Em alguns comentários na imprensa,
se verifica que há dois alvos a serem atingidos na questão da retirada do
asilado da Embaixada do Brasil. Não é só o Senador Pinto Molina que se deseja
atingir. Em certos comentários, ressalta especial má-fé contra o Encarregado de
Negócios do Brasil, Ministro Eduardo Paes Saboia.
Os 455 dias da
longa estada na Chancelaria brasileira, resultante da omissão do governo Evo
Morales de emitir o salvo-conduto, uma vez reconhecida a condição de asilado na
embaixada, têm uma justificativa: a indiferença do governo brasileiro, que não
mostrou vontade política para levar o governo boliviano a cumprir com sua
obrigação.Não sei se as autoridades brasileiras que ora censuram o Encarregado de Negócios, além de colunistas que pensam desmenti-lo, se terão dado conta do longo isolamento a que a própria displicência submeteu o diplomata, e da conjunta ameaça da pressão psíquica sobre o asilado. Com a sua coragem, Saboia ao invés de criar um problema, o resolveu, fazendo jus a elogios pela sua motivação humanitária.
Desse episódio, a Presidente Dilma Rousseff se serviu para demitir o Ministro Antonio Patriota. Se as fotografias não mentem, desde muito se observava a contrariedade da Presidenta com o alto assessor.
O entrevero também a levou a bater boca com o Ministro Saboia, seu subordinado. Não é usual que tal ocorra, e para a extraordinariedade do fato existem sobejos motivos de diferença hierárquica e a natural compostura a ser observada pela nossa mais alta magistrada.
Não é só o fato de entrar em contraditório direto com funcionário diplomático de escalão intermediário. Além do bom senso recomendar-lhe o silêncio, deixando a autoridades menores o encargo de ocupar-se diretamente do litígio, há outro aspecto a ser considerado. Com efeito, ao exprobar o Ministro Eduardo Saboia, a quem o próprio ministério deseja submeter a uma comissão de inquérito, que condições de isenção e imparcialidade pensa a Senhora Presidenta se estarem criando para o funcionário ?
Será que junto com o água do banho, também se jogará fora o bebê da presumida inocência do servidor ?
Depois do longo sono da indiferença, semelha pelo menos esdrúxulo o dito por Dilma que ‘repudia a ação da retirada de Molina sem autorização, o que, segundo ela, atentou contra a vida e a segurança de um cidadão que contava com o asilo diplomático do Brasil’.
Por sua vez, sem mencionar a circunstância de que deixara apodrecer o assunto, o Presidente Evo Morales estaria cobrando a volta do ‘delinquente comum’. É mais do que estranho que o presidente boliviano se julgue em condições de pedir de volta a cobiçada presa.
Mas apesar de sua pouco diplomática e perigosa impetuosidade, ainda prefiro não acreditar que Dilma Rousseff cogite seriamente meter-se em tal escorregadela. De resto, ela conta agora com o Embaixador Luiz Alberto Figueiredo, chanceler de sua estrita confiança, e a quem tem prestigiado por mais de uma vez.
(Fonte: O
Globo )
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