quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Notícias do Front (XI)


Dilma e o Banco Central

           Não tardou para que se confirmasse a orientação da Presidenta no que tange ao Banco Central. Tampouco foi à toa que Dilma Rousseff afastasse Henrique Meirelles, após oito anos de gestão sob Lula da Silva. O então presidente do Banco fizera saber seu desejo de autonomia.
           Dilma mostrou agora, se necessário fora, o quão desejava ter sob a sua dependência a autoridade financeira. Para tanto, designou Alexandre Tombini. Do dia de ontem, em que por cinco votos a dois o Copom se curvou ao recado presidencial da véspera, há algumas considerações a fazer:
          (a) o presidente Lula, no seus dois mandatos, jamais cometeu o equívoco de intervir abertamente nas decisões do B.C., como ora evidenciado por Dilma. Para tanto, mostrou mais sabedoria política – e economico-financeira – do que o óbvio mandonismo de sua sucessora;
          (b) o chamado ‘mercado’ enganou-se ao pressupor que Dilma resguardaria as aparências, sobretudo diante da manifesta inoportunidade de abaixar as únicas defesas contra a inflação, quando ela se acha em 6,87% (12 meses), e acima da meta prevista;
          (c) ao reduzir o juro em meio ponto percentual, o Banco Central trai a interferência política, e a sua consequente fragilidade. É uma pena que Dilma Rousseff não se haja pautado pela cartilha seguida por seu criador. Submeter a gestão financeira a condicionantes políticas não constitui um bom presságio para país que deseja ter boas notas do entorno institucional e, dessarte, não afugentar os investidores internacionais;
          (d) o registro de quem apóia a medida contribui para a impressão das determinantes políticas e não economico-financeiras da decisão do Copom. Por sapiência política do presidente Lula, tais manifestas interferências constituíram página virada.

         O retrocesso na gestão financeira terá outras consequências, a primeira das quais o reforço da pressão inflacionária. Com o seu açodamento desenvolvimentista, Dilma enseja a manutenção da atual carestia, com clara sinalização de aquecimento inflacionário. É lamentável.

As entranhas da ditadura de Kaddafi


         A leitura dos jornais – e em especial do International Herald Tribune – tem aberto as gavetas do longo reinado do coronel Muammar Kaddafi e de sua família. Malgrado a tônica terceiro-mundista, o que a derrubada da Jamairiya tem desvelado é a radical diferença entre o pequeno dourado mundo da ‘intimidade’ de Kaddafi e da extensa parentela, e o padrão de vida reservado a seus súditos.
         Diante do esfacelamento desse domínio, e o seu acesso indiscriminado por populares, repórteres - e eventuais saqueadores – há uma impressão de mau-gosto, desperdício, e de invasão de privacidade. Tais ocasiões são raras em termos históricos, em que o poder se desfaz e indefeso não mais consegue preservar a própria intimidade.
        No direito romano, para os países conquistados, havia a figura da annihilatio, com a nulificação da soberania e da capacidade respectiva de preservação. Assim, como um cadáver, jazem as residências do ditador – e de seus familiares – com as respectivas entranhas à vista de todos. Não é um espetáculo recomendável – os interiores são comparados com os de Saddam Hussein, o ditador iraquiano derribado pela guerra de Bush Jr.
        Poucos serão os poderes em condições de submeter-se a essa súbita intrusão dos próprios cidadãos ou súditos – assim como da mídia estrangeira. Em reportagens de nossa imprensa, se chegou até a indicar que Kaddafi tinha especial apreço pela assessora de segurança nacional de Bush, Condoleezza Rice, a ponto de ter vários albuns com fotos suas. Essa indiscrição quanto às preferências do líder líbico foi, no entanto, omitida pelo International Herald Tribune (e presumivelmente pelo jornalão que o publica, o New York Times).


( Fontes: O Globo, International Herald Tribune )

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