confirmou-se, assim, o prognóstico de que Cameron e o Reino Unido se auto-excluiriam, como o impotente espectador de um acordo que se fazia à sua revelia.
      A causa central do dissídio foi a exigência do Primeiro Ministro inglês que tornasse opcional a participação do setor de serviços financeiros. O ‘waiver’[1] requerido pela Grã-Bretanha, consoante Sarkozy, “minaria o muito que já se fez para regular o setor financeiro”. Nesse sentido, aduziu o Presidente francês, os países da zona do euro, assim como “qualquer um que queira juntar-se a nós” levaremos adiante o projeto do novo tratado intergovernamental.               
       Como se vê, os interesses econômicos e as qualidades dos líderes respectivos tendem a criar novas alianças e a desfazer as antigas. A chamada ‘entente cordiale’ que por tantos presidiu às relações entre França e Inglaterra, agora semelha um fantasma do passado.
      Salvo desenvolvimentos hoje imprevisíveis, Cameron voltou a selar a insularidade britânica, e os seus interesses peculiares, que muita vez a colocaram  em rota de colisão com os países do Continente.
      Deparamos – ou melhor, entrevemos – um novo cenário histórico, que a dizer verdade guarda muitos traços comuns com a união econômica perseguida por Napoleão do Continente europeu contra a Grã-Bretanha. Desta feita, os países da Europa continental se agregam não pela força, mas movidos pelos próprios interesses econômicos e financeiros nacionais.
      E à testa desse agrupamento a Alemanha de Frau Merkel e a França de Monsieur Sarkozy.
      Assim como o velho general, outro militar que fez carreira política, i.e., Napoleão Bonaparte não julgaria o novo avatar uma má ideia.



( Fontes:  CNN, International Herald Tribune )  



[1] licença de exclusão

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