quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Trincheiras da Liberdade (VII)

                               
 Asilo temporário para Snowden

                 Edward Snowden acaba de receber asilo temporário na Rússia. Por isso, deixou a área internacional do aeroporto Sheremetyevo, nas cercanias de Moscou, onde estava arranchado há cerca de quarenta dias. Não foi revelada a localização do novo endereço do ex-técnico da CIA.

 O  Fantasma do Nazismo

                A Waffen-SS,  considerada o braço armado da perseguição antissemita, vem sendo apresentada pela revista Der Landser como se fosse uma força patriótica empenhada na defesa do Reich. As famigeradas SS (Schutz-Staffeln)[1] foram criadas por um dos lugares-tenente do Führer Adolf Hitler, Heinrich Himmler, para, na prática, substituirem as demoralizadas SA (Sturm Abteilung)[2].
                 Revista semanal do gênero pulp, Der Landser tem circulação de cerca quarenta mil exemplares. Publicada por uma das maiores editoras da mídia na Alemanha, o Grupo Bauer, a relativamente reduzida tiragem da publicação não deve fazer esquecer a delicadeza da matéria enfocada,  particularmente cara à subcultura da extrema direita.
                 A revista procura apresentar o soldado raso (der Landser) como interessado em defender a causa do bem. As suas estórias – que pretendem basear-se em fatos verídicos – cuidadosamente evitam a menção da palavra ‘nazista’, e tampouco propagam, pelo menos abertamente, o antissemitismo.  Feita para atender a procura do leitor que simpatiza com a extrema direita – na Saxônia, onde se concentra o respectivo público-leitor, da antiga Alemanha Oriental – essa revista é redigida com o cuidado de quem pretende tratar de um tema tabu, de uma forma em que os textos sejam mais evocativos do que explícitos (para contornar problemas legais).
                 Agora, o Centro Simon Wiesenthal, de Los Angeles, respondendo a queixas de seus filiados, resolveu agir contra a revista, invocando leis alemãs contra a propaganda nazista e a negação do Holocausto, para requerer ao governo em Berlin que feche a revista.
                  O Centro Wiesenthal também decidiu pedir a Amazon e o Bauer Media Group que não mais distribuam a revista. No entanto, o rabino Marvin Hier não teve o esperado sucesso. Assim, se era previsível a reação do grupo Bauer (que distribui der Landser),  Hier julgou ‘absurda’ a recusa da Amazon de atender a solicitação do Centro.


 A sentença contra o Cabo Bradley Manning 

 
                  A juíza militar, Coronel Denise Lind, não aceitou a argumentação do governo Obama quanto à condenação do Cabo Bradley Manning por ajudar o inimigo  - o que poderia implicar em prisão perpétua e que nunca fora antes utilizada em processo de vazamento de informação. Nesse contexto, tinha sido observado que especialistas em liberdade de imprensa tinham advertido que tal veredito poderia ter amplas (e negativas) consequências para o futuro do jornalismo investigativo acerca de segurança nacional.
                  Ainda não está determinada a extensão da pena que será infligida a Manning nos casos do seu vazamento de informações ao Wiki-Leaks, de que o militar é réu confesso.  
                 A propósito de vazamentos o colunista Bill Keller – antigo diretor do New York Times – menciona a inusitada dureza do tratamento dispensado ao prisioneiro Bradley Manning: depois da sua prisão, uma definida grotesca severidade com nove meses de solitária, em que foi forçado a dormir sem colchão e roupa de cama. Mesmo para um detido da justiça militar, se a presunção de inocência é mandatória, também o seria um tratamento civilizado, conforme aos costumes do século, e não o de uma justiça pré-Marquês de Beccaria, com as características cruéis e medievalistas da velha masmorra.


O  Projeto  do  Prefeito  de  Roma

                  Para quem na sua longa carreira diplomática teve a fortuna de passar dois estágios romanos, a iniciativa do  prefeito de Roma, Ignazio Martino me parece lógica e inatacável.
                 O período fascista – que solucionou a questão vaticana, com os Acordos de Latrão – se caracterizou, de outra parte, por um desrespeito próprio de ditadura da Vecchia Roma (velha Roma). Os exemplos não são poucos, mas Benito Mussolini e seus prepostos gostavam de demolir o casario antigo, como no caso do Borgo, o bairro de classe média baixa vizinho dos muros leoninos (que delimitam parte do espaço da Santa Sé). Aí surgiu, saindo do Lungotevere a Via della Conciliazione[3], que desemboca na praça de São Pedro.
                 Essa violência urbana também existira na Via dei Fori Imperiali, construída pelo Duce, nos anos vinte, em que na sua húbris ligava a sede do governo fascista, no Palacio em Piazza Venezia até o Coliseu. Em uma área tão densamente mêmore dos vários passados da Roma eterna, há de intuir-se o que o projeto urbanístico de Benito Mussolini implicou em termos de destruição irreparável das diversas ruinas até então remanescentes.
                 Se o projeto do Prefeito Marino não trará de volta o que o fascismo devastou, a sua intenção é a de preservar o que resta. Valendo-se do relativo esvaziamento da metrópole no período estival, a prefeitura determinará a proibição do tráfego na via dei Fori Imperiali (até o Coliseu) a carros particulares, mas não a ônibus e taxis. O objetivo final será torná-la uma via exclusiva para pedestres. Os eventuais custos do projeto serão financiados através de subsídios da União Européia.
                 Assinale-se, outrossim, que poderão ser apagadas algumas das consequências nefastas do projeto fascista. A Via dei Fori Imperiali separara o Foro Romano dos outros Foros imperiais (Trajano, Augusto, Cesar e Nerva). Por outro lado, com a eliminação das vibrações do tráfego de veículos e do smog causado pelas descargas dos motores, surgiriam melhores condições para a preservação do passado da Vecchia Roma.             

 
( Fontes: Globo on-line; International Herald Tribune )



[1] Esquadrões de Proteção.
[2] Divisão de Ataque.
[3] A rua da Conciliação foi assim denominada por causa do acordo entre o governo italiano e a Santa Sé, que pôs fim à chamada questão romana (quando o Papa se considerava prisioneiro no Vaticano).

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