O presidente Hassan Rouhani acaba de assumir as suas funções. Sucede ao desprestigiado Mahmoud Ahmadinejad, que deixa fragilizadas a economia e as finanças iranianas. Não é fácil determinar a medida em que tal se deva à própria incompetência na gestão, e o que decorre da imposição pelo Ocidente de sanções ao Irã, em função de seu programa nuclear.
Como se sabe, apesar de seu título de presidente, o moderado Rouhani não é a mais alta autoridade no Irã. Tal posição – o que configura uma teocracia – cabe ao chamado Líder Supremo, Ali Khamenei, que sucedeu ao ayatollah Khomeini em 1989. Khamenei se filia à linha dos que, como seu antecessor, consideram os Estados Unidos o grande Satã.
A indicação de Rouhani por Khamenei corresponde à capacitação de que outro presidente na linha de Ahmadinejad – como este tentara fazer aprovar a candidatura de Esfandiari Rahim Mashaei, seu estreito aliado – dada a crise econômico-financeira iraniana não tinha viabilidade política.
Por isso, dentro da democracia adjetivada no Irã, o triunfo do clérigo Rouhani visa a dar um pouco de ar para a alternativa negociada do poder clerical em Teerã.
Rouhani, se comparado com Ahmadinejad, oferece perspectivas de entendimento com o Ocidente. Nesse sentido, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança mais a Alemanha terão ouvido com grande atenção as declarações do novo presidente, ao receber o mando executivo de seu antecessor, o radical Mahmoud Ahmadinejad. O clérigo Rouhani reiterou a posição de que o Irã não abandonará o seu programa nuclear, que será mantido “com base no direito internacional. Não cederemos o direito da Nação. Contudo – prosseguiu o presidente – “somos pela negociação e a interação. Estamos preparados, seriamente e sem perder tempo, para entrar em negociações que sejam sérias e substantivas.”
Como seria de esperar de um negociador – e Rouhani tem experiência no ramo – o presidente iraniano não mostrou as suas cartas. Diante da nova administração, o Governo Obama já exprimiu a esperança de que a eleição de Rouhani coloque bases válidas para o progresso nas referidas negociações. Por outro lado, em movimentos paralelos, o Congresso americano evidencia uma posição de princípio bastante mais dura.
Nesse sentido, a Casa de Representantes, dominada pelo GOP e os radicais de direita, votou legislação que poderia, se aprovada pelo Senado e sancionada pelo Presidente, sustar as exportações de petróleo iraniano. Por outro lado, 76 senadores defenderam a postura de que Barack Obama deveria endurecer as sanções contra o Irã, sem prejuízo de continuar as negociações.
Rouhani não deixou de assinalar que ‘se alguém pensa que através de ameaças se pode impor a respectiva vontade à nação iraniana, está cometendo um enorme erro.’ No que tange às sanções, o novo presidente sublinhou que Washington deveria “conscientizar-se do fato que a solução será alcançada somente através de conversações e que ameaças não resolvem qualquer problema”.
Mostrando que Hassan Rouhani encontra parceiros sensíveis a seus argumentos, o Ministro do Exterior russo, Sergei V. Lavrov afirmou que Moscou concorda ‘absolutamente’ com o novo presidente. Nesse contexto, criticou tentativas de apertar as sanções contra o Irã, dizendo que o tempo é de diálogo e não de ultimatuns.
Em movimento que semelha sob a mesma orientação, a União Européia declarou que Rouhani ‘dispunha de um mandato forte para dialogar’ e que esperava por uma nova rodada de negociações ‘para breve’.
A Casa Branca está, portanto, diante da alternativa de, uma vez mais, dar crédito ao negociador iraniano, agora sob nova direção, se bem que a chefia suprema permaneça a mesma. Terá Rouhani suficiente espaço para negociar um modus vivendi com os seis países (Conselho de Segurança e Alemanha), e estará em condições de fazer concessões diante das preocupações dos EUA (e de Israel), dando a necessária autorização para os técnicos da AIEA terem acesso às instalações iranianas?
A moderação de Hassan Rouhani terá pouco efeito na evolução da questão se não se traduzir em disposições efetivas que atendam às inquietudes de Washington, e de seu parceiro em Tel Aviv.
(Fonte: International Herald Tribune )
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