Segundo
o Economist desta semana duas conclusões se impõem: o plano
do Governo Trump de derrubar o regime de Nicolás Maduro não dá (a), por ora, a
impressão de uma força já em movimento (versão otimista), e (b) até mesmo não
se poderia excluir que possa, em fim de contas, falhar.
A
estratégia americana inclui (i) o
reconhecimento como presidente interino da Venezuela de Sr. Juan Guaidó (54 países já o
reconhecem como tal); (ii) sanções mais pesadas. As medidas contra a PDVSA, o
monopólio estatal do petróleo, já sustaram as suas exportações para os EUA. Sem
o seu melhor cliente, a PDVSA se vê forçada a vender o petróleo para
consumidores mais longínquos, v.g. Índia, com lucros menores. Também as medidas
americanas dificultam a aquisição de diluentes, de que a PDVSA carece para
processar o seu óleo pesado. Essa medida
causou em grande parte os cortes de energia nas usinas venezuelanas (apagões),
com pesadas e conhecidas consequências sociais sobre o dia-a-dia em muitos
centros populacionais do país, inclusive Caracas.
Dando prosseguimento a essas medidas disruptivas, o Tesouro americano juntou o Banco de Desenvolvimento da
Venezuela como mais uma entidade com que as instituições financeiras americanas
não podem manter contatos de qualquer espécie. Segundo autoridade estadunidense
de alta categoria, isso equivalerá a "encerrar toda a rede de transações
em dólar americano. Por outro lado, membros do regime chavista e seus
familiares - alguns dos quais estudam em universidades americanas - tiveram as
suas contas bancárias bloqueadas e seus vistos revogados.
O terceiro tentáculo está na ajuda humanitária. Como é do conhecimento
geral, a tentativa de transportar ajuda através das fronteiras - tanto com a
Colômbia, quanto com o Brasil foram bloqueadas com facilidade pelo regime. A
alternativa será dada pela Cruz Vermelha - como já referido em blog desta semana - que estará dando
assistência em uma escala similar àquela de destinação para a Siria, para cerca
de 650 mil pessoas. Aceitar a recepção dessa ajuda já é uma concessão tácita do
Señor Maduro, que no passado sempre desmentira a existência da emergência
sanitária. Ainda nesse contexto, a Administração Trump busca aumentar a
capacidade da "equipe" de Juan Guaidó para reconstruir a Venezuela.
Dentre tais providências que visam incrementar o papel de Guaidó se inserem, em
sentido contrário, as várias medidas chavistas já mencionadas pelo blog no sentido de desestruturar o grupo
do presidente interino.
Como o Economist reconhece,
até o presente, o Exército e as demais Forças Armadas venezuelanas continuam a obedecer o governo
Maduro, ainda que haja fortes indícios de que o chavismo ou não mais confie
nelas,ou ainda acredite em medidas de intimidação. Unidades do exército tem o seu armamento
trancado à noite, e o seu combustível
racionado, de acordo com funcionário americano.
Há videos de oficiais dissidentes sendo torturados, segundo revelado por
um antigo agente de inteligência. Por isso, o governo usa forças pára-militares
para suprimir manifestações e prender
ativistas da oposição. Também nesse sentido, funções de segurança são delegadas
a agentes de inteligência cubanos, e o governo Maduro se serve desses funcionários
cubanos - estimados entre dois a cinco mil - como espias e pessoal de
segurança para a prevenção de levantes
militares. Nesse sentido, segundo William
Brownfield, um antigo embaixador em Caracas, eles estariam inseridos na cadeia
de comando, com autoridade de dar ordens.
Não é decerto mistério e também o corrobora a Administração Trump, o
regime Maduro está mais fraco e a
oposição, mais forte do que em princípios de 2019. Nesse sentido, está ficando
difícil para Maduro governar, o que para essa fonte seria uma progressão dentro
de um processo existente.
Apesar dessa previsão
otimista, há indícios de que a Oposição está perdendo a determinação e a força
inercial. O ambiente na Venezuela, com cortes de luz e consequentes falta
d'água, não é algo que inspire otimismo. Instituições americanas constataram
crescimento de mortes de mães e recém-nascidos, o avanço de doenças como sarampo, difteria e tuberculose, além de
altos níveis de desnutrição infantil. Para as autoridades, é óbvio que as
ações aumentarão as dificuldades e, por conseguinte, levarão ao aumento da
emigração.
A opção militar, a
despeito da recusa de Trump em admitir a sua exclusão, não é de molde a
inspirar uma ação rápida e determinante, como foi v.g. no Panamá, contra o
regime Noriega, no tempo do senior
Bush. Como o Economist assinala, a
invasão convencional de um país duas vezes maior que o Iraque, e com muitos
civis armados representaria uma ação militar maciça e arriscada, ainda que Mr
Brownfield sugira que alguns emigrantes venezuelanos poderiam
transformar-se em guerrilheiros contra o
regime.
A alternativa,
consoante o Economist, está em pôr mais ênfase na negociação, e ao
mesmo tempo encorajar a América Latina e a Europa em aumentar a pressão, pelo
congelamento dos bens dos líderes chavistas.
Nesse sentido recorda que Maduro instrumentalizou em 2015-16
"conversações de paz" para ganhar tempo e dividir a Oposição.
Se bem que a
parte estadunidense diga que o único tópico para discussão com o Señor Maduro e
seus cupinchas seria uma discussão sobre as condições de sua partida, a alternativa da realização de eleições
livres surgiria como inelutável, e, nesse sentido, todas as partes, inclusive o
governante movimento chavista, deveriam ser incluídas.
Lembra-se,nesse
sentido, que todas as transições democráticas na América Latina - excetuada
Granada e Panamá, países menores que foram invadidos pelos Estados Unidos -
foram resolvidas através de um processo de negociação.
(
Fonte: The Economist )