terça-feira, 20 de agosto de 2013

Diário da Mídia (IV)

                                           

Prisão absurda 

            A detenção do brasileiro David Miranda no aeroporto de Heathrow, quando em trânsito para o Brasil foi clara instrumentalização da chamada lei antiterrorismo do Reino Unido.
            Além do agrado feito à Superpotência, que fora informada pelos britânicos antes da efetivação da prisão, há vários aspectos que caracterizam o emprego abusivo da legislação: (a) o descabido recurso a esta lei, eis que no capítulo nada poderia ser imputado ao nacional brasileiro; (b) o viés intimidatório,  sublinhado pelas contínuas ameaças a que foi submetido David; (c) o tempo máximo utilizado, ao contrário das detenções baseadas neste recurso, que não costumam ir além de uma hora; (d) falta de qualquer aviso à chancelaria brasileira.
            Bem houve o Ministro brasileiro Antonio Patriota, que além de convocar o embaixador britânico em Brasília, protestou junto a seu homólogo inglês, William Hague.
            Como seria de esperar, a descabida ação – mais própria de  Estado policial – foi questionada no Parlamento e na imprensa, pelo cínico emprego de  instrumento com  escopo específico que, no caso, nada tem a ver com prevenção e/ou combate ao terrorismo.

 
Estripulias do dólar



             Depois do longo letargo, a economia estadunidense começa a crescer. Em breve a Federal Reserve deverá aumentar a taxa de juros – que, no momento, para facilitar a recuperação e o emprego, está próxima de zero. O capital internacional acompanha os primeiros sinais do despertar do dólar americano. Daí, a agitação nos mercados financeiros, inclusive os denominados emergentes.
             Com o redespertar do gigante, é de entender-se que os tempos hão de ser outros, em termos de atrações comparativas.  O Globo de hoje já nos proporciona uma lista da desvalorização das outras moedas em relação ao dólar.
             Não é necessária muita bagagem financeira para antecipar que nesse embate mais sofrem as divisas cujos sinais vitais apresentem pontos mais débeis. Infelizmente, por cortesia de D. Dilma, o Real já não parece mais aquele que encantava os mercados.
             Nesse contexto, teria sido talvez melhor que o Ministro Guido Mantega nas suas declarações à imprensa, ao bater o Real na paridade R$ 2,42 por US$ dólar,  tivesse ficado com a boca presa, sem dizer que não sabe onde isso vai parar.
             Em fim de contas, quem tem a ver mais diretamente com a cotação da moeda americana é o Banco Central que, junto com o Tesouro, tem gasto fortunas para tentar  segurar-lhe a cotação.              
            Se os irresponsáveis republicanos na Câmara de Representantes, quando da vindoura fixação do teto da dívida americana – no passado, uma situação burocrática, e hoje, instrumentalizada pelo GOP, produziu recentemente o rebaixamento do Tesouro americano por uma agência de classificação – tentarem forçar nova crise de fechamento do cofre, e da capacidade do Tesouro estadunidense de honrar os respectivos compromissos, essa gente poderá estar desfazendo o meritório trabalho do Presidente do Fed, Ben Bernanke.  A única esperança na matéria é que dê nessa turma uma espécie de estalo de Vieira, ao exagerarem na provocação (sem falar que ao pensarem prejudicar Obama e os democratas, estão na verdade dando um tiro no próprio pé), correm o risco de um castigo exemplar nas próximas eleições intermediárias.
 

 
Insanidade em fim de mandato    

 
               O Governador Sérgio Cabral, cuja popularidade está nos baixios, resolveu sancionar lei estadual que transforma  concessão pública – a licença para conduzir táxis – num bem mais do que vitalício dos motoristas de praça, eis que o privilégio passaria para os herdeiros respectivos.
               No passado distante, o sistema das Capitanias Hereditárias deu no que deu, e este despautério da vez deve ter vida curta, dado o manifesto abuso de desvirtuar uma autorização para dirigir veículo de aluguel em benefício vitalício.
               Cabral, que gozou de bondades petistas e peemedebistas, para não ser incluído nos investigados pela CPI do Cachoeira (que aliás terminou em pizza), já não mostrara muito bom senso ao associar-se à turma do lenço. Agora, em que teria dificuldade de eleger vereador, resolve firmar esse documento do contra-senso assemblear, com o que perde boa ocasião de mostrar que, no fim de contas, ainda tem algum juízo.    
                    

 
(Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )

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