O colégio eleitoral americano - implantado pela Constituição - constitui uma
barreira natural para os candidatos de partidos majoritários. Representa, à sua maneira, um absurdo, mas é
a lei do país.
Na verdade, o sistema de colégio
eleitoral data da Constituição estadunidense, e corresponde a um artifício que,
na época (fins do século dezoito) visava a possibilitar a realização de eleição
dentro de um período aceitável de tempo.
Naquele momento histórico inexistiam
comunicações rápidas, e se fazia, por conseguinte, mister encontrar meios e
modos que tornassem possível a eleição nacional para cargos majoritários (no
caso, a presidência da república) diante de obstáculos concretos eis que
somente um sistema indireto lograria vencer os consideráveis atrasos causados
pelas enormes distâncias, a que, então, o poder político ficaria condicionado, de
modo, a de alguma forma, obviar os atrasos ditados pela falta de comunicações -
que somente no século passado se tornaram passíveis de serem vencidas.
No entanto, esse sistema arcaico é
ainda mantido porque convém à maravilha a um dos dois partidos existentes nos
Estados Unidos da América, que é o partido Republicano, de direita, que por sua linha ideológica é o preferido
dos extratos populacionais de linha conservadora e mesmo reacionária.
Por sua vez, o Partido Democrata, que
pende mais à esquerda - embora seja muito importante ter presente que essa
esquerda se enquadra no universo americano, e que por isso poderia melhor ser
qualificada de progressista. Não há nada no partido de Franklin Delano Roosevelt
de anti-establishment, muito pelo
contrário, como esse próprio grande presidente americano - um dos maiores,
decerto - o demonstraria amplamente, reelegendo-se sucessivamente a partir da
década de trinta do século passado, e só deixando a Casa Branca levado por um
derrame cerebral, e o consequente falecimento.
Esse que foi talvez o maior presidente americano de todos os tempos
detinha uma tal popularidade, que podia prescindir do empecilho que o sistema indireto de colégio eleitoral possa
representar.
Sem embargo, o sistema eleitoral
estadunidense é na prática um sistema indireto, pois o voto em um dos dois
candidatos - nos Estados Unidos, na
realidade é rara a disputa entre mais de dois candidatos, quando se chega aos
chamados finalmente em termos de
disputa politico-eleitoral. Assim, para vencer em cada estado, o ganhador tem
que arrebatar a maioria do colegio eleitoral do Estado. Em outras palavras, o
eleitor vota no representante seja do
partido Democrata, seja do Republicano (também alcunhado Grand Old Party-GOP,
nas respectivas circunscrições daquele colégio), e o candidato seja dos Dem,
seja do GOP, só vencerá naquele estado se os seus representantes forem
indiretamente selecionados na votação respectiva. Há um outro detalhe
importante: a vitória naquele estado, seja ela obtida por um só voto de diferença, ou por centenas ou milhares,
tem a mesma consequência, a de atribuir todos os votos eleitorais que são
assignados àquele estado, ao vencedor no estado determinado, seja ele qual for.
Isso também significa que o total obtido na vitória por um candidato (em geral
republicano ou democrata) que logra a superioridade nesse sufrágio indireto,
leva a que esse partido arrebate o estado (o perdedor não dispõe de votos em
estados no qual perca, mesmo que seja por um só voto).
Esse sistema, por conseguinte,
não favorece prima facie um partido
como o Democrata, que se assinala pelo apoio daqueles que pendam para a
esquerda (mesmo, americana),que se reflete na adesão de extratos populacionais
mais pobres, mais necessitados, como os negros, os chamados latinos, etc.
Assim, o candidato democrata -
e penso por exemplo na candidata Hillary Clinton que perdeu para o seu
adversário republicano, o hodierno presidente Donald Trump - apesar de
concentrar na contagem total do país um apoio superior, em seis milhões de votos ao seu concorrente
republicano ( conservador ). Este ganhou no voto indireto, o que escandalizaria
ou seria inviável em outros países, simplesmente pela circunstância de que pelo
sistema oitocentesco de colégios eleitorais (conforme descrito acima) pôde
vencer em estados como a Pennsylvania.
Esse escândalo - pois o sistema
indireto tem garantido inúmeras vezes a singular vitória de candidatos
minoritários do GOP para a Casa Branca - tem funcionado como um dificultor das
vitórias democratas, desfigurando na realidade a real fisionomia política dos
Estados Unidos. Tampouco, há de surpreender que no começo deste século o
candidato republicano - no caso Bush, junior - foi eleito para a presidência
pelo voto da Corte Suprema (com a usual maioria do GOP) contra o democrata que
o superara de forma aritmética - mas como se explica acima, tal não é bastante
para arrebatar a presidência. Sem embargo, esse "triunfo" de um
republicano na virtual marra provocado por voto majoritário da Corte Suprema
constituíu um escândalo, eis que largamente superou as mínimas condições de
respeito à soberania popular, até mesmo em um país que parece ter perdido a
noção de o que esse sistema indireto contribui para subverter e na verdade falsear a democracia americana.
Para tentar mascarar o "detalhe"
dessa diferença de seis milhões de votos a mais para Hillary - e que pelas
maravilhas desse sistema de "contagem" ainda assim foi computada por
perdedora -, o incrível Trump recorreu às chamadas "tall stories"
(deformações da verdade), chegando a dizer que o que tinha engordado os totais
da democrata seriam votantes ilegais, o que é uma mentira, e como tal sequer
foi considerada pelas chamadas competentes... Sem embargo, a realidade
permanece, e o candidato minoritário, pela série de vantagens acima elencadas,
torna-se o vencedor. Não importa que poucos decerto negariam que Trump não se
compara a Hillary em termos de capacidade, além de outras qualidades que não
caberia aqui mencionar...
2.
Conclusões.
A próxima eleição americana,
segundo tudo leva a crer, será entre o atual presidente, Donald Trump (Rep.) e
Joe Biden (Democrata), este último, cuja candidatura se reforça, mas que
enfrentará o mesmo sistema obsoleto e potencialmente corrupto que tende a
distorcer qualquer eleição nos USA, na medida em que mais favorece uma das
partes que a outra, embora esta última congregue o apoio dado pelos comunidades menos favorecidas
(African-americanos, latinos, classes com
menor poder aquisitivo )
(Fontes: acompanhamento pertinaz de o que concerne à realidade americana, entre jornais e revistas... )
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