quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A Trapalhona

                                           
           Os erros, em geral, o poder não costuma assumi-los com a naturalidade pela qual divulga as ações que os motivaram.
          Para nosso infortúnio, o governo de Dilma Rousseff se tem demonstrado  defensor extremado das ...  soluções heterodoxas para os problemas econômicos.
          Não sei se a Presidenta leu a obra de Thomas S. Kuhn sobre a estrutura das revoluções científicas[1]. O princípio do phlogiston que explicava o fogo só seria afastado no fim do século XVIII com Lavoisier e a descoberta do oxigênio.
          Os chamados paradigmas científicos aparentam ter resistência que vai bem além de sua manifesta superação pelo avanço do estudo e da pesquisa.
          Em termos de economia e inflação, de início deu claros sinais de estar disposta de não levar a sério a ameaça da carestia, em um país que levara quase meio século para livrar-se desse flagelo. No altar do desenvolvimentismo, ela julgou pudesse ignorar os perigos do dragão, a que pensou manter a distância reativando o consumo, congelando a Selic, e consultando as pessoas erradas para debelar os arreganhos da inflação.
         A queda na popularidade, se a convenceu de que deveria ter prudência no capítulo, não a demoveu, no entanto, de sua confiança em outras heterodoxias. Assim, continua acreditando no neopopulismo hiper-assistencialista, versão lulo-chavista. Não me reporto, apenas, à bolsa-família, que continua inchando, a ponto de ser comum ter duas gerações familiares, valendo-se do mesmo auxílio (não importa que fosse outro o princípio desse portentoso braço do Estado, hoje refletido em apoios políticos de carteirinha: o que Cristovam Buarque pensou foi em assegurar aos filhos a frequência escolar, não um assistencialismo permanente tipo Maranhão) ! E pelo andar da carroça, breve teremos a terceira geração !
         Na verdade, Dilma Rousseff é incansável inventora de bolsas e assemelhados. Além da bolsa miséria, temos o Minha Casa, minha vida, e o que se poderia chamar  Minha Tvê, minha novela.
         Muito se fala em investimentos em saúde, educação, transporte, segurança. Sobretudo, em época eleitoral. Ao invés de garantir o emprego através do desenvolvimento da economia – além de uma educação de qualidade  -, o que se vê é o incremento de medidas populistas, com benesses no crédito e na moradia. É, no entanto, um estado paquidérmico, que constrói casas, mas, por disfunções burocráticas, as deixa abandonadas por tempo bastante a ponto de incentivar – mesmo sem deseja-lo –  invasões dos conjuntos habitacionais por gente oportunista.
          O governo de Dilma Rousseff mostra a sua ineficiência por toda a parte. Além dos seus principais auxiliares, a começar por Guido Mantega, cujas promessas e anúncios perderam a credibilidade – e se tornam pasto dos cartunistas como Chico Caruso -, Dilma vai criando uma incôngrua rede de artifícios que não enganam a mais ninguém, excetuada a paradigmática velhinha de Taubaté. Dentre os seus muitos vetos, está o que visa a manutenção da multa adicional de 10%  do FGTS. Mais este achaque às empresas, nada tem a ver com defesa do trabalhador. Na verdade, o FGTS vem sendo usado de forma crescente para cobrir perdas na receita. E o pior não é isso. Dilma não enrubesce ao mandar seus auxiliares batalharem por mais esta forma de onerar as empresas, visto que o Fundo está servindo para cobrir perdas de arrecadação... do Tesouro!
            O governo petista aumenta os agrados à patuléia, mas como não tem dinheiro no Tesouro para cobri-los, os retira do FGTS (que é privativo dos trabalhadores), e o que é ainda mais grave, tem a cara de pau de justificar o veto porque servirá para desvio de verba.
            Com Dilma Rousseff a contabilidade oficial perdeu a credibilidade. Depois de tantas maquiagens, já não mais se atenta para a dívida líquida, pois, por enquanto, a crível é a bruta.
            Como se sabe, a dita contabilidade criativa é uma vergonha de que pensávamos estar livres. Própria de governos neopopulistas – como o de Cristina Kirchner – visa a tapar o sol com a peneira. Além de desmoralizar as finanças e as estatísticas, não sói iludir a ninguém.
            Nesse emaranhado do assistencialismo, se multiplicam os subsídios a políticas sociais, em uma vasta gama que vai de eletro-domésticos a todo gênero de aporte financeiro, que tende a eternizar grupos sociais que estão satisfeitos com uma sub-existência de dádivas públicas. Sem falar no emaranhado de subsídios em matéria de eletricidade (as poluentes e caras usinas térmicas, a que se recorre para evitar os apagões, e que aumentam a carga deficitária de um Estado que chega a instalar parques de usina eólica, mas se esquece de conectá-lo com os seus eventuais consumidores).
          Só se pode contemplar com pessimismo a complicada e contraditória armação de Dona Dilma para o fornecimento de energia. O irrealismo e a inadequação são a sua marca registrada. Para um país a que se deixa afogar no ralo a um tempo da desenfreada tributação (que chega ao requinte de não atualizar as tabelas de cobrança do imposto, para ter o ganho adicional da inflação) e da corrupção partidária, que ao parecer volta quando nunca saíu, como se vê no inchado e inútil arcabouço ministerial montado pelos governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff.

 

( Fontes:  Folha de S. Paulo, O Globo )      




[1] The Structure of Scientific Revolutions, Thomas S Kuhn, The University of Chicago Press, 5ª. Ed.,1974.

Nenhum comentário: