Jacques Vergès
O advogado Jacques Vergès, que morreu aos 88 anos
de ataque cardíaco, morava em um hotel[1] parisiense, em que
residira Voltaire. Dado o caráter polêmico das causas defendidas pelo autor de ‘Candide’, o obituarista sucumbiu à
tentação de comparar o advogado com o escritor do século XVIII.
Vergès – que fumava,
nos tempos que correm, enormes charutos – como advogado, pelos clientes que assumia, terá alguma
dificuldade – se o dito aplicado aos causídicos procede – de bater à porta de
São Pedro.Para que se tenha idéia de quem defendeu, eis lista sumária: Klaus Barbie, o criminoso de guerra nazista, também conhecido pela alcunha de ‘Açougueiro de Lyon”; o terrorista Carlos o Chacal; e o chefe de estado do Cambódia no tempo do Khmer Vermelho, Khieu Samphan. Vergès teria, igualmente, tentado defender Saddam Hussein e Slobodan Milosevich.
Vergès despontou para a notoriedade com as suas defesas de argelinos acusados de atentados à bomba, nos anos cinquenta, durante a guerra de liberação. Não contestava a veracidade das provas apresentadas pelos promotores, mas lhes contrapunha a circunstância de os acusados serem combatentes em guerra justa de liberação.
No julgamento de Klaus Barbie, em 1987, Vergès ignorou as acusações e, ao invés, atacou Israel, França e outros países por ‘crimes contra a Humanidade’, que a seu ver eram mais sérios dos que atribuídos a seu cliente da vez. Na época, foi estigmatizado por trivializar o genocídio na sua defesa desse monstro. Jacques Vergès e seu irmão gêmeo Paul nasceram a 5 de março de 1925, no Sião (hoje Tailândia) de mãe indochinesa (morta em 1928) e de pai francês, o diplomata Raymond Vergès, que os criou na Ilha da Reunião, no oceano Índico, em departamento que até hoje pertence à França.
A derrubada de Morsi fora causada pela sua incompetência administrativa e o fato de que os egípcios não-inscritos na Fraternidade não se sentiam representados pelo governo. Havia a percepção de que o presidente tinha presentes os interesses da Fraternidade Muçulmana e não os da população em geral.
Diante da inesperada firmeza dos irmãos muçulmanos – que continuam a protestar nas ruas, a despeito dos massacres diários (o número de mortos dentre eles ascende a mais de seiscentos) – esse dado, que não terá sido computado por el-Sisi, pode constituir fator que venha a representar uma enorme pedra no caminho das ambições castrenses.
Os aliados liberais do golpe poderão seguir o exemplo do ex-chefe da AIEA, El-Baradej, que renunciou prontamente ao posto secundário que lhe fora destinado (diante do veto salafista a que encabeçasse o gabinete interino).
O potencial isolamento do Exército – se de algo servem as censuras dos Estados Unidos (que ainda evitam, por considerações táticas, de dar nome apropriado ao movimento do general el-Sisi) e da União Europeia – não excluirá um possível repensamento do comandante das forças armadas.
Por enquanto, a Irmandade parte para as manifestações – por letais que sejam as suas consequências – mas institui um virtual toque de recolher, ao recomendar a seus membros que as evitem durante a noite.
Ainda não há qualquer indício de parte do alto comando militar de uma negociação para valer. Por sua vez, a Fraternidade ainda não empolgou a chamada ‘saída argelina’, que precipitou naquele país magrebino um longo período revolucionário (com muito terrorismo, inúmeros estrangeiros e argelinos sacrificados, para findar como começara, com o exército mantendo o controle do país).
Dada a sua longa permanência na clandestinidade, os Irmãos Muçulmanos têm sobejo conhecimento das implicações envolvidas, dos sacrifícios e das perspectivas de resistência armada contra a instituição que mantém a suserania do país desde a queda e abdicação do Rei Faruk, a 26 de julho de l952.
( Fontes: International Herald Tribune; Folha de S. Paulo )
[1] O hotel particulier não
deve ser confundido com hotel, na acepção da língua portuguesa. A palavra em
francês designa uma morada que não costuma ser modesta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário