Os governos sul-americanos, por
estarem a descoberto, em termos de proteção contra a espionagem cibernética,
adotaram uma postura que pode render-lhes alguns dividendos junto a suas bases nacionais
de apoio, mas que nada lhes acrescenta em termos de segurança efetiva.
Assim como na
fábula, os três porquinhos só lograram proteção contra o lobo mau quando
construíram uma casa de material sólido. Tampouco creio que isto haja escapado
à trinca de Ministros de dona Dilma que deita falação a respeito mas continua a
deixar Brasil a descoberto nesse campo.Ao invés de espernear, seja em convocações de embaixadores, seja em questionamentos de chancelaria, o governo brasileiro deveria cuidar da casa, como os providentes porquinhos, tomando as medidas necessárias para evitar ou restringir (como ensina a História as proteções totais sóem ser ilusórias) os principais segredos de interesse nacional dos olhos ou ouvidos indiscretos da curiosidade da superpotência (ou de quem estiver a seu serviço).
Não será através de posturing – i.e., a encenação montada em mais de uma frente, feita com a consciência de que o reclamo não é para valer, destinando-se precipuamente ao público interno – que o Brasil se irá tornar mais seguro, sem ter de recorrer no futuro a esses embaraçosos artifícios.
O que fazer então ? O governo terá de providenciar um modelo mais sério e mais conforme à condição de potência emergente. Posto que o alarido relativo ao mágico acrônimo dos BRIC haja diminuído um pouco nesses últimos tempos, se quisermos a proteção da informação interna e a projeção da presença externa, será mister adotar medidas tendentes a viabilizar tais objetivos.
Dessa maneira, alguns recursos substanciais carecerão de ser desviados dos dispêndios em gastos correntes, com o incremento a fundo perdido do assistencialismo do modelo de poder lulo-petista. Esse paradigma, como é sabido, não se estende apenas às despesas com a bolsa-família e a bolsa-miséria – não me atrevo a preconizar sua redução -, mas também a outras várias que gritam por cortes.
Reporto-me à inchação dos ministérios e um basta ao empreguismo desvairado. A maior atenção à fazenda pública, com o maior controle sobre o ralo da corrupção, há de proporcionar os meios hoje carentes para um trabalho continuado tendente a viabilizar a implantação de informática nacional.
Esse nacionalismo não se pode valer apenas de discurso. Se o for, será presa fácil da corrente que não vê serventia nesse tipo de patriotismo. Não é de hoje que se sabe que informação é poder. Por não dispormos de tal proteção no passado, muitos segredos de estado foram à breca.
Quando nos falarem que é fora de moda a excessiva proteção da informação, caberá sempre a pergunta se esta suposta verdade é aplicada por quem nos recomenda o desarmamento na matéria.
Os três porquinhos, por fazerem o dever de casa, se puseram a salvo do lobo mau. A defesa de nossos principais interesses há de variar segundo as épocas. Quando o luso império contava no mar-oceano, el-Rei protegia os mapas, guardados a sete-chaves, pela sua relevância estratégica. Mais tarde, o brasileiro Alexandre de Gusmão, secretário de D. João V, negociou exitosamente o Tratado de Madrid, em que prevaleceu sobre um grande de Espanha, o senhor de Lencastre, porque tudo sabia sobre os vastos sertões, com as informações colhidas pelos padres-matemáticos e as bandeiras e entradas pelo Continente.
Não será com empreguismo, corrupção e retórica que iremos montar um modelo para atender aos interesses do Brasil.
( Fonte: Jaime Cortesão, esp. Alexandre de Gusmão e o
Tratado de Madrid, Os Velhos Mapas).
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