quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O Gigante Acorda

                                           

       Talvez uma das consequências mais positivas do movimento do passe livre e das manifestações de jovens e populares que se espalharam por esses brasis afora, saindo da Paulicéia e da antiga Corte (até l889) e do Distrito Federal (até 1960) foram as invasões pacíficas dos diversos palácios legislativos.
       Suas Excelências dormiram por longo, demasiado tempo no plácido sono do corporativismo e do acintoso menosprezo ao Povo Soberano. Esse ledo autismo das altas Câmaras passaria também às baixas, na insolente confiança de desrespeitar naqueles faustosos e acolchoados recintos de um poder que, apesar de delegado, agia como se só devesse atenções e falsas mesuras quando soavam as campaínhas dos comícios quatrienais.
       É bom e oportuno que o Povão continue desperto e atuante. Não faz assim tanto tempo o Brasil, por cortesia das redes televisiva, nos proporcionou a visão do espetáculo do fastígio corporativista e alienado da terra de que lhe vêm todos os proventos de que se apossam as Excelências dos três Poderes.
       No país do infame Impostômetro, em que os publicanos se esmeram na sua milenar perseguição do servo, do súdito e do dito cidadão, e onde o peso inútil do tributo iniquo é a carga maldita – e que incha por geração espontânea (hoje anda pelos 35% !) – a carregar cada despesa e cada magro estipêndio – não é que assistimos a uma afrontosa cerimônia, em que o Congresso das quartas-feiras e os figurões dos outros dois Poderes, em votações formais e a toque de caixa, se redistribuiram com acintosa pressa e facilidade – atualizada com o atrevimento do privilégio, em dois dias, e em votações simbólicas - na auto-distribuição  das pressurosas atualizaçãoes das suas régias pagas mensais.
       Nas manifestações de junho, que sacudiram da gostosa hibernação os poderosos do Executivo, Legislativa e Judiciário, com os jovens à frente do Povo, se veio expressar o desconforto e a inconformidade com a alienação das falsas elites, que dominantes se pensavam dirigentes, para dizer-lhes, de forma pacífica, e longe das espúrias bandeiras dos partidos corrompidos, que chegara a hora da apresentação das contas.
      O povo não é um acréscimo formal, a ornar os domínios dos poderosos.  A começar, tais domínios – palácios e todo o vasto etcetera que compõe as aras do mando – não pertence a estes, que são deles apenas os titulares temporários. É bom e oportuno, que o Povo soberano ingresse nesses recintos – e para tanto, pelos impostos que paga, não carece de convite nem de licença – e sacuda esses fementidos de suas olvidadas promessas e compromissos de ocasião, para afinal tenham presente as respectivas promessas e, acima de tudo, o sagrado empenho com o interesse de seu Patrão, que é o Povo.
       A princípio, embalados pelo tempo da incúria, presidente, governadores e prefeitos podem até pensar recorrer aos meganhas com o seu arsenal de maldades e violências. Mas quando o Povo acorda para vir cobrar não só pelos esquecimentos dos poderosos de plantão, mas por todas as maracutaias em que gostosamente se espojam, é oportuno que o tratem com a deferência que o Senhor da Casa faz por merecer, e ainda mais quando a ira dos justos dele se apossa.
          Vencidos os arreganhos dos sprays de pimenta, das bombas lacrimogêneas, da covardia das balas de borracha (que cegam, estropiam e podem, com toda a sua hipocrisia, matar) e de todo o arsenal de um Poder por muito hibernado no prazeroso sono da irresponsabilidade e da corrupção, é chegada a hora que os anfiteatros legislativos sejam ornados não pela claque dos interesseiros, favorecidos e pelegos, mas por jovens e menos jovens armados tão só da aspiração de que justiça se faça, e que no exercício das funções públicas – de presidente a prefeito; de senador a vereador; de ministro de alto tribunal a juiz de paz – se respeite o interesse geral que é o do Povo, e não o privilégio ou a prerrogativa dos que tem carro, motorista, e residência à custa do Erário !
          Quem não deve, não teme. Chega de subserviência aos tesouros e às exigências descabidas, que serão sempre estacas que se busca enterrar no chão e até na carne do Povo. 
           Que tudo que se assemelhe, de perto ou de longe, ao nefando e nojento Padrão Fifa  (que é o privilégio arrancado pelos anões de Genebra aos escassos passatempos do Povo) seja estigmatizado, denunciado e desfeito, como expressão indigna que é de uns poucos aproveitadores a escorraçar o Povo e a afastá-lo de suas diversões e paixões.

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