segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Notícias do Front (XIII)

             
Dilma e Roma antiga

     Com o passar do tempo, muita vez afirmações ambíguas ou impressões tentativas podem adquirir contornos mais firmes, até foros de virtual certeza. Veja-se, por exemplo, a frase da Presidente da República: isso não é Roma antiga.
     As interpretações variaram a princípio, mas foi aos poucos se consolidando a impressão do recuo de Dilma Rousseff no propósito da faxina. Aparentemente, não se ambiciona a parâmetros de excelência em termos éticos. Algum conselheiro poderoso a terá convencido que um esquema como o de sustentação do atual governo não poderia conviver com  atitudes pró-ativas no campo da ética pública.
     A popularidade de Dilma, reforçada pela faxina, há de sofrer ao conscientizar-se a opinião pública  de sua aparente renúncia em levar avante qualquer campanha mesmo moderadamente sintonizada com o sentir das ruas.
    Afinal a atitude de Brasília foi um elixir para quem anseia que os padrões individuais de conduta se estendam ao governo da cousa pública. Não importa que certos comentaristas, encarapitados em puleiros de prestígio, hajam torcido o nariz para a motivação dos vinte e cinco mil que mostraram o quanto o alienado corporativismo do Congresso nada tem a ver com o Povo soberano. Não é comovente  a imagem do senhor deputado Candido Vaccarezza, líder do governo na Câmara, a solidarizar-se com a deputada Jaqueline Roriz ?
    Esses aristarcos dos jornalões não logram captar o significado das ações populares, e na ânsia da crítica não enxergam a eventual relevância da  mensagem. O próprio Luís XVI não anotaria ‘Nada’ (rien), em seu diário de catorze de julho de 1789, como se a queda da Bastilha não houvesse ocorrido ?

Diplomacia titubeante


     Os enviados à Líbia da imprensa brasileira vem colhendo os frutos de uma estranha diplomacia. Ao não associar-se com a revolução naquelas paragens, preferindo  ficar na dúbia companhia de Cuba, Venezuela e Nicarágua, o Itamaraty perdeu uma boa ocasião de associar-se à população libica e ao Conselho Nacional de Transição.
     Depois com a vitória da revolução árabe democrática na antiga Jamayria do indiciado (pelo Tribunal Penal Internacional) Muammar Kaddafi, se recorre a longas explicações para eludir as consequências políticas do tosco erro de apegar-se a regime ditatorial. A admiração passada pelo Brasil se vê substituída por uma postura de reserva, de retraimento ante a postura para a liga de Bengazi incompreensível ?
      Há certas companhias que falam mais do que longos discursos. O Brasil ao lado da China e de Cuba, a alinhar-se com o anti-imperialista Kaddafi, escorraçado pelos próprios concidadãos, e com comprometedoras entranhas documentais à mostra ?


A Proposta de Obama     

       De certa forma, o discurso do Presidente Barack H. Obama no Congresso sobre planos de estímulos para a economia surpreendeu. O próprio Prêmio Nobel Paul Krugman, crítico frequente nos últimos tempos de Obama, reconhece que a sua proposta tem méritos e mesmo relevância para a situação.
       Diante da hostilidade republicana, a Casa Branca tratara de talhar o corte  de forma a dificultar a recusa in limine pelo Partido Republicano.
       De acordo com muitos observadores, no entanto, uma aparente  disposição presidencial mais afirmativa chega tarde. O 44º  Presidente perdeu a ocasião de adotar posições mais enérgicas  - e deixou passar o momento para a reativação da economia – quando tinha para tanto a maioria tanto na Câmara, quanto no Senado.
      Agora se vê forçado a pautar o feitio das propostas em moldes republicanos, como se tal fosse suficiente para lograr a aprovação do pacote por ele ora apresentado.
     Se a maneira descortês – e totalmente ao largo da tradição política americana – do Speaker John Boehner denegando-lhe a data alvitrada para a alocução constitue um signo premonitório, não semelha difícil vaticinar a grande possibilidade de que o GOP, acicatado pela facção do Tea Party, inviabilize qualquer grande acordo de índole bipartidista.
     O personagem de Obama tem a gerir a gravosa herança que lhe foi legada pelo antecessor George Bush. jr. Mas pela sua irresolução e pela tendência de querer ressuscitar um espírito de cooperação nacional, Barack Obama desperdiçou demasiado tempo, quando tinha condições de realizar o programa partidário.
    Depois da surra (shelacking) das eleições intermediárias, procurou inventar um mítico centro, diante das negativas agressivas do GOP, máxime das novas levas da direita raivosa. A história, contudo, não costuma ser compassiva com aqueles que não logram decifrar-lhe a linguagem.
    Obama pode ainda reagir. No momento, todavia, a sua persona carrega muito do desconforto que se associa a eventuais perdedores. Perpassa o Partido Democrata a mesma impressão que se associara à gestão de Jimmy Carter, o 39º Presidente (1977-1981). Não havia dúvidas quanto à capacidade intelectual do antigo governador da Georgia, mas sim quanto à respectiva vontade e afirmação de autoridade.
   Em torno de Obama parece formar-se um vazio político, movido pelo temor dos democratas de que venha a realizar-se o desejo republicano de que ele se torne presidente de um só mandato. Até o presente, malgrado os baixos índices nas pesquisas, não surgiu nenhum candidato para disputar-lhe a designação (nomination) pelo Partido. O GOP alinha dois pré-candidatos fortes – Mitt Romney, ex-governador de Massachusetts e Rick Perry, governador do Texas, com fama de criadores de emprego.
     A fraqueza presidencial representa  incentivo para que surja um possível contendor nas fileiras democratas, como acontecera com Carter (que lograra vencer a contestação nas primárias de Ted Kennedy para ser derrotado nas eleições gerais, por Ronald Reagan). Como toda luta intestina, é  perspectiva desgastante para o partido de FDR e de Clinton, mas tem a sua dinâmica própria, em que as considerações pessoais são alijadas por condicionantes de oportunidade política.



( Fontes: O Globo, Folha de S.Paulo, International Herald Tribune) 

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