domingo, 7 de julho de 2019

Joshua Wong - novo signo da Liberdade ?


                        
          O massacre de Tiananmen ocorreu por força de circunstâncias já demasiado conhecidas - a viagem do Premier Zhao Ziyang para a Coreia do Norte, como o grupelho conservador se prevaleceu de sua ausência através de Li Peng, convencendo a Deng Xiaoping a publicar editorial provocador no jornal oficial, com o que contribuíu para o enrijecimento da posição dos estudantes na Praça da Paz Celestial.
               Quando Zhao Ziyang volta da viagem à aliada Coreia do Norte, as sortes já estão lançadas. Nesse momento, a delegação brasileira, chefiada pelo então presidente José Sarney, já se apresta a partir. Na chamada cidade proibida, já às vésperas da partida de regresso a Brasília, encontro em uma sala o Primeiro Ministro Zhao Ziyang. Eu o comprimento, pois naqueles poucos dias de estada de nossa delegação, tivéramos oportunidade de estabelecer conhecimento, ainda que necessariamente superficial.
               Desse breve encontro me resta o quadro de um entristecido  Premier, que me transmite impressão de quem não mais esteja no gozo de plenos poderes. Era algo por certo difícil de descrever, que se sente mais pelo ambiente, e pela atmosfera que o cerca, e que, para minha surpresa - pois eu de nada sabia sobre o processo em curso -, não mais transmite o aparato visual que sói cercar a posição de alguém que formalmente se subordina diretamente ao então homem forte da RPC, Deng Xiaoping.

                 Na atualidade, Joshua Wong é  lider de corrente democrática em Hong Kong, que luta contra a Lei da Extradição, que Carrie Lam, chefe do Executivo da ex-colônia britânica, propõs  para a ex-colônia.  Como ele explica, essa polêmica Lei  constituiria uma ameaça para as pessoas da ex-colônia para a China, e até mesmo  estrangeiros que vivam em Hong Kong, assim como   pessoas que estejam de passagem pela ilha.
                    Como frisa  Wong, se a tal lei for aprovada, a linha que separa os dois Judiciários desaparecera.  Nesse contexto, o líder democrata sublinha que a política de linha dura continua sob o regime do presidente Xi Jinping.  Segundo relata, no último mês, a polícia insular usou gás lacrimogêneo quase duzentas vezes, assim como balas de borracha contra as pessoas. Consoante Wong assinala, os demonstrantes em Hong Kong sofrem  perseguição política e ele próprio já foi preso três vezes. Também legisladores, eleitos democraticamente foram destituídos.

                   Consoante Wong, as coisas não mudaram muito desde os protestos de 2014. Assim, a política de linha dura continuou sob o regime de Xi Jinping. No último mês, a polícia usou gás lacrimogêneo quase duzentas vezes e também balas de borracha. Sofrem perseguição política, ele próprio já foi preso por três vezes, e legisladores eleitos democraticamente foram destituídos de seus cargos.
                  Wong explica que o movimento agora não tem líderes, porque se os tiver, eles serão alvo fácil para a perseguição de Beijng. Agora, sem líderes, como um movimento de iniciativa pessoal, será um desafio maior silenciar a voz das pessoas.
                 Indagado sobre as razões do incremento do apoio popular, Joshua Wong foi direto: "Em 2014, quando duzentas mil pessoas ocuparam as ruas de Hong Kong, nós dissemos que voltaríamos. Cinco anos depois, estamos de volta com uma determinação ainda maior, eis que cerca de dois milhões de pessoas foram às ruas. A razão simples: a linha dura de Beijing, e a supressão de liberdades aumentou desde   2014, e é por isso que tanta gente se viu compelida a unir-se às manifestações, descendo às ruas."
                  No que tange ao apoio do setor de negócios, também cresceu a participação pessoal de gente a ele ligada.  Na verdade, a lei de extradição é uma séria ameaça à liberdade econômica.  Cinco anos atrás, os lideres empresariais se opuseram ao movimento dos guarda-chuvas.(*) Agora, segundo asseverou Wong, o empresariado está do lado dos demonstrantes de Hong Kong.  A explicação é que a liberdade política e econômica está sob ameaça de Beijing, e empresários temem ser extraditados para a China continental.  
                  Perguntado sobre a eventual reação dos manifestantes, diante da ameaça do governo chinês ao prometer "tolerância zero" contra os protestos, o líder Wong disse: "A   população de Hong Kong não tolera a repressão de Beijing. Nós vamos manter nossa luta. Mais de 52 ativistas foram presos nas últimas semanas. A lei pode ser ratificada nos próximos meses, e é por isso que houve a invasão do Parlamento.  Dos 7 milhões de habitantes de Hong Kong, dois milhões se juntaram a nós nos protestos. Mas parece que Beijng ainda não entende a importância de respeitar a vontade das pessoas."

                  Consoante o repórter, no contexto da necessária prudência, sobretudo tendo pela frente o massacre  de Tiananmen (1989), dever-se-ia contabilizar os avanços e evitar provocar uma repressão que destrua o movimento.                             
                  A esse respeito, assim se manifestou Joshua Wong: "Não estamos ocupando as ruas todos os dias, apenas uma ou duas vezes por semana. Espero que as pessoas entendam que a ameaça de Beijing continua e que é nosso dever manter tal batalha. Xi Jinping deve permitir que nosso povo tenha eleições livres e democracia."
  
                Indagado sobre o seu pedido de apoio internacional, o repórter ponderou que isso também pode servir de pretexto para Beijing afirmar que o movimento é uma conspiração externa... O que espera de outros países?

                Se a lei de extradição passar, tal significará uma grande erosão nas liberdades das  pessoas de Hong Kong, mas também será ameaça a pessoas que viajarem,v.g., do Brasil  para cá, por exemplo. Qualquer brasileiro que vier a turismo ou negócios estará sob risco de ser extraditado para a RPC. Líderes mundiais deveriam preocupar-se com o  fato de que não haverá garantias à liberdade  econômica e a segurança pessoal.               
                            
        A Iniciativa Cinturão e Rota é o plano de Beijing para expandir sua influência.  Espero que as pessoas se lembrem de que Hong Kong é uma cidade global. Se as liberdades econômicas estiverem ameaçadas, isso poderá causar danos ao ambiente de negócios a nível global. Por isso, a garantia às liberdades econômicas e políticas de Hong Kong é importante e benéfica para o funcionamento  do mercado financeiro mundial.
             Perguntado sobre a música "Cante Aleluia ao Senhor", que se tornou o hino dos protestos, e se isso aumentou o incômodo de Beijing, eis que na RPC não há liberdade religiosa, Wong respondeu: Acho que sim. A liberdade religiosa em Hong Kong está sob ameaça, e a autocensura dos políticos tornou-e frequente. Esta é a razão de as pessoas se terem tornado mais ativas em movimentos sociais.
               Sendo uma das figuras na linha de frente dos protestos, teme uma punição severa de Beijing para que sirva de exemplo ?
                 Ao que Joshua Wong respondeu : "Já fui preso três vezes, as ameaças não podem derrotar-me. Só me tornam mais forte para continuar a batalha."

( Fonte: O Globo )    


(*) O movimento dos guarda-chuvas tomou esse nome porque os demonstrantes usavam guarda-chuvas e sombrinhas para ocultarem os próprios rostos e, por conseguinte,a respectiva identidade, da polícia e os guardas da RPC."

Nenhum comentário: