domingo, 22 de setembro de 2013

Colcha de Retalhos A 34

                               

Novos obstáculos à Rede de Marina

            Em país onde existem 32 partidos legalizados, com base em jurisprudência do Supremo que derrubou, por julgá-la inconstitucional, uma quota mínima para os partidos, nos moldes de legislações como a existente na Alemanha, provoca estranhável assombro o parecer do subprocurador eleitoral, que impõe barreiras à criação da Rede Sustentabilidade.
           Segundo ele, a sigla da Senadora Marina Silva “ainda não demonstrou o caráter nacional” exigido pela lei. Mas o parecer não fica nisso. Também assevera que seria “ínfimo” o prejuízo ao regime democrático da não-participação da nova legenda na eleição de 2014, “se comparado com o dano que causaria o registro de um partido sem efetivo âmbito nacional comprovado”.
           “Infimo” o prejuízo ? O que fazer então do fato que Marina é a segunda colocada nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência, com 26% das intenções de voto? Além disso, o Datafolha prevê que ela iria para o segundo turno com Dilma Rousseff, e o que é mais, a sua vitória no segundo turno, é considerada uma forte probabilidade.
          É difícil de definir a reação da opinião pública – que tem de aguentar, por força da propaganda eleitoral obrigatória, a presença intrusiva em horários nobres da Tevê de uma série de legendas sem qualquer crível representatividade – que, de repente, o TSE pretenda barrar o caminho de uma candidata como Marina Silva.
         Cui prodest ? (A quem aproveita ?) A expressão latina não é um arcaísmo jurídico. Sabemos que a Rede corre contra o tempo, mas em número de assinaturas, já enviou 660 mil aos cartórios eleitorais, e 440 mil foram validadas (o mínimo legal é de 492 mil), sendo que 130 mil foram invalidadas sem fundamento legal.
         Será que Marina assusta o poder?  Dada a anterior multiplicação não dos pães, mas das siglas, com os resultados que aí estão, vamos evitar a impressão de que as dificuldades para a legalização da Rede estariam no apoio popular de que goza Marina?   

 
A ameaça do Ministro Manoel Dias

 
         No Ministério do Trabalho, a faxina de D. Dilma já atingira o segundo escalão, por força de operação da Polícia Federal, que flagrou um desvio de mais de quatrocentos milhões de reais, no já referido ministério.
        Com a ulterior descoberta de outras novidades, estas relativas ao Ministro Manoel Dias – do grupo de Lupi – e a sua esposa, também acusada de beneficiar entidade ligada ao PDT, pensou-se que o escândalo atingiria o Ministro, até então preservado.
       Eis senão quando o Ministro Dias deu entrevista a O Globo, e disse: se fosse demitido, tomaria providências “impublicáveis”.
       O que tencionou insinuar Sua Excelência ? Não se sabe.  A explicação de um auxiliar de Dilma : “Ninguém levou essa declaração a sério” na verdade, mascara um senhor recuo da Presidenta. Ter-se-ía preferido, por causa do minuto eleitoral do PDT, não chuçar onça com a vara curta da exoneração.


A incômoda prisão política de Yulia Timoshenko            

 
       A presidência rotativa da União Europeia está com a Lituânia. A respeito de um Acordo de Cooperação entre a U.E. e a Ucrânia, a presidente lituana, Dalia Grybauskaite indicou que o documento não seria assinado enquanto o governo de Viktor Yanukovych não libertasse da prisão aonde até hoje se encontra (na versão do cárcere hospitalar em Kharkov) a líder da oposição Yulia Timoshenko.
       A referida prisão é reconhecida por Bruxelas como de motivação política. Nesse sentido, a iniciativa da Lituânia se realiza com amplo conhecimento de causa, eis que a Sra. Grybauskaite teve em passado relativamente recente a nobre atenção de visitar a Timoshenko. Isto foi pouco depois de que a Timoshenko fora condenada por um juiz, dentro do modelo de retaliação judicial, inspirado pelo irmão maior, Vladimir Putin. Se a sala de visitas da líder da oposição tivesse mais visitantes de tal hierarquia, Viktor Yanukovych já teria decretada a sua libertação, ao invés de ganhar tempo, com liberações a conta-gotas de líderes menores da oposição ucraniana.

 

A abertura da 68ª Sessão da Assembléia Geral

 
        O presidente Hassan Hourani não será dos personagens mais inconspícuos da próxima Assembléia Geral, que se abre  nesta semana.
        Não é só o discurso de Hourani que merece a atenção dos principais países membros da AGNU. Ao invés de seu antecessor, que timbrava em falar para um auditório esvaziado pela sua falta  de tato e a consequente irrelevância política, a vinda à tribuna do novel presidente iraniano alimentará muitos despachos diplomáticos, além de possivelmente motivar novas evoluções na política internacional.
        Se Benjamin Netanyahu se coloca em posição cética – ‘não há necessidade de ser enganado pelas palavras do presidente iraniano’ – isto não é novidade. O isolamento diplomático de Israel não é dos menores, e, para variar, intenta advertir Washington do perigo de levar a sério as promessas de Hourani.    No entanto, a maior flexibilidade do presidente iraniano pode ser um bônus para Barack Obama, se realmente as palavras de Hourani indicarem disposição para a negociar.
         O novo presidente tem acenado com perspectivas animadoras. Obviamente, não interessa a Teerã a manutenção das sanções – com as suas danosas consequências sobre a economia de seu país. Se a disposição tem fundamento – o que resta verificar, pois no Irã a máxima autoridade é o Ayatollah Ali Khamenei, que até há pouco aparecia com posturas bem diversas – o terreno deve ser explorado, dadas as vantagens de uma normalização para todas as partes.
         A estada em New York, ao ensejo dos contatos proporcionados pela nova sessão da AGNU, carece de ser explorada. O próprio Obama pode ter uma abertura nas relações com Teerã. Se o ceticismo de Israel – e a sua peculiar e solitária posição no tabuleiro internacional (e nada para enfatizar mais tal condição do que a assembleia das Nações Unidas)  - pode servir como aguilhão para forçar maior agilidade no que tange aos tópicos básicos, a vinda de Hourani, a sua inevitável e consequente maior exposição e o possível aprofundamento dos contatos tenderá a apresentar para os principais atores um quadro mais nítido e com menos pontos de interrogação.        

 
O  Extremismo na Grécia

 
        A crise econômica da Grécia tem assistido a preocupante crescimento da violência da extrema direita. O assassínio, nesta semana, do cantor hip-hop Pavlos Fyssas, apunhalado por militante da extrema direita, é mais um elemento em quadro consternador.
       Fyssas foi morto por suas idéias, sobretudo por ter ousado expressar a sua oposição ao fascismo.
       O Primeiro Ministro Antonis Samaras em declaração para a opinião pública, descreveu o assassinato como “inumano” e afirmou que o governo está “determinado a não permitir que os descendentes dos nazistas envenenem a vida social, cometam crimes, para aterrorizar e minar as fundações do país que deu origem à democracia”.
      No mesmo dia, o Ministro da Ordem Pública,  Nikos Dendias, encaminhou ao promotor da Suprema Corte uma lista de 32 atentados, inclusive ataques violentos contra imigrantes e esquerdistas, provavelmente realizados por militantes da Aurora Dourada, no passado ano de 2012. Em outra comunicação, Dendias encareceu ao promotor que os atentados fossem tratados como se feitos por quadrilha criminosa, o que implicaria penas mais pesadas.
       A esse propósito, a Aurora Dourada – cuja popularidade tem aumentado nas pesquisas políticas – condenou o ataque ao cantor e vem insistindo que nada tem a ver com o assassínio de Fyssas.

 

(Fontes:  Folha de S. Paulo, VEJA, International Herald Tribune, O Globo)

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