quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A Implantação da Reforma Sanitária

                                      

         Apesar de ser uma reação que é objetivamente contrária ao interesse da população, há preocupação em Washington quanto aos resultados da campanha do GOP e, notadamente, do movimento Tea Party.
         A partir de 1º de outubro, se abrem para o público os postos de alistamento à cobertura do seguro de saúde. Essa operação faz parte da fase de efetiva implementação da Lei da Reforma Sanitária Custeável (ACA), a fim de que as pessoas que não dispõem de cobertura securitária em termos de saúde possam estar em condições de, em caso de necessidade, fruir do direito de atendimento em hospitais e postos sanitários.
         A Administração Obama iniciará campanha de conscientização popular nesse sentido. A esse respeito, o presidente, em reunião com líderes congressistas negros (Black Caucus) sublinhou que ele queria falar de forma ‘tão clara quanto possível’ acerca dos esforços para descarrilar a lei da reforma sanitária : “Isto não vai acontecer”.
         A reação republicana nada tem de racional. Em primeiro lugar, a reforma sanitária tem o objetivo de baixar os custos da assistência médica nos Estados Unidos – que é uma das mais caras no mundo. Por outro lado, a lei da reforma sanitária tem o escopo de proporcionar cobertura a quem hoje não dela dispõe. Há mais de dez milhões de cidadãos que não tem qualquer garantia de valer-se em caso de necessidade de assistência médico-hospitalar.
        Por outro lado, releva notar que a Administração Obama se valeu de programa de assistência sanitária de origem republicana – como é a Assistência estadual no Massachusetts.  Estabelecida com sucesso por iniciativa do republicano  Mitt Romney quando governador daquele estado, o espírito negativista chegou a tal ponto no G.O.P. que Romney preferiu abjurar da convicção quanto à própria provada eficácia no Estado. Renunciou à sua maior realização como governador, para não comprometer a postura republicana de negação visceral do Obamacare. Abandonou, portanto, quaisquer fumaças de eventual coerência política, eis que a federalização da assistência médica pelos democratas reproduzira uma idéia republicana para o estado de Massachusetts !
        Infelizmente, o Partido Republicano se tem radicalizado deveras. Essa radicalização, no entanto, nada tem a ver com a etimologia da palavra (a busca das raízes). No G.O.P. os políticos tradicionais são virtuais reféns do movimento de direita extremista Tea Party. Se algum deles tenta reagir, será prontamente lembrado que na eleição seguinte (os mandatos de deputados nos EUA são de dois anos e os de senadores, de seis) a respectiva candidatura pelo partido pode ser contestada por um representante do Tea Party. Tais disputas podem levar a que o lugar do GOP seja ocupado por um energúmeno do Tea Party, o que, se para democracia e o clima político não é bom, pode favorecer, na eleição geral, ao representante democrático (que seria derrotado pelo republicano tradicional).
       Apesar de poluir o ambiente, e de envenenar as relações inter-partidárias – com gravosas consequências para o interesse nacional -, a franja radical do Partido Republicano dita as normas da atuação política, com as previsíveis consequências. No caso da Reforma Sanitária, a tentativa de fazer malograr o alistamento do público é uma empresa que desafia a razão.  Como se pode convencer alguém do seu interesse de não ter cobertura médica? Salta aos olhos que é um tiro no pé do contribuinte. Em meio à coerção e a gritaria, posições desarrazoadas e estapafúrdias como esse projeto de fazer naufragar um programa - que é manifestamente favorável a pessoas com poucos recursos – só podem ter sucesso se os interessados não forem informados da realidade.
       Debaixo das caricaturas de intrusiva intervenção estatal – apresentada como reedição de um governo ‘comunista’ – só as campanhas de informação e conscientização lograrão dissipar as calúnias e as sandices da propaganda republicana, colonizada pela direita.
        Depende agora da Administração Obama este empenho. No passado, esse presidente democrata não se assinalou por grandes esforços no sentido de divulgar as respectivas políticas, com vista a evitar a sua deformação e a supremacia da má fé. É de esperar-se que às palavras ditas aos parlamentares negros do Partido Democrata corresponda um real esforço de divulgação nacional, para que grandes ideias não morram na praia.

 

(Fonte:  International Herald Tribune )    

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