As manifestações organizadas pela CUT e a Força Sindical, inseridas no chamado “Dia Nacional de Lutas” não conseguiram reunir mais de oitenta mil pessoas em dezoito capitais.
Apesar do ‘feriado’ imposto ao restante da sociedade, inclusive com lock-outs de ônibus, o que prejudicou aqueles que tinham de trabalhar, o comparecimento dos sindicalistas não poderia emular o movimento da juventude, surgido na Pauliceia nas jornadas de junho, cuja espontaneidade, originalidade e caráter genuíno fez os mais velhos relembrarem as manifestações de junho de 1968 na Europa, a começar pelo chienlit em Paris.
Dado o caráter burocrático-partidário que hoje reveste as centrais sindicais, não se precisaria sequer consultar adivinhos e harúspices de maior nomeada para antecipar o presumível eco social dessas demonstrações, cuja pauta sói singularizar-se por lista de pedidos e reivindicações. Nada reflete mais a dependência burocrática, do que o comparecimento, noticiado pela Folha, de ‘manifestantes’ assinando recibos de R$70,00, pagos como ‘ajuda de custo’ para que fossem ao ato e se alimentassem.
Dentro desse quadro, seria prova de irrealismo esperar que o ‘Dia Nacional de Lutas’ tivesse condições de provocar qualquer maciça adesão da população, como foi o caso do movimento do passe livre de junho, que levou às ruas mais de um milhão de pessoas.
Naqueles dias memoráveis, a resposta atarantada do governo de D. Dilma, pelo seu caráter oco e oportunista, mostrou a contrario sensu o impacto das manifestações da juventude. Também no Congresso, do ceticismo inicial se intentou saltar para um falso deacordismo. De qualquer forma, a voz do povo ali soou forte e clara, a ponto de sepultar a infame Pec-37 contra o Ministério Público.
Enquanto as passeatas sindicais se centram em exigir maiores dispêndios do Erário Público, as manifestações de junho ainda ecoam pela sua pauta ética – determinando recuo do Congresso pela insolente pretensão de emendar a Lei da Ficha Limpa, e do Senado estabelecendo um regime de suplente único de senador sem parentes sanguíneos, mas ainda insatisfatório.
Há tentativas – tanto do governo de Dilma, quanto de partidos – de instrumentalizar o movimento do passe livre. O povo, no entanto, não é bobo, e nem será engodado por essas patranhas: a presidenta convocou a palácio uma reunião com as entidades sociais chapa-branca; e há partidos que de forma desavergonhada se apropriam da pauta do MPL para tentar passar ao eleitor gato por lebre. Essa patética patuscada não engana a ninguém, e só aproveitará aos marqueteiros que a conjuminaram.
A estória do cachorro gordo, mas com coleira, e o vira-lata magro ainda é pertinente. E desde que a UNE ganhou dotação pública, e passou a ser monopolizada por um partido, ela perdeu a legitimidade, e sobretudo a credibilidade.
Não foi por acaso que os integrantes das manifestações do passe livre escorraçaram das passeatas militantes de partidos como o PSTU, o PT e outros mais, que pretendiam pescar em águas turvas os benefícios do favor popular concedido a movimentos genuínos. Infelizmente, os partidos e, em especial, o Partido dos Trabalhadores tropeçaram feio, quando passaram da oposição ao situacionismo.
E se o poeta François Villon, da Paris ainda medieval, se lamentava a perguntar-se onde estavam as neves de outrora, a nós cabe deplorar que o poder deforme tanto, como a turma do Mensalão está aí para demonstrar...
(Fontes: Folha de S.
Paulo, O Globo )
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