A Gaiola de Ouro é invadida
Até ontem
esquecida pelos manifestantes em suas demonstrações, à noitinha a Câmara de
Vereadores do Rio de Janeiro – que é conhecida como a Gaiola de Ouro –foi invadida por dezenas de pessoas.
O ato programado
se destinava, em verdade, ao repúdio da administração do Governador Sérgio
Cabral e reunira cerca de 700 pessoas na Cinelândia
– que é o antigo centro da cidade, com a praça ladeada pelo Teatro Municipal, a
Biblioteca Nacional e cinema. Com ação violenta da polícia, a manifestação virou pancadaria. Algumas dezenas de participantes subiram as escadas da Câmara e adentraram o recinto. De nada serviu a ‘proteção’ das portas do prédio que seria dada pelas seguranças da Gaiola de Ouro e os PMs.
Não surpreenderá que a avaliação pela cidadania da ‘Gaiola’ seja muito baixa, o que se deve aos altos salários e reduzida frequência dos senhores edis – incluindo até a viatura às expensas do município e outros agrados.
Chegado ao plenário vazio, um grupo de manifestantes foi persuadido por representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) a sair, indo para o hall dos elevadores. Apesar de terem respeitado o local da vereança – apenas uma vidraça foi quebrada – atenções correspondentes não foram dadas pelas ditas forças da ordem. Os manifestantes seriam expulsos aos empurrões pela Polícia Militar, que até usou gás de pimenta.
Uma nota de certo interesse no panorama carioca foi o conselho dado ao Prefeito Eduardo Paes – muito ligado ao Governador, a quem deve de resto a sua primeira eleição, pelo artifício de um ponto facultativo bastante maroto. No entender dos nervosos correligionários do Prefeito, ele deveria evitar aparecer em atos e cerimônias na companhia de Sérgio Cabral, que por sua vertiginosa queda nas pesquisas apresentaria perigo de contágio...
A Presidenta Dilma – que, para variar, acaba de recuar na
sua proposta de dois anos a mais no curso de medicina – em visita à São Paulo,
lembrou-se que Geraldo Alckmin é adversário político. Para a cidade (agora administrada pelo PT) anunciou investimentos de oito
bilhões, e aproveitou para criticar o metrô de São Paulo. A tal propósito, disse:
“São Paulo talvez seja a maior cidade com o menor sistema de transporte
metroviário do mundo”.
O metrô
respondeu, segundo a Folha, que dos R$ 22
bilhões propostos de linhas projetadas, só há 400 milhões prometidos
por Dilma. Ainda em termos de metrô, o do Rio, cuja última estação fora festivamente inaugurada no fim do mandato de Lula da Silva, apresenta sistema de transporte de massas que está em condições lastimáveis, tanto em termos de composições, quanto na manutenção das linhas e estações. A recente Jornada Mundial da Juventude pôs a descoberto – se tal fosse necessário para os infelizes usuários – as condições precárias do sistema metroviário, com longos atrasos, atropelos, enormes filas e apagões energéticos. A cercania da administração da Cidade Maravilhosa com o poder petista tampouco parece traduzir-se em um serviço pelo menos adequado para o sofrido povo carioca. E olha que a Copa e as Olimpíadas estão aí.
Assim a resposta da Câmara, aquela para valer, em nada se assemelha às hipócritas declarações de muitos partidos – na chamada propaganda eleitoral obrigatória – em que apregoam o seu integral apoio à proposta de moralização das manifestações de junho.
Em abraço de tamanduá, os políticos cinicamente prometem adotar as práticas moralizadoras que o Povo exige nas ruas, para na realidade, em pacote legislativo, introduzirem série de mudanças à legislação que vão na contramão da ética e do respeito à opinião pública.
Chegaram até a tentar aguar a Lei da Ficha Limpa. Voltaram atrás por ora, mas não em uma infinidade de outras disposições – aquela letrinha pequena que é a mãe generosa de todos os abusos.
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