O filme de Gilles Bourdos, de 112 minutos (2012), centra-se nos últimos anos do pintor impressionista Pierre-Auguste Renoir, entre 1915 e 1917 (ele faleceu em 1919), passados em sua chácara do departamento do Var, na Côte d´Azur.
Adentramos a
propriedade pelos passos da jovem Andrée (Christa Theret). A primeira impressão
é de um certo abandono, em que a vegetação mediterrânea, com sua força
silvestre, cresce à volta das oliveiras. Andrée vem procurar, a mando de sua
esposa, o pintor. Quem ela primeiro encontra é um adolescente, mais conhecido
como Coco. Como recepção não será das melhores, chegando o personagem,
interpretado por Thomas Doret a duvidar da sua recomendação (se saberá depois
que Aline, de quem Coco é o caçula, está morta).
Será assim,
por mão falecida, que Dedé (o apelido de Andrée) irá penetrar na mansão do
grande pintor e pelas suas qualidades de modelo redespertará nele o estro da
pintura.
Atazanado pela artrite que lhe
dificulta, mas não impede a pintura, move-se pela propriedade carregado por magotes
de empregadas, a ele, por inteiro, dedicadas. Auguste Renoir busca reproduzir na tela uma
antiga volúpia, em que os nus , traduzidos em um difuso amarelo, na cor de jovem,
reluzente e, por isso, sedutora epiderme. No dorso e nos seios da modelo, a
libido de Renoir ressurge, posto que cerceada pelas contingências e limitações
da velhice. Na modelo Andrée, sua arte,
em que a cor e a luz âmbar dominam, retrata as matizes do verão mediterrâneo de
que Pierre-Auguste só pode ora participar criando na tela encantadora mulher, em que a
própria admiração deve cingir-se a essa forma de contemplação.
Com a
chegada do convalescente Jean Renoir (Vincent Rottiers), que recebera baixa do
exército, por força de grave ferimento, a relação se torna triangular entre o
pintor, o filho e a modelo, por quem Jean se apaixona.
Pai e filho
se redescobrem, enquanto a relação entre Jean e Andrée se aprofunda, para
depois entrar em crise. Auguste Renoir, com a sua peculiar filosofia, é muito bem interpretado pelo veterano Michel Bouquet, e tanto Vincent Rottier nos traz um Jean Renoir que é ainda esboço do grande cineasta em que se transformará, quanto Christa Theret será a visão da sopitada luxúria personificada na modelo Andrée.
Por fim, a direção de Gilles Bourdos
nos traz a paisagem mediterrânea da Côte d´Azur como que vista pelas lentes da
pintura de Auguste Renoir, em que a cor, com os seus cálidos matizes de âmbar,
parece mais importante do que os riscos e a excessiva nitidez.
São duas
artes que se dão as mãos, para deleite do espectador.
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