terça-feira, 23 de julho de 2019

A patética marcha do Brexit


                              
         Liderada por Mark Hodgkinson, sob a desfraldada bandeira da União avança pelas estradas da ilha britânica, por 450 km, a patética caminhada de um punhado de velhos e de gente de meia idade, no caminho de Londres.
          O líder, em bermudas, empunha  pequeno cartaz de papelão em que está escrito em letras brancas "Junte-se a marcha para sair".

          Ao ver esse punhado de gente velha que atravessa a pequena Inglaterra, a reação de quem contempla tal espetáculo mistura perplexidade e um certo embaraço.
             São aquelas cenas que provocam a expressão inglesa - uma dor no pescoço - , em que a incredulidade está presente na companhia de sensação esquisita, de quem assiste a uma cena que lhe provoque desconforto e até incredulidade.
              É de recordar-se então da velha maldição: não deseje muito essa coisa, porque ela pode virar realidade.

              Cameron não foi decerto o primeiro a pôr em risco a presença da Inglaterra nesse grande cometimento do Velho Continente.  O próprio De Gaulle, por outros motivos, barrara o caminho de um punhado de políticos ingleses que não tinham dúvidas sobre a necessidade, tanto política, quanto econômica, da  união europeia. Com o desaparecimento do velho general, essa união se faria, mas as ilusões do poder britânico e de sua arrogante insularidade permaneceram. Por isso viriam mais de um plebiscito, convocados por líderes ingleses, sob pretexto de acomodar segmentos ainda ligados ao passado, em que moradores de Downing Street 10   seguiam brincando com fogo, como o próprio Tony Blair, até que a ficha cairia nas mãos de alguém com voo mais curto, como David Cameron.  

                 Eis-me a repetir palavras, frases e pensamentos que já expressei nessas etéreas páginas. Será talvez o karma desses erros colossais, que destróem carreiras, dividem países, e o que é ainda mais cruel, por serem tão burocraticamente mesquinhos, trazem muito sofrimento aos moços e às novas gerações, como a própria juventude dessa orgulhosa ilha que contempla os próprios sonhos desmanchados, pela displicência de uns e o stiff neck de outros, além das ilusões de muitos, que imaginam o passado como se fora um corpo guardado em perfeito refrigerador, de que se possa retirar na louçania e  viço da juventude com todas as pretéritas grandezas que os livros de história armazenam.   


(Fonte: Folha de S. Paulo )

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