terça-feira, 2 de julho de 2013

As Olheiras de Dilma

                                       
         Dilma está colhendo o que a húbris a levou a semear, com estouvada e arrogante imprudência, nesses dois anos e meio de mandato. Ao contrário de seu criador, desdenhou conselhos, cautela e cuidados que gente mais experiente não costuma regatear aos novéis governantes.
        Lula, apesar da própria sabedoria, colhida e não de graça na universidade das ruas de que nos fala Máximo Gorki, teve o bom senso de pautar-se pelas sugestões dos mais experientes em questões técnicas de governo, reservando-se a última palavra no mister da política, em que sobressaía aos demais companheiros.
        Guindada às alturas por interessado capricho de Nosso Guia, Dilma aliaria temperamento arrogante às ilusões da neófita, que acredita na capacidade de amoldar os fatos ao comportamento dos fâmulos e interesseiros que a cercam.
        Desdenhando a prudência, que é atributo duramente internalizado pelas lições colhidas em longa caminhada, ela cresceu, ou melhor, inchou com gente apequenada à  volta, que, para resguardar-se, não ousa mostrar-lhe o caminho decerto mais íngreme, porém ao fim mais promissor, do avanço cuidadoso, escorado em muitas conversas e mui ponderadas decisões, sempre acolchoadas pelo consenso, por mais árduo que se apresente.
       Quiçá por ignorância ou voluntarismo, a senhora desdenhou ouvir a voz dos mais tarimbados, e lançou-se pelas veredas de velhas ilusões, sem medir as consequências. Dos verdadeiros líderes já me reportei. Na senda do poder, eles não costumam avançar sem conhecer o terreno à frente, valendo-se do benefício dos especialistas – que são muitos e de opiniões disparatadas. Àquele que comanda cabe a tarefa de coletar informes e informações, de enfronhar-se do que está diante dele(a), com seus perigos e  atrativos.
       O verdadeiro chefe não tem o monopólio do saber nem da sapiência. Por isso, deixa a pressa para os jovens e aqueles que pensam açambarcar-lhe. Tampouco ele(a) se cerca de sabujos e de gente cegada por causas alheias. Com paciência, no meio da floresta de interesses que cercam o poder, busca paciente a palavra preciosa da indicação sem outra causa que a da maioria.
       Os erros cometidos por Dilma – que, ora, a perseguem – são, na verdade, derivados, eis que o Brasil não os estaria arrostando, se o Presidente Lula da Silva tivesse consultado menos o próprio interesse, e mais o da coletividade, ao impingir a um crédulo eleitorado  alguém em condições de ser  grande chefe de gabinete, mas sem o preparo, a formação, a vivência e a consequente humildade que são os raros atributos dos grandes líderes.
       Ao deparar no noticiário televisivo as olheiras da Presidenta, não pude evitar um aperto no coração. Eis que, não obstante – e a sua fisionomia, malgrado a maquiagem, não mente – tudo em que se prodigou, todos os seus feitos e tarefas, foram motivados por desejos que acredito sinceros em continuar na obra por um Brasil melhor, mais justo, e por conseguinte maior no concerto das potências.
       O bom Povo brasileiro bem o merece, porque é alegre e trabalhador, ainda que muita vez tenha pela frente situações injustas e mesmo indignas.
       Por força da idade, já conheci e privei com muita gente e diversos líderes. Sempre me provocou espécie que os maiores fossem mais acessíveis e, mesmo, mais humildes, enquanto os menores soíam pensar que o ouropel é ouro, e que as pessoas à volta deviam ficar ou ser mantidas à distância, ou tratadas com o menosprezo de quem se reputa muito importante.
      Não é preciso refletir-se muito para saber a razão desta diferença. Quem é superior, não menospreza as lições dos mais velhos e daqueles que o antecederam. Tampouco se sente ameaçado pela sua presença, menos por conhecer o próprio valor, do que por respeitar o próximo, e estar sempre pronto a colher as lições que dele possa receber.
      O líder conjuga valores e os soma. Conhecedor de seu lugar, sente-se à vontade,  não humilha nem subordinados, nem circunstantes. Por isso, não será presa fácil de fâmulos e cortesãos – que pululam em todas as capitais – e saberá servir-se da palavra, desinteressada ou não, dos muitos com quem privará.
     Dona Dilma, veja-se no espelho, pense no porquê dessas olheiras. Elas nos induzem a participar da difícil hora que atravessa, e desejar-lhe venha a superá-las. Pense mais um pouco, senhora Presidente da República. Nunca é tarde para remediar. Armada de suas boas intenções, trate de endireitar os respectivos caminhos, saiba conviver melhor com os seus colaboradores – não os tenha como meros subordinados ! – e dessarte poderá colher outras opiniões menos interesseiras, e respeitar as obras de seus antecessores, e até mesmo de seu criador, que não ousou ir contra o Plano Real, que o seu Partido tanto fustigara e desmerecera.
     Pense, minha cara Presidente, no interesse geral. Se bem o ouvir, as possibilidades de melhores avaliações pelo Datafolha estarão, quem sabe, na próxima curva do caminho.

 

(Fontes:   Rede Globo, Folha de S. Paulo )

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