sábado, 23 de maio de 2020

A Eleição Americana: considerações e prognósticos tentativos


                 
     O  colégio eleitoral americano -  implantado pela Constituição - constitui uma barreira natural para os candidatos de partidos majoritários.  Representa, à sua maneira, um absurdo, mas é a lei do país.
       Na verdade, o sistema de colégio eleitoral data da Constituição estadunidense, e corresponde a um artifício que, na época (fins do século dezoito) visava a possibilitar a realização de eleição dentro de um período aceitável de tempo.

       Naquele momento histórico inexistiam comunicações rápidas, e se fazia, por conseguinte, mister encontrar meios e modos que tornassem possível a eleição nacional para cargos majoritários (no caso, a presidência da república) diante de obstáculos concretos eis que somente um sistema indireto lograria vencer os consideráveis atrasos causados pelas   enormes distâncias, a que, então,  o poder político ficaria condicionado, de modo, a de alguma forma, obviar os atrasos ditados pela falta de comunicações - que somente no século passado se tornaram passíveis de serem vencidas.

         No entanto, esse sistema arcaico é ainda mantido porque convém à maravilha a um dos dois partidos existentes nos Estados Unidos da América, que é o partido Republicano, de direita,  que por sua linha ideológica é o preferido dos extratos populacionais de linha conservadora e mesmo reacionária.

         Por sua vez, o Partido Democrata, que pende mais à esquerda - embora seja muito importante ter presente que essa esquerda se enquadra no universo americano, e que por isso poderia melhor ser qualificada de progressista. Não há nada no partido de Franklin Delano Roosevelt de anti-establishment, muito pelo contrário, como esse próprio grande presidente americano - um dos maiores, decerto - o demonstraria amplamente, reelegendo-se sucessivamente a partir da década de trinta do século passado, e só deixando a Casa Branca levado por um derrame cerebral, e o consequente falecimento.  Esse que foi talvez o maior presidente americano de todos os tempos detinha uma tal popularidade, que podia prescindir do empecilho que o sistema indireto de colégio eleitoral possa representar.

           Sem embargo, o sistema eleitoral estadunidense é na prática um sistema indireto, pois o voto em um dos dois candidatos -  nos Estados Unidos, na realidade é rara a disputa entre mais de dois candidatos, quando se chega aos chamados finalmente em termos de disputa politico-eleitoral. Assim, para vencer em cada estado, o ganhador tem que arrebatar a maioria do colegio eleitoral do Estado. Em outras palavras, o eleitor vota no representante  seja do partido Democrata, seja do Republicano (também alcunhado Grand Old Party-GOP, nas respectivas circunscrições daquele colégio), e o candidato seja dos Dem, seja do GOP, só vencerá naquele estado se os seus representantes forem indiretamente selecionados na votação respectiva. Há um outro detalhe importante: a vitória naquele estado, seja ela obtida por um só  voto de diferença, ou por centenas ou milhares, tem a mesma consequência, a de atribuir todos os votos eleitorais que são assignados àquele estado, ao vencedor no estado determinado, seja ele qual for. Isso também significa que o total obtido na vitória por um candidato (em geral republicano ou democrata) que logra a superioridade nesse sufrágio indireto, leva a que esse partido arrebate o estado (o perdedor não dispõe de votos em estados no qual perca, mesmo que seja por um só voto).
              Esse sistema, por conseguinte, não favorece prima facie um partido como o Democrata, que se assinala pelo apoio daqueles que pendam para a esquerda (mesmo, americana),que se reflete na adesão de extratos populacionais mais pobres, mais necessitados, como os negros, os chamados latinos, etc. 
                Assim, o candidato democrata - e penso por exemplo na candidata Hillary Clinton que perdeu para o seu adversário republicano, o hodierno presidente Donald Trump - apesar de concentrar na contagem total do país um apoio superior,  em seis milhões de votos ao seu concorrente republicano ( conservador ). Este ganhou no voto indireto, o que escandalizaria ou seria inviável em outros países, simplesmente pela circunstância de que pelo sistema oitocentesco de colégios eleitorais (conforme descrito acima) pôde vencer em estados como a Pennsylvania.

                Esse escândalo - pois o sistema indireto tem garantido inúmeras vezes a singular vitória de candidatos minoritários do GOP para a Casa Branca - tem funcionado como um dificultor das vitórias democratas, desfigurando na realidade a real fisionomia política dos Estados Unidos. Tampouco, há de surpreender que no começo deste século o candidato republicano - no caso Bush, junior - foi eleito para a presidência pelo voto da Corte Suprema (com a usual maioria do GOP) contra o democrata que o superara de forma aritmética - mas como se explica acima, tal não é bastante para arrebatar a presidência. Sem embargo, esse "triunfo" de um republicano na virtual marra provocado por voto majoritário da Corte Suprema constituíu um escândalo, eis que largamente superou as mínimas condições de respeito à soberania popular, até mesmo em um país que parece ter perdido a noção de o que esse sistema indireto contribui para subverter e na  verdade falsear a democracia americana.

                 Para tentar mascarar o "detalhe" dessa diferença de seis milhões de votos a mais para Hillary - e que pelas maravilhas desse sistema de "contagem" ainda assim foi computada por perdedora -, o incrível Trump recorreu às chamadas "tall stories" (deformações da verdade), chegando a dizer que o que tinha engordado os totais da democrata seriam votantes ilegais, o que é uma mentira, e como tal sequer foi considerada pelas chamadas competentes... Sem embargo, a realidade permanece, e o candidato minoritário, pela série de vantagens acima elencadas, torna-se o vencedor. Não importa que poucos decerto negariam que Trump não se compara a Hillary em termos de capacidade, além de outras qualidades que não caberia aqui mencionar...

 2. Conclusões.

                   
A próxima eleição americana, segundo tudo leva a crer, será entre o atual presidente, Donald Trump (Rep.) e Joe Biden (Democrata), este último, cuja candidatura se reforça, mas que enfrentará o mesmo sistema obsoleto e potencialmente corrupto que tende a distorcer qualquer eleição nos USA, na medida em que mais favorece uma das partes que a outra, embora esta última congregue o apoio  dado pelos comunidades menos favorecidas (African-americanos, latinos, classes com  menor poder aquisitivo )


(Fontes:  acompanhamento pertinaz de o que concerne à realidade americana, entre jornais e revistas... )

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