quarta-feira, 28 de maio de 2014

O Controle da Mídia

                            

        Até o momento, a democracia brasileira tem logrado evitar as tentativas de setores do Partido dos Trabalhadores de instaurar no Brasil o chamado controle social da mídia.

        Nesse sentido, Franklin Martins, ministro da Comunicação Social durante o governo Lula da Silva preparou proposta de regulamentação, que intentava normatizar o setor da radiodifusão.

        Dentro do mesmo escopo, o ex-Ministro Martins defendia igualmente a criação de Conselho de Comunicação para regular o conteúdo de rádios e televisão.

        Sob o diáfano véu de muitos congressos ligados a e dominados por setores intervencionistas do PT, se buscou dar a impressão (a) de que se tratava de reivindicação democrática da base e (b) de cercear o poder opinativo da mídia (definida de preferência de forma abrangente), sob a normativa programática do intervencionismo de estampo chavista no que concerne à informação.

        Essa tese, que conta com a simpatia (antes distante, mas hoje bem mais próxima) do líder máximo Lula da Silva, e das correntes da esquerda e da ultra-esquerda petista, por sorte da democracia brasileira ainda não vingou.

         Franklin Martins pode ser passível de muitas restrições, mas seria suma injustiça atribuir-lhe pecha de falto de persistência no levar avante a causa da censura da comunicação, por mais inconstitucional que se afigure o arrocho do pensamento público.

         Como lacrimeja de inveja diante de o que acredita o avanço desse controle sob o regime neopopulista introduzido pelo finado Hugo Chávez, e hoje continuado, pelo discípulo e caminhoneiro Nicolás Maduro, na Venezuela, e por Rafael Correa, no Equador, esse setor do PT – sobre o qual pode ocasionalmente volitar Lula da Silva – obteve em recente reunião no Palácio do Alvorada – como informa a Folha -  da candidata à reeleição Dilma Rousseff que ela tope, em hipotético segundo mandato, implementar a regulamentação econômica da mídia.

         Dilma, que para sua honra, engavetara em seu atual mandato a dúbia reforma que declara objetivar o controle do conteúdo da mídia, resolveu ceder em parte, ao sinalizar que admitia tratar da parte econômica: “Não há quem me faça aceitar discutir controle de conteúdo. Já a regulação econômica não só é possível discutir como desejável.”

         O mais interessante no capítulo é que nem o Supremo, nem o Palácio do Planalto nada tem efeito para objetivarem o banimento da censura, sob qualquer forma, do Brasil. Os leitores do meu blog terão acompanhado a saga da censura ao Estado de São Paulo, até hoje de pé, a despeito de determinada por sentença inconstitucional do Desembargador Dácio Vieira do TJ-DF, assim como pululam, nos grotões e em certas metrópoles, formas de censura judicial e de outro jaez, como o biográfico, que até agora tem conseguido impedir venham à luz biografias como a de Roberto Carlos e de muitos outros. Tanta inação ou tal falta de sentido de oportunidade – quando o Supremo enjeitou valer-se de juízo de liminar para varrer por inconstitucional a dita censura ao Estadão – nos acende a luzinha da dúvida quanto à vontade política de afirmar uma verdade que nos primeiros dias da Constituição dita Cidadã era objeto de ensurdecedor consenso. Será que algum dia vamos expulsar – contra os Sarney e a sua grei – a censura, camaleônica ou não, do Brasil, e bradar, Censura, nunca mais! como o fez Fernando Lyra ?

        Mas voltemos a dona Dilma. Se a sua heterogênea coligação dos ex-faxinados, da Bolsa Família e demais assistenciados, lograrem a dúbia proeza de entregar-lhe de novo a taça para quem nos trouxe a inflação de volta (entre outras supostas benesses), e confirmar o seu desígnio de, num almejado segundo mandato, proceder à regulamentação dos artigos 220 e 222 da Constituição. Embora Lula da Silva chegasse a defender a regulação da mídia num tom que foi interpretado como eventual senha para debater também um controle de conteúdo da imprensa, pode-se garantir que uma porventura reeleita Dilma continuará a vetar o ingresso dessa nova censura apadrinhada por Franklin Martins et al. ?

         É insondável se tal ampliação do desígnio do grande líder seja argúcia de algum inventivo assessor, ou se efetivamente provem do grande timoneiro, será objeto de interpretações futuras, pois, sem o saber, Lula da Silva pode emular o oráculo de Delfos nas propositais ambiguidades.

         Sem embargo – e quanto a isso não há dúvidas – os companheiros se alegram ao ver que dona Dilma concorde afinal nessa reforma (ou reforminha), que, na verdade, mira, como o deseja o PT de Rui Falcão e do ex-ministro Franklin Martins, o domínio da Rede Globo. Dilma, no entanto, busca conter o açodamento dessa aliança de ocasião. Consoante afirmou, muita gente (leia-se a esquerda petista e quem sabe, Lula da Silva) “confunde regulação com controle de conteúdo, isso não posso aceitar”.

           Querendo esclarecer, mas na verdade tornando as águas inda mais turvas, acrescentou a  Presidenta:   temos de qualificar esse discurso” e mais adiante “o presidente Lula está discutindo regulação”.

            Não é por aí. Ao invés de querer sufocar o pensamento, se deveria cuidar do Brasil, de sua economia e de sua situação em geral. Sair desse chavascal em que nos fazem viver e cuidar do desenvolvimento pleno, sem mordaças, atalhos e todas as chagas do subdesenvolvimento, a começar pela corrupção e seus corifeus.

 

(Fonte: Folha de S. Paulo)

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