domingo, 25 de maio de 2014

Colcha de Retalhos B 20

                            

Eleições na Ucrânia

 

       Como seria de esperar, as seções eleitorais nas regiões ocidentais, de fala ucraniana, registram uma forte presença dos eleitores. Já  no oriente, o afluxo dependerá  de quem controle os distritos. Na área de Donetsk, muitas seções estão fechadas, por determinação dos separatistas pró-russos.  Alguns eleitores que tentam votar manifestam o seu descontentamento com tal atitude. Em uma dessas seções trancadas, os erros na mensagem deixada na porta indicam  a proveniência pró-separatista, que procede na sua maior parte das classes mais humildes.

        As pesquisas apontam folgada liderança nos sufrágios de Petro Poroshenko, de 48 anos, que é um grande empresário (o homem do chocolate) e que seria pró-ocidental.  A segunda colocada é a conhecida prisioneira de Viktor Yanukovych, Yulia Timoshenko. 

         Poroshenko já apoiara o presidente Yanukovych (foi seu ministro do Comércio e Desenvolvimento Econômico), como tinha sido ministro do Exterior, do antecessor Viktor Yushchenko. De Yanukovych, o oligarca Poroshenko se afastara bem antes de sua fatídica escolha pela União Aduaneira de Putin, em detrimento da proposta da União Europeia (o que precipitaria o levante da praça Maidan e a subsequente fuga de Yanukovych).

           Segundo os observadores, os votantes na região oriental (a de fala russa) acorreriam em maior número às urnas eleitorais, se a presença dos ‘manifestantes’ pró-Rússia não os dissuadisse ou mesmo impossibilitasse o exercício desse direito pelo fechamento das seções. Sem embargo, a região  do Leste, máxime nas áreas da antiga república de Donetsk, isto é, aquelas  no entorno da linha férrea que vem de Belgorod na Rússia (onde estão acantonadas as tropas de quarenta mil do exército russo) e se estende até Luhansk no extremo leste e Mariupol, às margens do Mar de Azov,  a votação deverá ser baixa, com muitas abstenções forçadas. No restante das províncias do Leste deverá ficar claro o que realmente significa esse desejo de secessão de regiões da Ucrânia. É um movimento minoritário, exacerbado do exterior (leia-se a campanha da mídia e os elementos de uniformes descaracterizados de gospodin Putin), e que só prevalece através da força bruta e da intimidação

           Por motivos não esclarecidos, a principal contendora de Poroshenko, Yulia Timoshenko (que perdera apertado para Yanukovych no pleito anterior) não ameaçaria a liderança do ex-Ministro de Yanukovych.

            O que restaria determinar é se haverá ou não segundo turno, pois não se exclui a possibilidade de que Petro Poroshenko obtenha a maioria absoluta.      

 

Governo Dilma
 

      Em geral, os jornalões deixam as estatísticas para a edição de domingo. Desta feita, na sexta a Folha inovou, publicando, com chamada de primeira página, um quadro com cálculos de despesas do Governo federal, dando realce às despesas totais com a Copa do Mundo.

      Os gastos de União, Estados e Municípios para o evento somam R$ 25,8 bilhões. Dada a necessidade de atualização desses dados – eles começaram a sete anos, tendo sido concentrados nos últimos três – é provável que se aproximem dos R$ 30 bilhões da usina de Belo Monte, no Pará.

      Chama a atenção que um ano de Bolsa Família (R$ 24,7 bilhões) está muito próximo do dispendido com a Copa do Mundo. Nesse caso específico, o dispêndio com a bolsa família, sendo assistencialista, é feito a fundo perdido,

      Nesse quadro dos encargos do Governo federal, a estatística não sinaliza a despesa adicional provocada desde o Governo Lula, com o aparelhamento pelo  PT mediante a contratação a título estável de novos funcionários.  O incremento dos gastos correntes, mantido de forma sustentada através de interminável série de concursos para a Administração Federal, importou em inchação considerável dos quadros da União. Com isso o Estado fica desprovido de maior elasticidade de gestão e de melhor emprego dos fundos públicos. Através do burocratismo, sobrecarrega-se a União e se criam verdadeiras castas dentro da Administração, com maior peso de encargos para a União, sem correspondente ganho em efetivo aumento na qualidade do serviço.

      Seria interessante que em cálculo no futuro do gasto federal anual se obtivesse a parcela relativa à inchação do funcionalismo, por força dessa política de aparelhamento do Estado, que vem sendo realizada de forma tão persistente pelas administrações petistas de Lula da Silva e Dilma Rousseff.

 

Vitória de Nuri al Maliki no Iraque

 

      Supostamente a guerra de Bush júnior contra o Iraque de Saddam Hussein seria para castigá-lo pelo suposto apoio dado ao ataque terrorista contra as Torres Gêmeas do World Trade Center em onze de setembro de 2011. Também alegadamente pesaram para o conflito – que seria breve como o desejava o Secretário da Defesa Donald Rumsfeld – as armas de destruição em massa (WMD) na abreviatura brandida pelos neo-cons[1], de que o ditador de Bagdá dispunha e que precisavam ser destruídas. Por cima de tudo, se estabeleceria um regime democrático no Oriente Médio !

      Nunca uma guerra teve tão falsas motivações: Saddam não ajudara Osama bin-Laden, as armas de destruição em massa não existiam, e nem o resultado do ‘breve conflito’ levou ao estabelecimento de autêntica democracia... Ao invés, Bush Jr. obedecendo aos ditames de Dick Cheney, Rumsfeld e a caterva dos neo-cons provocaria enormes déficits orçamentários para Tio Sam e encetaria o famoso declínio estadunidense, que se espraia pelo interior americano, com o desemprego e o fechamento de indústrias.

     Depois de sacrificar tanta gente – americana e iraquiana – a guerra de Bush jr. legou para o presente um governo xiita – o de Nuri Al Maliki – que é próximo aliado do Irã! Os métodos de governo do premier al Maliki, com a sua mão pesada, tem aumentado o dissenso no interior do país.

     O magro triunfo de al Maliki – obteve mais uma vez a vantagem relativa, mas não tem maioria absoluta na Assembleia – não impede que ele logre continuar no poder, ao compartilhá-lo com coalizões xiitas rivais.

      No entanto, continua o enfrentamento entre as duas maiores seitas religiosas no Iraque: o xiita contra o sunita. E essa luta não reveste apenas as características parlamentares, mas também o enfrentamento armado. Por isso, os métodos autoritários são os preferidos de al Maliki.  Não fomentam o clima de paz, necessário para o desenvolvimento do Estado, mas pelo menos, no seu entender, são instrumentais para a sua permanência no mando.

 
O que é a legalidade para a China?

 
        Pelo visto, a República Popular da China tem pressa. As suas operações cibernéticas parecem provir de país que não respeite a legalidade e o fair play nas relações comerciais.    

        A atual superpotência não é decerto infensa a servir-se de meios extralegais para penetrar nas comunicações políticas, pessoais e até econômicas de indivíduos e dirigentes políticos. Para tanto, ela se prevalece de seu avanço tecnológico na velha arte da espionagem, e se não fossem pelo contratado da National Security Agency, Edward Snowden, a maior parte das pessoas e instituições visadas estaria até hoje nas trevas da ignorância quanto à sua condições de vítimas da vez. E não é, como o demonstrou Snowden, que a NSA tenha muitos cuidados quanto à extensão de sua maciça indiscrição.

        Nesse sentido, a reação de nossa Presidente Dilma Rousseff encontrou largo e compreensível apoio. Discordo apenas da maneira de enfrentar tal desafio. O costume latino-americano de querer proteger-se com as cortinas do respeito formal à soberania é no meu entender atitude irrealista e de escassa serventia. Para proteger as próprias comunicações, devemos criptá-las de maneira eficiente, investindo meios e estudos com vistas a protegê-las, não através de posturas, palavras e até documentos de circunstância, mas por instrumentos tecnológicos que nos proporcionem o manto não da retórica, mas de trabalho bem-feito e aturado, que nos garanta preservar a confidencialidade por mecanismos e sistemas que honrem a inventiva de nosso Povo e a sua capacidade de arrostar desafios. Para tanto, o único caminho seguro está no trabalho dedicado e na inversão dos meios indispensáveis, tanto em dotações quanto em desenvolvimento nacional de técnicas e aparelhos consentâneos.

          Mas voltemos ao comportamento cibernético da RPC. Um país que não só aspira, mas caminha para tornar-se a principal potência internacional, não poderia eticamente admitir servir-se de métodos do crime organizado para obter informações de segredos industriais e comerciais de seus concorrentes dos Estados Unidos.

          As empresas americanas espionadas, todas elas de grande porte e que negociavam com firmas chinesas, ou tinham relações com empresas estatais da RPC, as quais recorreram ao auxílio de sofisticada espionagem, para obter informações privilegiadas ou danificar um computador protegido.

          Assim, a Westinghouse Electric Co. (eletricidade e energia nuclear), ao negociar a construção de usinas nucleares com empresa estatal chinesa, teve roubadas informações secretas no design de tubulações.  Por sua vez, a SolarWorld, especializada em energia solar, foi roubada em informações de custos e preços. Por isso, a empresa perdeu mercado para concorrentes chineses. Outras empresas que foram fraudadas pelos hackers chineses: a USSteel (aço), a US Steel Workers Union (aço), Allegheny Technologies Inc.  (metais) e a Alcoa, a maior empresa de alumínio.

            O FBI (Bureau Federal de Investigações) distribuíu retratos e notas informativas sobre os principais hackers chineses empenhados nessa particular modalidade de atacar, invadir, gerenciar e controlar os computadores das vítimas empresariais.

             Esse controle dos computadores das vítimas empresariais tende a ser feito por e-mails, em aparência inocentes, mas que trazem vírus no seu bojo, que permitirá ao hacker invadir, gerenciar e controlar o computador da vítima designada. Como se fosse uma galeria de anúncios em delegacia do Velho Oeste, o FBI distribuíu retratos e as principais habilidades criminosas de cinco chineses, todos na faixa entre os vinte e os trinta, e dois têm uniformes militares: Huang Zhenyu, programador; Wen Xinyu, talvez o mais jovem do quinteto, hacker controlador de computadores; Sun Kailiang, com uniforme militar, mandava e-mails com vírus; Gu Chunhui, disputa a mocidade com Wen, e porta igualmente uniforme, hacker encarregado de testar e-mails com vírus; e por fim, o intelectual do grupo – tem cara de Dr. No e de supervisor, Wang Dong. 

             Apenas uma pergunta mais: nesse mundo cibernético, o PT, que busca tudo aparelhar para apossar-se do instrumental do Estado e assim aumentar o respectivo poder, terá pensado e realizado algo quanto à necessidade de defesa cibernética de nossas grandes empresas, com a Petrobrás à frente?

 

Declarações do craque Ronaldo

    
              Por haver o craque Ronaldo declarado à imprensa que sente vergonha  pelos atrasos nas obras da Copa, a turma chapa branca – que teria culpa em cartório -  acorreu em defesa do oficialismo, tentando inclusive desmerecer das motivações de nosso grande jogador.

              De minha parte, aplaudo a coragem de Ronaldo em afirmar o que todos estão deparando. Uma coisa é o burocrata da Fifa, Jérome Valcke, tentar dar aos responsáveis por toda essa desorganização e tardança puxões de orelha, outra muito diferente e de maior peso é a vinda de Ronaldo para dizer que o rei (ou a rainha) está nu, e que mais deveria ter sido feito, dado todo o tempo de preparação e os incontáveis reais destinados à preparação.

               Vir agora a público para censurar quem tem coragem de afirmar a verdade factual – e entre as personalidades está a própria Presidenta Dilma Rousseff e o seu Ministro dos Esportes Aldo Rebello – me parece tentativa de negar o que está na cara de todos.

               Não será vestindo-se com o pavilhão nacional, nem valendo-se da citação, fora de contexto, de Nelson Rodrigues “complexo de vira-lata” que jogou com desrespeitosa brutalidade   contra o craque que nos deu o penta, que se mistificará a opinião pública, como se os atrasos fossem invencionices.

                Mais uma tentativa de um governo ineficiente e incompetente para tentar empurrar esse elefantino atraso para baixo do tapete...

 

 

(Fontes: Folha de S. Paulo, O Globo, O Globo on-line, The New York Times, The New York Review)



[1] Neo-Conservadores.

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