domingo, 18 de dezembro de 2011

A Hora da Verdade

                                   
                                    
      Barcelona 4 x 0  Santos não foi placar exagerado para a final do Mundial de Clubes, no campo de Yocohama, que já vira um time brasileiro de melhor técnica.
     Depois das derrotas sofridas na Copa do Mundo, assim como em partidas amistosas, ninguém em sã consciência, pode imaginar o nosso futebol com a antiga supremacia sobre os demais.
     Se temos ainda alguns valores exponenciais – e Neymar será o principal – tanto a seleção nacional, quanto os principais times brasileiros não mais desfrutam da diferença qualitativa que lhes assegurava, no passado, além do respeitoso temor dos adversários, a certeza da vantagem no conjunto.
     Cabe à mídia repisar o otimismo de outrora, e apresentar aos olhos do público o jogo desta manhã como partida em que o Santos tinha condições paritárias de vencer ?
     Para o torcedor nacional, depois de todo o oba-oba em torno do craque Neymar, o que restou, além do amargo ressaibo de humilhante derrota, infligida com tranquilidade pelo Barça ?
     Ficou a consciência de que o Santos entrou muito mal preparado em campo. Parecia um conglomerado de joãos[1], que se deixou sufocar pela linha de passes do time espanhol. A posse de bola já diz quase tudo: 72 % para os espanhóis, 28% para os brasileiros !
     O técnico adversário, Josep Guardiola, não fez qualquer mistério sobre a tática de sua equipe, que seria a de sempre. Reter a bola a maior parte do tempo, com o que reduz ao mínimo a periculosidade dos contendores. A arma principal do Santos, Neymar, seria anulada desta forma. Sem empáfia, com serena objetividade, Guardiola cantou o que sucederia. Se a bola não chega redonda a Neymar, a sua classe e inventividade ficam prejudicadas. Daí se explica o que fatalmente haveria de ocorrer.
    Agora, o Barcelona avulta inconteste como a principal equipe. Manter o controle da bola ( e restringir-lhe a posse ao adversário ) não se consegue com sorte ou  magia. A armação pressupõe um grande afinco na distribuição dos jogadores no campo, a par de  invejável domínio da bola e da perfeição nos passes. Não é um desenvolvimento que surja do dia para a noite. Pressupõe muito trabalho, treino e qualidade técnica de todos os jogadores.
    A torcida do Santos não está errada quando culpa Muricy Ramalho pela acachapante derrota. A sua principal falha foi, na prática, haver desconhecido essa característica básica do Barcelona. Como bem lembrou um dos comentaristas da Rede Globo, sómente o Paraguai, na última Copa, pela tática de dificultar ao máximo a armação da seleção espanhola (de que o Barcelona é a base) logrou endurecer o jogo com a Espanha. Dada a enorme diferença na técnica, isto não é conseguido sem grande desgaste físico, e não constitui decerto garantia para vitória.
      Mais do que revolta, causa tristeza ao torcedor contemplar a garrafal discrepância entre o jogo do Barcelona e o do Santos que mal conseguia sair do próprio campo, trocando nervosos e imperfeitos passes entre os volantes, e muita vez, ou perdendo no próprio lado a posse da bola, ou a recuando em desespero para o goleiro, que se encarregaria então do chutão para a frente.
      E aonde ela iria acabar ? Nos pés dos jogadores do Barcelona que em matéria de habilidade pareciam ser os brasileiros de outrora, enquanto o nosso time de joãos não era capaz de articular as jogadas que distinguiam os nossos conjuntos (e seleções) do passado.
      Tornou-se de uns tempos para cá um vezo dos locutores e comentaristas tentar adoçar a pílula dos malogros antes impensáveis, com o pedido de carona quanto à equipe estrangeira vencedora: vejam só, faz parte do time também um brasileiro (no caso em tela, Daniel Alves) !
      Ou levamos a sério a necessidade de reformular a armação e a técnica de nossas equipes, ou estaremos destinados a ser os fregueses da vez para as principais equipes mundiais.
      O que se viu hoje em Iocoama é uma receita de fracasso. A nossa decantada habilidade no controle da pelota deve ser recuperada, não nos ‘passes’ laterais dos volantes e nos chutões dos beques e goleiros, mas através de um treinamento sem modéstia. Com efeito, de mestres passamos a aprendizes, que carecem de absorver e pôr em prática o que os espanhóis já fazem.
      Um pouco de humildade e de diligente aprendizado nos há de calhar muito bem. Se pensarmos – como sói ser a atitude habitual – que tudo se deve à má sorte, então será hora de apertar o cinto e preparar-se para outros vexames, como este com que o Santos  acaba de nos brindar.    



[1] Como Garrincha denominava os seus anônimos (e infelizes) marcadores.

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