sábado, 14 de setembro de 2013

Ainda o Imbróglio Sírio

           

        A crise da guerra civil na Síria cresce como desafio para a segunda presidência de Barack Obama. Com exceção de Franklin Delano Roosevelt, que quebrou todos os precedentes, as reeleições não costumam ser de bom agouro para os presidentes estadunidenses.
        Esta é a opinião prevalente, embora na aparência se defronte com um dilema sem solução. Pois não haveria nada pior para um mandatário na Casa Branca do que ter a sorte do presidente de um só mandato, de que James Buchanan, o 15º mandatário americano é o exemplo mais citado.
       Considerado um dos piores presidentes dos EUA, arrastado pela iminente crise na União americana, provocada pela questão da escravidão entre os estados do Norte e os do Sul, a história colocaria como seu sucessor Abraham Lincoln, um dos maiores, senão o maior presidente dos Estados Unidos.
       Barack Obama, o 44º presidente, logrou superar a maldição que supostamente lhe preparava o Senador Mitch McConnell, líder da minoria no Senado. O seu mantra era de transformar Obama em presidente de um só mandato, um suposto estigma que pesa sobre poucos presidentes. Nos tempos modernos, o democrata Jimmy Carter perderia a eleição para o republicano Ronald Reagan, tangido sobretudo pela crise dos reféns na missão americana em Teerã, e pela sua sentida falta de energia; e George H.W.Bush (o Bush sênior) seria derrotado pelo democrata Bill Clinton, máxime por uma recessão.
      Vencida a maldição do presidente de único mandato, Obama se veria a braços com outro desafio, que alegadamente ronda os reeleitos.
      Antes de sua segunda posse, Obama rejeitara a proposta de sua Secretária de Estado Hillary Clinton, em assumir uma atitude mais pró-ativa no que respeita à guerra civil na Síria. A sua recusa foi tanto mais significativa, eis que contrariou a todo o establishment democrata de defesa nacional, sendo a posição de Hillary de apoiar os rebeldes secundada pelo Pentágono e pela CIA.
       Depois de muitas postergações, já com o novo Secretário John Kerry, e a reformulada direção na área de segurança, Barack Obama se viu a braços com uma antiga ameaça por ele proferida, no que concerne à linha vermelha a não ser cruzada por Bashar al-Assad no caso das armas químicas.
      Há um sovado preceito em termos políticos, de que um presidente não deve formular ameaças, se não tiver a intenção de implementá-las. Como tudo que cerca ao cerebral mandatário estadunidense, o seu processo decisório costuma ser mais longo e atribulado do que o usual. Exposto o sanhudo desrespeito de Bashar à proibição na utilização das armas químicas, de resto banidas pelos acordos internacionais, a tardança de Obama provocou desconforto.
     No entanto, após toda a preparação das áreas competentes da Administração democrata, o presidente voltaria a surpreender seus subordinados ao subitamente infletir o processo.
     Como se sabe, o que se preparava como punição para o ditador Bashar al-Assad, que utilizara armas químicas contra os seus próprios nacionais, nos subúrbios de Damasco, em área dominada pelos rebeldes, era o que já fora feito por diversas vezes pelo seu antecessor, o também Presidente democrata Bill Clinton. O emprego da força com o 42º presidente resumiu-se, em muitos casos, no lançamento pontual do míssil Tomahawk com o que alvejou uma fábrica no Sudão e locais onde estaria a então nêmesis americana da al Qaida, Osama ben  Laden.
     Para lançar tal foguete, Clinton se baseava nos próprios poderes executivos, e não solicitava autorização do Congresso americano.
     Dentro de sua racionalização,  Barack Obama achou preferível pedir ao Congresso a licença para bombardear a Síria (sempre dentro do esquema anterior, sem participação de infantaria. A reação seria à distância, através de foguetes ou aviões.)
     A enésima mudança nos planos presidenciais não causou apenas desconcerto na administração democrata. Com o pedido de licença ao Congresso, as regras do jogo mudavam, e Obama não mais era o senhor dos prazos e dos tempos. Dependia de votação das duas Casas do Congresso. Se o Speaker John Boehner, da Câmara de Representantes (com maioria do GOP) prometeu apoiar a política do Presidente, no Senado, a despeito da maioria democrata, não há certeza de que o plenário apoie a Casa Branca.
      Com as dúvidas lançadas, os tempos acrescidos e o resultado ainda em suspenso, surgiu a oportunidade de criar-se ulterior dificuldade para o  Presidente Barack Obama. Por sugestão de sua nêmesis russa, i.e., Vladimir Putin, se colocou na mesa de negociações uma ulterior solução para a crise, que era levar Bashar al-Assad a colocar o seu depósito de armas químicas sob controle internacional. Assim, como se observou, a iniciativa passava para Putin, e a posição do hesitante Obama se apresentava mais obscura.
      Não pretendo resumir os ires e vires da crise originada pela indecisão de Barack Obama.  A última notícia é a de que o Secretário de Estado John Kerry e o Ministro do Exterior da Federação Russa, Sergey  Lavrov, se puseram de acordo em expedir um ultimatum para Bashar, a fim de que o presidente sírio coloque as tais armas químicas sob controle internacional. A iniciativa foi definida como ultimatum, embora seja de duvidar que o Kremlin não se tenha colocado previamente de acordo com o  aliado sírio. Não está, outrossim, esclarecido, se o não cumprimento da impositiva oferta russo-americana teria consequências para Damasco, como fora referido anteriormente por Washington.
        O desfecho desta confusão contribuirá ou não para que a imagem de Obama – seja a do presidente americano que não sai bem na foto, pelo seu manejo incompetente da crise, seja a do mandatário que nas últimas cenas do filme logra resgatar-se, e deixar boa impressão – fique marcada diante da opinião pública. Se enfraquecida, ou reforçada, será resultado que paradoxalmente já não depende muito dele próprio.
        Pois não há negar que durante esse filme da linha vermelha, sua performance nos trouxe muitas peculiaridades de um  roteiro de indecisões.

 

(Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo, CNN)

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