Tornou-se inevitável a transferência da programação antes prevista para Guaratiba. Por força contingencial, e de repente, a Praia de Copacabana passou a concentrar todos os multitudinários eventos da visita do Papa Francisco ao Rio de Janeiro.
Toda a terra despejada no imenso descampado da Zona Oeste – denominado pelo Arcebispo D. Orani Tempesta Campus Fidei (Campo da Fé) com o assentimento do Papa Bento XVI – veio a transformar-se em lodaçal, por causa das chuvas contínuas que caíram sobre o Rio de Janeiro nestes últimos dias.
No enorme espaço se levantou um palco de 75 metros de largura, com quinze postos médicos, 4.400 banheiros químicos e 52 torres de som (Cf. O Globo). Os peregrinos seriam distribuídos em lotes. Esse campo, uma vez terminado, acomodaria sem maiores atropelos cerca de dois milhões e meio de pessoas. A área é, portanto, mais ampla do que o local ‘Quatro Ventos’, nas cercanias de Madri, utilizado na última Jornada Mundial da Juventude , que abrigaria um milhão e meio.
Todo o considerável investimento na preparação do terreno - dificultada decerto por situar-se em um manguezal – exigiu substancial investimento pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, investimento este até o momento não revelado pela autoridade competente.
Por força da concentração pluviométrica destes últimos dias, o lamaçal resultante afastou qualquer possibilidade de utilização de Guaratiba na programação das cerimônias da Jornada. Dessarte, foi literalmente por água abaixo a programação no Campus Fidei ideada pelo Arcebispo do Rio de Janeiro.
De qualquer forma, o cotejo com a Praia de Copacabana coloca questões muito pertinentes. O afastamento de Guaratiba, a longa caminhada que se fazia necessária para alcançar o sítio em questão, sem referir a pesada inversão de fundos que um terreno não só ermo, mas também exigindo inversões vultosas para adequá-lo a receber a prevista multidão (sem falar nas demais construções para o altar) - tudo isso semelha indicar que a praia de Copacabana, com suas belezas naturais, fornece local muito mais apropriado. Evitar-se-ia, assim, a duplicação de dispêndios, ensejando a nossa Princezinha do Mar o sítio para a colocação do altar-mor e o espaço para multidão de fiéis entre um milhão e meio e dois milhões. Não há comparação, de resto, em termos de facilidade de acesso entre Copacabana e as lonjuras de Guaratiba.
Para um homem simples como o Papa Francisco, não há negar que tais condições seriam mais do que satisfatórias. De certa forma, o desperdício com o Campus Fidei já se observara. Inesperada foi a intervenção de São Pedro, que inviabilizou a utilização de Guaratiba. A Prefeitura do Rio de Janeiro investiu para este último local literalmente a fundo perdido. Não sei se saberemos um dia qual foi este montante.
Volta-se para Copacabana e as instalações lá existentes. Com o benefício da avaliação a posteriori, se afigura que a criação – em área erma e imprópria (manguezal) – de um sítio alternativo para as instalações da praia de Copacabana implicam em questionável duplicação de despesas, sobretudo se se levar em conta a dificuldade de acesso do terreno de Guaratiba.
A tal propósito, releva assinalar quão o transporte por ônibus tem sido tão pouco cooperante. Em várias oportunidades, esse transporte coletivo pela sua escassez representou mais um obstáculo para os peregrinos da Jornada Mundial da Juventude.
O metrô, cujo estado lastimável é bem conhecido dos seus usuários – ou, se formos mais precisos, daqueles constrangidos à sua utilização – tem confirmado, com abundância de incidentes (constrangedoras panes elétricas, longas filas, o consequente atropelo e desconforto), o que já seria de esperar.
Diante do exemplo dado pelas críticas condições de um metrô de terceiro mundo, cabe a pergunta quanto ao seu comportamento nos dois magnos eventos programados para o Rio (Copa do Mundo e Olimpíadas). Por causa do desmazelo prevalente e geral atraso – o que se reflete em serviço precário – como é possível acreditar que a sua qualidade tenha um salto tecnológico ? No metrô de Atenas realizado por motivo das Olimpíadas, além da limpeza e da boa manutenção das estações, o usuário é informado por sinalizadores eletrônicos das próximas composições esperadas (em geral, três). Além disso, os vagões são modernos e os trens não atrasam. Alguma semelhança com o daqui, implantado estranhamente em linha única, o que torna o sistema assaz vulnerável a qualquer incidente ou acidente, e à consequente suspensão do serviço ?
Não é necessário ser adivinho para prever que o Rio de Janeiro terá mais problemas com a visita do Papa nos dias finais do programa.
Além do desserviço do metrô (foro estadual), comparecem igualmente os ônibus e os táxis (competência municipal). É estranhável que os ônibus – acostumados a circularem vazios entre fins de manhã e princípios de tarde - se assinalem, quando mais precisados pelos peregrinos, pela sua reduzidíssima disponibilidade. Por outro lado, em outro serviço regulado pela Prefeitura de Eduardo Paes, há preocupante incidência de taxis em que o preço para o transporte é estabelecido no “tiro”, vale dizer na marra, sem nenhuma relação com o que o passageiro local paga pelo uso desta condução.
Como a exploração pelo taxista reveste nestes casos características selvagens, caberia a sugestão de montar-se campanha de informação de parte das autoridades municipais para inteirar os peregrinos de seus direitos. A par de números de telefones (fixos e celulares) de fácil acesso, a viabilidade da denúncia possibilitaria tanto a repressão da prática criminosa, quanto mostrar para o motorista candidato a infrator que o seu deslize pode custar-lhe caro, além de dar ao usuário-peregrino a possibilidade de ser indenizado no montante em que a cobrança foi claramente abusiva.
Só poderá ser proveitosa para a Cidade Maravilhosa a imagem de simplicidade, sem a burocracia do gênero, que faça respeitar os direitos do estrangeiro. Tal eficiência costuma render mais visitas no futuro.
( Fonte: O Globo )
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