Como a atual situação política parece caminhar – e a imagem se adequa ao modelo hoje prevalente que é o dos movimentos de rua – não se pode deixar de observar com preocupação o papel a ser exercido por Dilma Rousseff neste ano e meio de mandato que lhe resta.
Os leitores deste blog não me hão de contraditar se reiterar a minha posição crítica diante da Presidente da República. Se não votei nela, como é manifesto, no entanto, não lhe tenho negado apoio, quando tal se me afigura no interesse do país. Se não tenho carteira para a oposição sem peias, tampouco me confortaria adotar atitude negativista, que nega evidências.
Penso no país e nos seus limites. É nesse contexto que se devem ler os meus comentários. Por isso, não há de surpreender que em artigo recente me tenha reportado às dificuldades colocadas na trilha presidencial, com a esperança de que, para o bem da sociedade brasileira, ela venha a superá-las.
Antes de seguir, um parêntesis. Enquanto o movimento do passe-livre, surgido na Paulicéia, tinha a faísca criativa em mostrar que os diversos soberanos, nos seus respectivos poleiros de poder, estavam nus, daí a singeleza de suas postulações, bem outra é a imagem dos adesistas, com a sua pilha de reivindicações, todas elas – de pelegos ou de políticos – carregadas da demagogia do que pretendem arrancar do Erário, que para tais marchas é a eterna cornucópia. Um prêmio para quem tenha acaso deles ouvido alguma promessa de préstimo ou serviço à Nação. A sua postura será sempre a do egoístico Mais !
Não carece de muita imaginação descrever o longo momento atravessado pela Presidenta como uma inesperada estação no inferno astral.
Não há negar que muitas das ervas daninhas e do inço que avançam por muitas partes nesses brasis, foram plantadas pela administração de Luiz Inacio Lula da Silva. Se o Brasil se meteu a elevar obras faraônicas não foi só por culpa do padrão FIFA (e de ameaçados pontapés em traseiro), que aqui ficamos com esses magníficos estádios, que tão logo prontos pelo poder público, são privatizados para particulares. Em outras palavras, para o Estado o ônus orçamentário, e para a empresa privada, o lucro. Singular capitalismo este, que propugnou o estadista Lula !
Dona Dilma, quando discursou no Mané Garrincha, ao lado do gnomo Joseph Blatter, presidente da FIFA, colheu a primeira vaia de uma série que corre o risco de banalizar-se. A seleção nacional iniciava brilhante trajetória, que a levaria a mais uma taça, e ainda por cima, às custas da campeã mundial, afogada pelo espírito Filipão – avalanche no início, sem desdenhar as faltas – e o renascer do jovem craque Neymar.
O efeito vaia continua. Os apupos a Dilma se repetem ou por menor espontaneidade, como a voz rouca e boçal da turba, ou por estranho sintoma de maria vai com as outras.
Enquanto isso, no Congresso e até mesmo em dependências do Planalto, se entra na sazão das críticas ou dos suspiros por um deus ex-machina.
A Presidente Dilma por vezes, é forçoso reconhecer, facilita esse trabalho nas sombras. Sobre as suas costas recaem muitos doestos e até queixumes, das eternas viúvas do passado.
Nesse particular diferem como a água do vinho os cantos plangentes dos que fervidamente aguardam a volta de D. Sebastião, um alter ego de resto bem vivo, ainda que egresso de dura batalha, ou os que censuram a apedeuta política pela inabilidade no trato com as excelências, ou o errático procedimento diante dos novos desafios.
Quanto a este segundo aspecto – o despreparo político de Dilma – há pouco a fazer, por mais que saia caro para o Tesouro a falta de um projeto coerente para atravessar os insidiosos desafios de Cila e Caribde.
No que tange, no entanto, aos anseios desse novo e ainda enrustido sebastianismo[1], se erige como se fora recurso salvador a volta do antigo Presidente. Sem embargo, seria apelar para um estranho bombeiro, eis que foi por sua iniciativa que Dilma Rousseff foi eleita em 2010. Se escolherá, a critério do freguês, se não cabe responsabilidade ao criador pela criatura, diante da sua notória carência de experiência política.
Já me ocupei deste tema, e nada há a fazer se o corpo eleitoral obedece aos ditames do chefe político. Decerto, serão necessários muitos anos para que se supere esse virtual cabresto, que vai contra o interesse do Povo quando se promovem (e se gabam) eleições de postes em Pindorama.
Mas o que me causa estranhável assombro é que se pretenda impingir-nos como mágica solução a reentronização de quem é, em última análise, o responsável por esta crise.
(Fonte subsidiária: Folha de S. Paulo )
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