A Organização Mundial
da Saúde inquieta-se com a "séria cegueira" de governos (como o do
Brasil), que permitem aglomerações de pessoas e não adotam medidas para conter a pandemia do coronavírus. Sem
citar nomes, foi o que disse nesta segunda, dia onze, o Diretor-Executivo da
OMS, Michael Ryan.
Lamentavelmente - e sabemos bem das
consequências de o presidente Bolsonaro haver afastado da Saúde o Ministro Mandetta, e confiado a pasta
ao Dr. Nelson Teich, com a quebra da
dinâmica quanto à contenção da epidemia, e o relativo abandono do isolamento
social, só agora retomado, nas graves, dramáticas mesmo, condições que ora
prevalecem no Brasil.
Nesse contexto, em face da irresponsabilidade
do comportamento da presidência, é
oportuno notar que entre os dez países
com o maior número de mortes pelo coronavírus no mundo somente o Brasil e os Estados Unidos são os
únicos que não adotaram restrições em nível nacional e também os únicos com
a taxa de contágio acima de 1 segundo estimativa do Imperial College - o que indica que a pandemia está fora de controle.
Como a grande maioria da população
brasileira não deixará de conscientizar-se, essa não é uma conclusão
irrelevante. A respeito, Ryan assinala é "erro grave a crença de que a maioria das pessoas não mostra sintomas e
que "o vírus vai passar sozinho". Há uma outra consequência, de
caráter ético, que oscila entre o cínico e o irresponsável : " a ideia de
que podemos deixar mais gente ter contato com a doença é uma aritmética brutal,
que não põe a vida e o sofrimento das pessoas no centro da equação",
asseverou o diretor-executivo da OMS.
Consoante Maria van Kerkhove, líder
técnica da entidade, já há mais de 90 estudos para medir a presença a de
anticorpos, e os resultados indicam que
a imensa maioria da população ainda não teve contato com o vírus. Em geral, a
percentagem de infectados que desenvolveram defesas varia de 1% a 10%,
dependendo da metodologia empregada. Por isso, ela declara que tampouco se sabe
qual seria o nível da contaminação necessária
para que a população estivesse protegida
do vírus, a chamada "imunidade
de rebanho". Como parece de
pronto evidente, o termo é mais próprio para a veterinária, "em que um animal individualmente não
importa tanto. Temos de ter cuidado em
usar esse conceito com humanos", observou com evidente ironia Ryan.
Por fim, Ryan disse que os recentes surtos na Coreia do Sul e na Alemanha mostram tal
risco, mas ela põe em evidência também o preparo
dos dois países para localizar
rapidamente os focos de perigo e impedir a disseminação do vírus. "É
preciso elogiar os países que estão com os olhos abertos, tentando sair da
cegueira", afirmou Ryan. Alguém hoje atribuiria tal postura às autoridades
brasileiras atualmente colocadas diante dessa macabra situação?
Segue em consequência que não implementar medidas de distanciamento
social acreditando que, mesmo que os
mais vulneráveis morram, a
população ficará imune constitui "um cálculo realmente
perigoso".
(
Fonte: Folha de S. Paulo )
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