sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Notícias do Front (XVI)

                             

O Fed contraria republicanos

       A maioria dos diretores do Federal Reserve Bank, sob a liderança de Ben Bernanke, aprovou plano para tentar retirar a economia estadunidense da estagnação em que se encontra.
       Assinale-se que, de acordo com a sua atual postura do agressivo reacionarismo,  a liderança republicana no Congresso dirigiu carta ao Presidente do Fed em que o adverte contra novas medidas. Nesse sentido, juntando-se à ameaça anterior do governador do Texas, Rick Perry, que está na frente das pesquisas para a candidatura à Casa Branca, o Speaker John Boehner e o líder da minoria no Senado, Mitch McConnell sinalizam que têm “sérias preocupações em que ulterior intervenção pela Reserva Federal possa exacerbar os problemas correntes ou prejudicar ainda mais a economia estadunidense”.
      Patenteando uma vez mais a visão regressiva do GOP, que se acha a reboque da facção do Tea Party, o Partido Republicano julga que incentivar o consumo pode ser perigoso para a economia americana. O GOP, ao repetir erros do passado, parece querer aprofundar a atual crise econômica, ao se opor a medidas bastante moderados do Fed. Nesse contexto, o deputado Barney Frank, de Massachusetts, o principal representante da minoria democrata na Comissão de Finanças da Câmara dos Deputados, considera que a direção do Banco Central americano deveria ser menos cautelosa.
      O que será implementado pelo Federal Reserve ?  Para estimular o crescimento econômico, o Fed comprará $ 400 bilhões em obrigações do Tesouro de longo prazo, com o produto da venda de títulos de curto prazo da dívida do governo.
     Como justificativa de sua ação, aduziu o banco central: “O crescimento continua lento. Indicadores recentes apontam para continuada debilidade nas condições gerais do mercado laboral, assim como o nível do desemprego permanece elevado.”
     Com a iniciativa se pretende reduzir o custo dos empréstimos para empresas e consumidores, inclusive em financiamentos hipotecários.
      Sob a motivação  de que tais medidas de estímulo possam ser inflacionárias, três membros do comitê diretivo do Fed se dissociaram da resolução majoritária. Privilegiar o temor inflacionário diante de um viés recessivo da economia é desconhecer todas as lições keynesianas da economia e todos os erros cometidos na luta contra a Grande Depressão.
      A exemplo do que preconiza Paul Krugman, não recorrer a uma política pró-ativa em termos de estímulos para  economia estagnada equivale a condená-la à perspectiva de nova recessão, mormente diante da nova crise europeia.
      No atual quadro americano, será mesmo que o GOP tem um enfoque tão pouco inteligente em matéria econômica, ou estará trabalhando com a velha tese do quanto pior  melhor, vale dizer, a história trabalha contra a reeleição de presidentes em períodos de recessão ? E com a ajuda do próprio Barack Obama -  se este persistir em não assumir o papel presidencial de líder – a crise econômica não lhes traria o tão desejado presente de um republicano de novo na Casa Branca ?


O Discurso de Dilma Rousseff


      Fala-se muito na prerrogativa do Brasil de abrir os trabalhos da Assembleia Geral das Nações Unidas. E agora na circunstância de que, por primeira vez, a sessão deste ano foi inaugurada por uma mulher.
     Sem querer desmerecer da efeméride, cabe fazer algumas observações sobre o real significado de tais precedentes. Por tradição – e pela circunstância de que a nossa representação estava dentre as fundadoras das Nações Unidas, no cenário de Lake Success, em número bastante mais reduzido do que o atual – o Itamaraty tem cuidado de que a nossa inscrição seja feita de molde a que não se quebre a tradição.
    Através dos decênios, a princípio o discurso inaugural seria pronunciado ou pelo embaixador-chefe da missão permanente junto às Nações Unidas, ou, com o decorrer do tempo, pelo Ministro das Relações Exteriores.
    Em passado recente, a atração da ribalta internacional trouxe ao grande salão da Assembleia Geral a presença do Presidente da República em funções. Fernando Henrique não terá desdenhado dessa oportunidade, mas a garantia da presença nas seguidas assembleias gerais foi assumida pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo seu natural protagonismo.
    Anteriormente, dentre as línguas utilizadas, os oradores da abertura privilegiaram o inglês, a atual lingua franca mundial. Lula,  por nacionalismo,  optou pelo português.
    Há cinco línguas oficiais nas Nações Unidas: inglês, francês, espanhol, russo e chinês. Todo o representante nacional tem o direito de se servir de uma destas, mas se deseja, em ambiente de grupo de trabalho (onde não há intérpretes), ter alguma participação negociadora, será aconselhável que empregue o inglês, único idioma por todos praticado.
     Na tribuna da Assembleia Geral cada país está autorizado a valer-se do próprio idioma. Se não servir-se de uma das línguas oficiais, contudo,  seu discurso deverá ser apresentado com antecedência ao secretariado, para a tradução competente.
      Segundo estou informado,  a Presidenta Dilma é fluente em inglês. Como ouvimos, no entanto, preferiu aqui seguir o exemplo do antecessor. É um direito que lhe assiste, mas se se deseja maior participação das delegações presentes à sessão inaugural, não será este o conduto mais adequado.
    Por outro lado, igualmente em função da tradição, se sucede no mesmo dia da alocução do chefe da delegação brasileira, o discurso do Presidente dos Estados Unidos da América. A Superpotência talvez não luza com o brilho resplendente da ascendência que se seguiu ao desfazimento da União Soviética, mas ainda recebe atenção desproporcional àqueles que ascendem ao pódio das Nações Unidas.
    Será,portanto, compreensível que a imprensa brasileira dispense amplas colunas no seu espaço jornalístico para as palavras da Presidenta. Sem embargo, a respectiva  menção na mídia americana e internacional – se comparada com as transcrições e comentários reservados ao discurso do Presidente dos Estados Unidos da América não terá nem sombra do realce obtido na própria terra. É uma consequência natural das intervenções em apreço, e não implica em desdouro.
     A única característica permanente dessa sucessão de discursos, e das recepções diferenciadas, não nos deve, nem considerar como se fora capitis diminutio, nem papaguear a linguagem dos áulicos, emprestando à alocução em terra estrangeira a assinalada retumbância em campos brasílicos.



( Fontes : International Herald Tribune, Folha de S.Paulo )  

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