Os usuários do Metrô no Rio de Janeiro enfrentam diariamente um transporte de massa que é deficiente e malconservado, sendo isso desconfortável e pouco confiável em termos de horário e de mínima prestação de serviço.
O ingresso nas composições do metrô já evidencia a sua péssima conservação, a vetustez da maioria dos vagões, e a consequente má-aparência do equipamento. A impressão tanto para o usuário que tenha alguma referência a serviço digno desse nome, quanto a sua comparação com sistemas de transporte em outras cidades e países, será a de um metrô sem conservação adequada.
Tal juízo não se reporta apenas aos trens, mas também às estações. A falta de cuidado – que vai até a negligência em termos de limpeza - é outro sintoma de agressiva desatenção para com os direitos do usuário.
O movimento do passe-livre surgiu em São Paulo, embora ironicamente seja difícil imaginar um serviço mais ineficiente e desrespeitoso do público do que o metrô no Rio de Janeiro. Com vagões que até goteiras têm, sem inspetores que tratem de educar um público muita vez marcadamente ignaro ou então displicente no que tange a regras mínimas de atenção seja com as mulheres, seja com os idosos (os vagões destinados ao público feminino são invadidos por homens, na maioria jovens; e os assentos reservados a idosos, grávidas e deficientes físicos são ocupados por gente válida, que com desfaçatez ou ignorância os consideram disponíveis); e a falta de qualquer respeito a normas de convivência constitui um dos sintomas da anomia que prevalece no metrô carioca.
Por isso, a pane de ontem (mais de duas horas de interrupção no serviço !) na provisão de energia ao metrô só chamou a atenção por coincidir com a Jornada Mundial da Juventude. A anomia no metrô é praga cotidiana que não deveria ser enfrentada pelo carioca, se houvesse um mínimo respeito ao usuário. Esse serviço sofre da precariedade sistêmica por sua dependência do governo do Estado. Por uma dessas idiossincrasias que infelizmente nos infernizam a existência: como o serviço de bondes de Santa Teresa depende da Secretaria de Transportes do Estado – recordam-se da censura que o Secretário Júlio Lopes (PP) fez ao motorneiro que morreu por causa de bonde desgovernado, na tentativa de evitar o desastre para os passageiros ? – o mesmo ocorre com o metrô.
O prestígio do Governador Sérgio Cabral, como se verifica pelo acosso de que padece até na sua residência, na Zona Sul do Rio de Janeiro, sofre deveras em consequência. É espantoso que se estabeleça um transporte de massas como o metrô do Rio de Janeiro, que não é confiável, nem oferece migalhas de eventual conforto aos usuários. Até me parece útil que estrangeiros venham a enfrentar o descalabro diário que faz parte do cotidiano do carioca. Por coletar impostos e taxas mil, não é favor da autoridade – seja estadual ou municipal – que dê atenção e mantenha em ordem os serviços de transporte coletivos.
Além de dúbia regularidade e frequentes suspensões de serviço – como a de duas horas de ontem – o metrô não oferece conforto, nem uma boa informação (é usual em outros metrôs estrangeiros que o público seja informado dos tempos de chegada das três próximas composições). Como esperar que isto aqui aconteça, em um serviço sem segurança e respeito pelos direitos dos usuários ?
Diante desse quadro dantesco, algumas pessoas podem até suspeitar – é difícil imaginar o porquê – de que a corrupção seja uma das principais causas da falência do metrô em suas prestações mínimas que em outras plagas são apanágio desse transporte (segurança, limpeza e pontualidade no serviço).
Por que será que o transporte público no Brasil deva ser desrespeitoso com o usuário? Para corrigir esta situação, a concessionária do serviço deveria instruir o passageiro a respeitar regras básicas de convívio, assim como assegurar-lhe transporte digno e confortável. O ambiente e a ordem prevalentes já são meio caminho andado para elevar a qualidade do serviço.
( Fonte: O Globo )
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