O
vídeo da reunião ministerial de 22 de abril de 2020, revelado por decisão do ministro
Celso de Mello, decano do STF, abre inúmeras frentes de investigação contra o
presidente Jair Bolsonaro e alguns ministros de seu governo.
Tal
avaliação parte do pessoal do ramo. Com efeito, investigadores da P.F. e da
Procuradoria-Geral da República (PGR) apontam o incrível ataque do ministro da
Educação, Abraham Weintraub. Celso de Mello reservou um capítulo específico da
decisão para criticar "a descoberta fortuita de prova da aparente prática,
pelo ministro da Educação, de possível crime contra a honra dos ministros do
STF". Nesse sentido, determinou a entrega de cópia integral do vídeo aos
colegas do Supremo para que possam "adotar as medidas que julgarem
pertinentes" com respeito à declaração de Weintraub de que, por ele,
botaria "todos esses vagabundos na cadeia, começando pelo STF".
Nesse contexto, o decano do STF classificou o discurso como "gravíssimo"
e "aparentemente ofensivo ao patrimônio moral" dos integrantes do
Supremo.
Outro que está em maus lençóis é o ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente. Um dos
questionamentos levantados pelo vídeo, é que ele ressalta que é hora de edição
de medidas de desregulamentação e simplificação (hora de passar a boiada), uma vez que os veículos de imprensa
estão, neste momento, concentrados no combate à pandemia da Covid-19.
Nesse sentido, um dos caminhos apontados por investigadores é rever as
ações ambientais durante a pandemia. Dessarte, os alertas de corte raso na
floresta feitos pelo sistema Deter do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais) apresentaram um aumento de 64% no desmatamento, em comparação ao
mesmo período de 2019.
Também despertou espécie as repetidas assertivas de Bolsonaro de que
dispunha de um serviço particular de informações, de que se valia pela alegada
incompetência das fontes oficiais.A despeito das observações do presidente
quanto ao fato de ser informado por serviço particular, o que é, no caso,
ilegal, o mais provável é que não passe de bazófia, malgrado a maneira leviana
com que ele se jacta de dispor de tais informações de amigos e pessoas de seu círculo de relações.
Ainda a tal propósito, segundo informa a Folha, "o risco de uma
excessiva judicialização, tanto na área penal como civil, com eventuais
objetivos políticos, era um dos argumentos
usados pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, a assessores,
ao justificar o pedido para que o vídeo da reunião não fosse
divulgado." Nesse parecer, Aras
defendeu que apenas alguns trechos da agenda presidencial fossem tornados
públicos.
Outra informação adicional proporcionada pela divulgação do vídeo
confirma os indícios de que Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal, ainda que não haja
revelado novos para o caso em tela.
Quanto a um dos motivos principais da reunião ministerial, que levou à
exoneração do Ministro Moro, o presidente fala de seu interesse em trocar
equipes de segurança no Rio para não prejudicar seus parentes e aliados.
"Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não
consegui. E isso acabou. Eu não vou
esperar f... a minha família toda, de s ...., ou amigos meus, porque eu não
posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura
nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não
pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final!, bradou.
Em entrevista no Alvorada após a divulgação do vídeo, Bolsonaro disse
que tinha preocupação que algum filho seu fosse
alvo de busca e apreensão para plantar provar falsas e pediu a ajuda de Moro para impedir isso.
A esse propósito, o ex-ministro disse que essa declaração foi outra
pressão por mudanças na P.F. Bolsonaro,
no entanto, sustenta que se referia naquele momento à troca de equipes do Gabinete de Segurança
Institucional, responsáveis por proteger seus familiares.
(
Fonte: Folha de S. Paulo )
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