terça-feira, 13 de agosto de 2013

A Violência não é boa Política

 
                                 
Na Argentina de Cristina Kirchner


        Atolada na inflação, na ‘contabilidade criativa’, e na violência institucional, a presidente Cristina,viúva de Kirchner, parece não se ter dado muito bem nos seus planos de transplantar para a Argentina as reeleições do modelo do defunto Hugo Chávez.
        As primárias do último domingo serviram para determinar os candidatos que deverão concorrer em outubro ao Senado e a Câmara. Apesar de o governo de Cristina continuar em primeiro lugar pelo número absoluto de votos (26%), o que se deve à fragmentação da oposição, está virtualmente enterrada a possibilidade de obtenção de emenda constitucional para um terceiro mandato (que exige dois terços dos sufrágios).
       Com esse percentual de 26% no total nacional, Cristina Kirchner logrou o pior desempenho de um governo desde a volta da democracia em 1983. Atendidas as suas características e limitações, a viúva Kirchner tentará reverter o quadro através da insistência no próprio modelo – autoritário e verticalista – de gestão.  O que provavelmente há de acirrar ainda mais o quadro, e as perspectivas de agravamento da derrota.
       O que se desenha, portanto, é uma reconfiguração nas forças respectivas das várias tendências do peronismo. Assim, Sergio Massa, que repontou como o grande vencedor na jornada, ao prevalecer sobre o governo na província de Buenos Aires, vê reforçada a sua posição como pré-candidato presidencial.
       Para a derrota de Cristina Kirchner, há muitos fatores que se digladiam pela primazia. O ceticismo de muitos quanto à possibilidade do repúdio da classe média e do real significado da sucessão de panelazos que, mais uma vez, se esboroa ao chocar-se contra um contágio muito mais amplo na opinião pública. A sinistra trinca da crise na situação econômica, do incremento da inflação e, não por último, da corrupção  agravou o cansaço da opinião pública com o viés autoritário da presidente, e a sua falsa resposta, na consequente sucessão de confrontos com a imprensa e o Poder Judiciário, o que configurou uma verdadeira fuite en avant (autentica corrida de lemingue para o abismo).

 
No  Paraguai,  do presidente Horacio Cartes

         
          Também a diplomacia pode cobrar caro aos sôfregos o desrespeito intempestivo das políticas de estado, no apego míope ao velho partidismo sul-americano. Se a História nos ensina algo, é que o êxito (e o respectivo respeito logrado) às relações entre os Estados deve presidir o respeito aos interesses maiores e não às inconstâncias das conveniências partidárias. Esta era a exitosa fórmula da diplomacia do Itamaraty, que nem o regime militar ousou contrariar.
          A dúbia recompensa dada a líderes ignorantes, que acreditam na linearidade do simplismo, e de seus timoratos auxiliares, está em ter que lidar com as consequências dos próprios erros de avaliação.
          Isto posto, depois da má-aplicada Realpolitik cabocla, será tempo de apertar o cinto para enfrentar a posição do novo governo paraguaio de Horacio Cortes, que assume  o poder nesta quinta-feira quinze de agosto.
          O futuro ministro do exterior, Eladio Loizaga, declarou à Folha que a relação entre o Paraguai e o Brasil “é muito importante para ambos”.  A Presidenta estará em Assunção – onde aliás foi assinado o Tratado que estabeleceu o Mercosul, entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Embora deva insistir pelo pronto reingresso no Mercosul do Paraguai, é provável que nem ela acredite na possibilidade de imediata concordância de Assunção.
         Ou será que D. Dilma pode conceber a volta do Paraguai justamente durante a ‘presidência’ da Venezuela ?
         Nicolás Maduro não está convidado para a posse de Cartes. A razão é que a Venezuela, quando do impeachment-relâmpago de Fernando Lugo, fechou sua embaixada em Assunção.  Já os outros três membros do Mercosul (Argentina, Brasil e Uruguai) optaram por chamarem os respectivos embaixadores, deixando as missões com encarregados-de-negócio.

 
Na Rússia de Vladimir Putin

 
           A alegada falta de ideologia de um regime determinado deve ser vista com cuidado, porque na mor parte dos casos essa alegada carência é ilusória, e apenas serve para dissimular-lhe o caráter autoritário e a sua identificação com a prepotência da direita.
           Nesse contexto, o retorno pleno ao poder de Vladimir V. Putin semelha uma confirmação de tal postulado. Diante do seu crescente autoritarismo – que se traduz em centralização do mando, intolerância com aoposição e aumento da corrupção – não há de causar espanto o tratamento dado ao estrangeiro.
          A violência policial em um mercado – com a prisão de suspeito de estupro – levou a uma reação da comunidade atingida. Com os ferimentos sofridos por um agente policial, foi colocada a rationale para campanha contra os imigrantes ilegais.
         Pouco importa que o suspeito do crime não fosse um imigrante, mas o estrangeiro será sempre para esse tipo de sociedade um alvo demasiado convidativo.  A operação xenofóbica levou à detenção de cerca de 1500 alienígenas e, dentre esses, de seiscentos – a maioria vietnamita – em acampamento de barracas, considerado mais apropriado para um país em guerra ou para o cenário de uma catástrofe natural.
         Como isto irá evoluir, resta a ser considerado, porque a mão de obra não surge por acaso, e, em geral, a sua vinda corresponde a forças do mercado.
         Essa campanha se soma a uma anterior, que não tem rendido uma boa imprensa para a Federação Russa. Com o ranço preconceitual de movimentos dirigidos de opinião pública, as vítimas da vez pareciam ser os gays.  A homofobia no caso – que em outros países é crime – ganhou impulso através de uma lei da Duma (câmara baixa), que apresenta diversos aspectos preocupantes, pelo seu caráter incoativo e discriminante. O que coloca o Kremlin na contra-mão  da visão contemporânea dessa escolha sexual na sociedade moderna.
         Mas dirão outros que isto não é novidade. O nazismo, pelas suas contradições, é um exemplo desse tratamento tão odiento quanto hipócrita.

 

 
( Fontes:  International Herald Tribune, Folha de S. Paulo, O Globo )

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