Espionagem eletrônica
A perplexidade é a reação natural
diante da extensão da rede lançada pela Agência de Segurança Nacional
estadunidense para obter os famosos metadata
dos diferentes países. Na paranoica escala da NSA, o mapa de janeiro de
2013, disponibilizado por cortesia do técnico Edward Snowden, o Brasil
estaria logo atrás dos Estados Unidos, este último com 2,349 bilhões de
mensagens espionadas (telefonemas e
e-mails).
Se não há
número divulgado de mensagens para nosso país, a cor que lhe é dada no dito
mapa indica prioridade na vigilância de dados. Na América Latina, somos o alvo
prioritário, à frente de Argentina e México, e os demais com o verde mais
escuro que denota o menor interesse da NSA. Temos a mesma prioridade que a
Rússia. O rastreamento maior está reservado para os suspeitos costumeiros
(usual suspects), com Afeganistão (12,5 bilhões), Paquistão (11.7 bilhões), Irã
(11.5 bilhões), Arábia Saudita (7,4 bilhões) e Iraque (6,7bilhões). A China tem
igualmente alta prioridade, mas não tem indicadas as mensagens captadas no mês.A importância das revelações de Snowden é óbvia, e explica o encarniçamento da perseguição de Washington contra o ex-técnico da CIA. A denúncia de Snowden se insere em uma longa lista de pessoas que resolveram denunciar programas e políticas do governo estadunidense. No entendimento dessas pessoas, a revelação de tais políticas se inclui na luta contra o controle da informação, ou para a exposição de programas que atentem contra o direito à privacidade de cada um.
Na citada longa lista, se assinalam os Pentagon Papers (documentos do Pentágono) publicados inicialmente pelo New York Times, e mais tarde pelo Washington Post. O propósito era expor a política estadunidense para o Vietnam, com ações desconhecidas pela opinião pública, que provocaram o alargamento da guerra, assim como a sua propagação a outros países. Foi Daniel Ellsberg, funcionário do Pentágono, quem se atreveu à denúncia, que levou à sentença da Suprema Corte de 30 de junho de l971. Por seis votos a três, o Supremo considerou como inconstitucional a censura, a que visava o Governo americano de então.
Mais tarde, tivemos os WikiLeaks de Julian Assange, que é uma coleção de comunicações de missões diplomáticas americanas. Perseguido judicialmente, por um alegado estupro na Suécia, Assange contestou judicialmente nos tribunais de Sua Majestade Britânica a sua extradição para aquele país escandinavo, eis que via no procedimento uma maneira de lhe tornar possível a extradição para os Estados Unidos. Após esgotar os recursos no Reino Unido, Assange se asilou na Embaixada do Equador em Londres, onde ainda permanece.
Na mesma linha de revelação, se insere o cabo Bradley Manning, que fez o download (repasse) para o WikiLeaks de 250 mil telegramas dos EUA, assim como 500 mil relatórios do Exército americano (os Iraqi War logs e os Afghan War logs). Manning foi preso e se acha em juízo, correndo o risco de ser condenado a uma longa prisão.
Aaron Swartz, (1986-2013), que se suicidou a onze de janeiro do corrente ano, o jovem programador na internet que já se assinalara pela participação no webfeed RSS, como criador do website Reddit, e, provavelmente no contexto da organização digital Creative Commons promoveu o download da JSTOR (biblioteca digital fundada em 1995 por William G. Bowden, antes reitor da Universidade de Princeton). A JSTOR tem o acesso por assinatura. Dentro de seu acervo, há material mais antigo já de domínio público, que pode ser acessado gratuitamente. Swartz (já objeto de meu blog)por motivos não-esclarecidos, dos quais não tirou proveito algum, fez um maciço download de material da JSTOR. Caíu por isso nas malhas da justiça, tendo sido acusado judicialmente por promotores federais de fraude na internet e de onze violações da lei sobre crimes na internet, com multa de um milhão de dólares e 35 anos de prisão.
Submetido a tal pressão psicológica, agravada por séria enfermidade congênita, Aaron Swartz pagou com a vida o próprio idealismo digital. A curta, mas brilhante vida de Swartz foi objeto de artigo no New Yorker de 11/03/2013 de Larissa MacFarquhar (Crônicas americanas – Réquiem por um sonho)
O técnico Edward Snowden, refugiado de início em HongKong, logrou viajar para a Federação Russa, onde se encontra no setor internacional do aeroporto de Sheremetyevo. Até o presente, o asilo territorial que Snowden pleiteia – até o Itamaraty, como se sabe, recebeu carta do americano – se acha ainda em suspenso, mas há indicação de que os presidentes bolivarianos Nicolás Maduro, da Venezuela, Evo Morales, da Bolívia, e Rafael Correa, do Equador, estariam dispostos a conceder-lhe a autorização necessária para o asilo político. Os deslocamentos internacionais de Snowden estão dificultados, mas claramente não impedidos, pela sua falta de documentos de viagem, com o cancelamento pela Administração Obama de seu passaporte como cidadão americano.
Recentemente, conforme nota neste blog, a Alemanha ofereceu transporte aéreo para a Timoshenko, com vistas a proporcionar-lhe atendimento médico condizente para a ex-Primeiro Ministro Timoshenko, a que Yanukovitch persegue burocrática e judicialmente por seus apparatchiks, dentro do atual modelo de utilização política da Justiça. Tal modelo é visto com especial favor por Gospodin Vladimir Putin, o Presidente da Federação Russa. Yanukovitch, que lhe é próximo, aplica a cínica fórmula do atual senhor do Kremlin, na qual mostra um refinamento chinês, eis que chega à sofisticação de liberar a peixes menores da oposição, enquanto pretexta a impossibilidade de fazê-lo no que tange à sua principal adversária política, Yulia Timoshenko.
Seria apreciável que o desejo político da Alemanha de Frau Merkel, desejo este que tem sido apoiado pela União Européia, fosse fraseado em uma linguagem de maior empenho, e que mostrasse ao tardo senhor Yanukovitch dos problemas suplementares que a sua inércia acarretaria para o governo de Kiev.
Julgamento do Opositor Navalny
Em um jogo de cartas marcadas, com a justiça submissa, o público – que apóia Aleksei Navalny, a principal figura da oposição – há poucas dúvidas quanto ao veredito. O promotor Sergei Bogdanov pediu ao magistrado a condenação de Navalny por peculato a seis anos de prisão. Se imposta, a pena se estenderia além do atual mandato do presidente Putin. Dessarte, não teria o atual mandatário de enfrentar a candidatura do mais popular líder oposicionista.
Navalny se distinguira quando denominara o partido presidencial – Rússia Unida – como o ‘partido dos embusteiros e dos ladrões’. Além dos seis anos de prisão, Bogdanov acrescenta uma multa de um milhão de rublos (trinta mil dólares).
A sentença do magistrado é esperada para o dia dezoito. Nas presentes condições, não subsistem muitas dúvidas quanto a aplicação pelo juiz de que lhe solicita o representante do poder.
A aberta motivação política e a falta de consistência das acusações não preocupam os homens do Presidente Putin. Especula-se, no entanto, que para evitar maiores problemas, dada a falta de acusações críveis, seria imposta uma suspensão de sentença para Aleksei Navalny. Como ela teria o mesmo efeito que a aplicação nua e crua de o que o promotor requer, não se poderia desconhecer a priori esta demonstração de falsa moderação da justiça. Como no campo das acusações, a falsidade é a regra, não se poderia afastar esta saída hipócrita.
Egito. Indicação de ElBaradei
Com efeito, a designação de ElBaradei apresenta um sério risco para o partido islamita. Diante de sua sólida incompetência política, Morsi – que a despeito de ter todos os instrumentos do poder não soube usá-los no interesse nacional, cuidando apenas de empregá-los para fins políticos rasteiros – tornou mais fácil a explicação da oportunidade do golpe militar.
Agora resta verificar se a boa idéia de trazer para o governo o egípcio com maior perfil internacional – e a presunção de uma habilidade política não muito comum naquele milenar país – logrará suportar a oposição de um partido que não mais tem condições de permanecer no poder (abandonado pela própria incompetência conjugada com imoderada sede islamizante) – mas que pelo visto ainda dispõe do privilégio de inviabilizar escolhas políticas promissoras.
( Fontes: O Globo, International Herald Tribune, The New Yorker )
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