domingo, 25 de agosto de 2013

Colcha de Retalhos A 31

                                       
A Triste Estória dos Médicos Cubanos

      Cuba, a gerontocrática ditadura dos irmãos Castro, sempre foi uma fraqueza de Lula da Silva, que lá costumava aparecer amiúde, para pedir a bênção socialista de Fidel Castro.
      Todos sabemos que o Brasil tem um sério problema com a saúde de seu povo. Os privilegiados, como o ex-presidente, quando carecem de cuidados médicos, tratam de  internar-se, de preferência, no Sirio - Libanês, ou no Einstein.
      No SUS[1], nem pensar. Entra ano e sai ano, e tudo continua na mesma. Em época eleitoral –  cuidado cidadão, que 2014 vai sê-lo – chovem as promessas de melhor atendimento, e as pirotecnias, como as famosas UPAs do governador Cabral !
      A corrupção de um lado, e de outro, a velha incompetência acoplada com a indiferença das elites, tratarão de vender ao povão gato por lebre, e dizer, por enésima vez, que desta feita tudo será diferente...
      Surpreendeu, no entanto, que o regime petista tenha pensado recorrer aos médicos cubanos para tentar resolver, inda que seja pelas bordas, o problema da falta de tratamento clínico de que padecem as populações interioranas. Não é que não haja deficiência nas principais cidades, mas pelo menos aí existem estruturas – que podem ou não estar disponíveis.      
      Já em certas faixas do Brasil profundo, o problema muda, pela falta de médicos e de ambulatórios. Será para esse desafio que o Ministério da Saúde resolveu apelar para o corpo médico estrangeiro. Chamam a atenção as regras para os médicos cubanos.
      O exemplo que estão imitando é o venezuelano. Para a sua extremada admiração pelo regime cubano, não havia limites para o Coronel Hugo Chávez Frias.
      Por isso, uma tal associação entre Havana e Caracas tornaria compreensível e quase natural, um contubérnio do gênero. Os pobres médicos cubanos são tratados como gado. O regime a que estão sujeitos é o de servos da gleba. O acordo entre os dois governos, quiçá acertado muito antes de divulgado pela imprensa, possibilita que esses profissionais venham para o Brasil,mas sem família e sem dinheiro. O seu salário não lhes concerne, eis que o Brasil paga, de forma indireta, para o governo cubano o montante global. Depois, Cuba manda para cá uma parcela do total, quase uma mesada. Entrementes, para alimentar-se o médico depende da generosidade do município respectivo a que estará alocado.
      Que o governo de um país que se diz democrático e constitucional, possa tolerar um esquema desse teor, em que a exploração do profissional aparece por todo o lado, é uma página das mais deploráveis do governo brasileiro. Mutatis mutandis, nem no regime militar há  exemplo que se lhe compare, eis que, por toda parte repontam os desrespeitos à legislação.
       O Brasil não pode pactuar com essa afrontosa operação dos médicos cubanos. É um acinte contra os direitos humanos, e a sua eventual duração seria prova eficiente da existência ou não de Justiça neste país.[2]
 

Ataques ao Grupo Femen

 
         O  Grupo Femen, nascido na Ucrânia, multiplica-se em vários países, nas suas desenvoltas demonstrações em prol do gênero feminino, e das diversas limitações e abusos de que sofre por esse mundo afora.
         Até no Brasil, no Rio e em São Paulo, os protestos femininos ocorreram da forma que constitui a sua marca registrada, vale dizer os seios expostos, e de preferência diante de algum empertigado formalismo oficial.
        Foi assim, por exemplo, em importante feira comercial na Alemanha, e defronte não só de Frau Angela Merkel, mas sobretudo de gospodin Vladimir Putin, a quem o exercício visava especialmente, quem sabe, talvez, pela prisão e condenação de jovens moscovitas, que tinham encenado rápida demonstração em igreja ortodoxa.
        Agora, na terra do Presidente Viktor Yanukovych, três dirigentes do grupo Femen sofreram em Odessa um violento ataque de desconhecidos. Com efeito, Anna Hutsol e Alexandra Shevchenko, assim como Viktor Svatsky, foram surrados em Odessa, no pátio do prédio em que estavam arranchados. 
       É a quinta investida de que o grupo Femen sofreu nas últimas semanas. No mês passado, Svatsky sofreu sevícias perto do escritório em Kiev, e teve de ser internado por duas semanas em hospital. Também sofreram golpes a Shevchenko, mais duas mulheres do Femen e um fotógrafo, além de passarem a noite na prisão.
      Diante da situação, e das tropelias que sofre, o Grupo Femen dirigiu-se ao Ministro do Interior Vitaly Zakharchenko, solicitando a concessão de segurança integral. “De outra forma, ativistas de Femen correm perigo mortal”.
      Tudo indica que a intenção do Governo Yanukovych é a de forçar a expatriação do grupo Femen, que se afigura demasiado incômodo para o regime.


Uma estranha Maracutaia Legal

 
       Pensa-se, por vezes, que, em termos de vigarices, não há limites para a imaginação brasileira. No entanto, pelo resumo que acredito oportuno fazer de artigo de  Sarah Stillman,   publicado em The New Yorker, de 12 e 19 de agosto de 2013, há concorrentes sérios na terra de Tio Sam.
         Numa tarde de quinta-feira em 2007, Jennifer Boatright, garçonete de bar de Houston, dirigia o seu carro, levando os dois filhos e o namorado, Ron Henderson, na estrada 59 no caminho de Linden, a cidade natal de Henderson, perto da divisa entre os estados de Texas e Lousiana.
         O casal fazia tal viagem em Abril, para passar temporada com o pai de Henderson. Naquele ano, os dois tinham decidido  comprar um carro usado em Linden, e por isso colocaram a poupança em espécie no porta-luvas do carro.    
         Após uma paradinha em um mini-mercado de Tenaha, para beliscar uma merenda, o casal Boatright (uma redneck[3]) e Henderson (de origem latino-americana) achou esquisito que a viatura policial, antes parada no parking, os estava seguindo. Perto da divisa da cidadezinha, o policial Barry Washington forçou o seu acostamento. Perguntou de saída se Henderson, sem ultrapassar, se dera conta de dirigir na pista da esquerda, e por mais de oitocentos metros? Diante da negativa, o policial perguntou se havia droga no carro. O casal negou, Washington e seu auxiliar procederam a uma busca no veículo. Encontraram o dinheiro e um cachimbo de vidro porcelanado que a Boatright  disse ser presente para a sua cunhada. A família foi então levada para a delegacia.  Lá toparam com duas mesas cheias de jóias, DVDs, celulares, e coisas do gênero.
          De acordo com os policiais, o casal tinha o perfil dos correios da droga. Estavam viajando de Houston (“um ponto conhecido para a distribuição de narcóticos ilegais”) para Linden (“um lugar conhecido para receber narcóticos ilegais”). O relatório policial descreve as crianças como possíveis disfarces (decoys), com o intuito de desviar a atenção policial, enquanto o casal rodava e fumava maconha. (Embora nenhuma maconha tenha sido encontrada, Washington disse que lhe tinha sentido o cheiro).
         Uma hora depois, chegou a promotora da cidade, Lynda K. Russell, que foi logo dizendo que o casal tinha duas opções: (a) podia ser submetido a acusação criminal (felony charges) por ‘lavagem de dinheiro’ e ‘pôr a vida de criança em perigo’. Neste caso, os dois iriam para a prisão e as crianças entregues a um asilo infantil; e (b) ou poderiam entregar o dinheiro para a cidade de Tenaha. Neste último caso, não haveria acusação, e nem as crianças seriam entregues ao Serviço de Proteção Infantil (CPS).
         Mais tarde, Boatright, que caíra em prantos quando confrontada com a ‘alternativa’, viria a saber que o esquema ‘dinheiro em troca da liberdade’ era um ponto de orgulho para Tenaha, e outras versões da mesma tática estavam sendo usadas por todo o interior americano.
         A estória é longa, há muitos episódios de abusos do gênero, que são praticadas por delegacias de polícia para coletar recursos de modo a financiar as respectivas operações, além de lograr favorecimentos pessoais no mínimo questionáveis.
         Os principais objetos – as vítimas da vez – estatisticamente estão entre os afro-americanos, latino-americanos, idosos, e todos aqueles que não aparentam ter muitos recursos (e por conseguinte dificilmente terão um advogado para orientá-los).
         Esse instrumento policial, a chamada civil forfeiture (alienação civil de bens) vem sendo muito usado, e não só no Texas. Ao contrário da alienação criminal, não é necessário ser culpado no caso civil: uma suspeita de ‘provável causa’ já é suficiente. Basta para que exista um processo arquivado quanto ao confisco da propriedade. No caso, é irrelevante a culpa ou inocência de quem tinha a posse do valor.
         Outra surpresa estava reservada para o casal Boatright e Henderson, quando reivindicaram no condado, na esperança de reaver a respectiva poupança. A promotora distrital lhes disse que tinha ‘repetidas vezes’ avisado que não precisavam assinar a dispensa (waiver), mas se persistissem em denegar a acusação, eles poderiam ser acusados criminalmente.
         Jennifer Boatright e Ron Henderson insistiram, subscrevendo-se como partes em ação comum temática, a despeito da dificuldade processual e da possibilidade muito comum que não fosse aceita pelo juiz. Até o momento, no entanto, os advogados David Guillory, cujo escritório é sediado em Nacogdoches, e Tim Garrigan cuidam da ação. Nem sempre o resultado corresponde à expectativa inicial, pelos óbices da causa, o caráter imprevisível dos depoimentos, e a reação dos magistrados.
         No entanto, a repercussão nacional, os manifestos abusos policiais, e os confiscos repetidos têm forçado as delegacias policiais a tomarem mais cuidado com os respectivos procedimentos, de que o comissariado de Tenaha se tornou uma espécie de anti-modelo (pelas diversas injustiças cometidas de que o sofrido pelo casal Boatright e Henderson constitui significativo exemplo).
 

 
 
( Fontes: VEJA, International Herald Tribune, The New Yorker )            



[1] É conhecida a recusa de Florestan Fernandes (ex-deputado do PT) em sair da fila do SUS, a despeito dos apelos do filho e do próprio então Presidente Fernando Henrique Cardoso, seu ex-aluno. Disse o sociólogo que era este o tratamento do povo brasileiro, e não queria valer-se de qualquer privilégio. Pagou com a vida a sua nobre atitude.
[2] O restante da Operação dos Médicos Estrangeiros é outra estória. Terá suas irregularidades, conforme documentadas pelas entidades médicas, mas não se compara em gravidade com a vinda dos médicos cubanos, expedidos pela Ditadura Castrista.
[3] Pescoço vermelho, em geral para designar trabalhador braçal.

Um comentário:

Maria Dalila Bohrer disse...

A importação de médicos cubanos para trabalhar no interior do Brasil está revestida de algumas interrogações. Por um lado há muito chama a atenção a prepotência dos médicos brasileiros, que mesmo em inicio de carreira, não querem saber de ir para o interior tratar de gente pobre. Querem ficar na capital, logo adquirem um bom carro e tratarem de acumular dinheiro. Pelo que li as vagas foram, em primeiro lugar, oferecidas para os médicos brasileiros. Muito poucos se interessaram. Bem ai tem que trazer médico de fora mesmo! Agora a forma de remuneração dos médicos cubanos, conforme noticiado, me deixou muito confusa. Está parecendo um acordo indecente. Ainda precisamos saber melhor.