Jeff Bezos, proprietário da Amazon, comprou ontem o ‘Washington Post’ por US$ 250 milhões. A operação não envolveu a Amazon – é uma compra pessoal de Bezos – e tampouco inclui propriedades da companhia do Washington Post, v.g., Slate (revista na internet), a ‘Foreign Policy’ (concorrente da Foreign Affairs) e a Kaplan (que é a empresa mais rentável dessa companhia).
Junto com o New York Times, o Washington Post é um dos grandes jornais americanos. Ambos têm sofrido com a concorrência do novo paradigma de internet, mas por uma série de fatores o Washington Post estava mais fragilizado.
Na família desde 1933, a partir de sua passagem para Phil Graham, cresceu o prestígio e a renda do jornal. O ápice foi no tempo da viúva Kathryn Graham, como publisher, e de Ben Bradlee como editor-em-chefe, com o famoso escândalo de Watergate, que derrubaria Richard Nixon, e de cuja cobertura e furos se ocuparam os jovens repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward.
Outro grande caso do Washington Post foi o dos Pentagon Papers (juntamente com o New York Times), cuja publicação representou um marco para a liberdade de imprensa, com a aprovação da então Suprema Corte, que tinha na época um perfil mais liberal. Se há semelhanças quanto à reação da Casa Branca nas duas épocas, tanto com Lyndon Johnson (Documentos do Pentágono), quanto com Barack Obama (com o Wiki-Leaks de Assange, as ações do cabo Bradley Manning (cuja questão foi submetida à justiça militar, escapou da prisão perpétua mas pode ser condenado a longos anos de prisão) e de Edward Snowden (que denunciou a ação mundial da NSA no que concerne às comunicações nacionais e internacionais, oficiais e particulares através da internet), infelizmente aí se detêm as semelhanças.
Enquanto a ação de divulgar a ação do Governo estadunidense, através de documentos ignorados pela opinião pública da longa crise do Vietnam, Daniel Ellsberg, analista militar da Rand Corporation e depois do Pentágono (Ministério da Defesa) não pagou o preço, por divulgar os Pentagon Papers em 1971, que ora está sendo cobrado de Julian Assange (Wikileaks), em asilo diplomático na missão do Equador em Londres, nem o severo – e até mesmo cruel - tratamento dispensado ao Cabo Manning (mantido em solitária, sem dispor nem de colchão nem de roupa de cama) e ao próprio Edward Snowden (técnico contratado da NSA, que teve de refugiar-se em Hong Kong e agora tem asilo temporário da Federação Russa, mas com a situação ainda precária).
Jeff Bezos já declarou que não pretende chefiar o jornal no dia-a-dia (continuará a residir em Seattle), mas pretende modernizá-lo. O Washington Post tem sofrido com a concorrência da internet, mas isso não é novidade na grande imprensa americana. Perdeu parcela razoável de sua tiragem – de 673 mil em 2008 a 475 mil -, mas não está no vermelho (lucro de 132 milhões de dólares em 2012 e receita de US$ 4 bilhões).
Como em New York, o Wall-Street Journal da família Bancroft, proprietária majoritária do grupo Dow Jones, fora adquirido em 2007 pelo multimilionário empresário australiano Rupert Murdoch, o único periódico que permanece em mãos familiares é o New York Times, de resto o maior jornal do mundo. Desde fins do século XIX, em 1896, se tem sucedido à testa desse jornal, como publishers, a família Ochs-Sulzberg.
Posto que nem todos os seus negócios hajam sido exitosos – acaba de revender o Boston Globe, com prejuízo – o New York Times continua sendo o maior jornal dos Estados Unidos. Com efeito, o NYT torrou na prática o Globe, pelo preço de setenta milhões de dólares, que nem perfaz 10% da quantia que dispendera em 1993 (um bilhão e cem milhões de dólares para adquiri-lo).
A edição internacional do New York Times é International Herald Tribune, que hoje divulga um sumário do jornal nova-iorquino. Como se sabe, o Herald Tribune – que a atriz Jean Seberg anunciava no famoso filme Acossado[1] – era a versão europeia do grande jornal. Hoje – como em tantos outros cenários – a mídia se reestrutura e o próprio International Herald Tribune deve mudar de nome em breve.
Por falar em estragos da internet, um dos mais marcantes terá sido aquele sofrido pela editora Tina Brown, pelo controversial temperamento – e as atuações nas diferentes publicações que chefiou, muita vez decepcionantes.
Após passar pela New Yorker, a tradicional revista nova-iorquina, a que introduziu diversas mudanças, infelizmente não bem recebidas pelos leitores, a julgar pelos prejuízos colhidos pelos seus proprietários (o que levaria ao afastamento de Tina).
Segundo as impressões colhidas pelo staff do site da internet The Daily Beast (a Besta Diária), lembranças essas que Tina Brown não guardou na memória, a jornalista inglesa (naturalizada americana) pareceu muito animada quando comunicou à redação a sua fusão com a conhecida, mas agora em dificuldades, revista Newsweek.
Excitada, como é seu hábito, Tina falou das sinergias abertas pela união das duas publicações, reportando-se às perspectivas abertas pela associação das duas publicações, desta feita com o digital comandando a versão impressa. Nessa ocasião, a pergunta mais pesada foi a do jornalista Peter Lauria, que questionou o bom senso da união, eis que as duas publicações eram deficitárias de mais de trinta milhões de dólares nos últimos dois anos. Nesse contexto, faria sentido associá-las?
Dois anos mais tarde, Barry Diller, o bilionário proprietário da companhia que controla as duas publicações, disse que a aquisição de Newsweek fora um ‘erro’ e ‘estúpido’ o plano original para salvá-la. Tina Brown continua à frente do Daily Beast.
(Fontes: International Herald Tribune, Folha de S.
Paulo, O Globo )
[1] Acossado (à bout de soufle), de Jean-Luc Godard
(1960), obra-prima do Cinema Novo, tinha como principais atores Jean-Paul
Belmond e Jean Seberg.
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