terça-feira, 26 de maio de 2020

A PGR investiga possíveis crimes de Bolsonaro


                 
         Para a equipe do Procurador-Geral da República, Augusto Aras, há indícios de crimes de parte do Presidente Jair Bolsonaro.
           Nesse sentido, o presidente terá cometido algum dos seguintes delitos ao, supostamente, interferir  na Polícia Federal. Tratam-se de prevaricação, advocacia administrativa ou afronta a um dispositivo da lei de abuso de autoridade.
            A avaliação preliminar é feita com base nos últimos elementos de prova que vieram à tona no inquérito que apurou se  a ingerência do mandatário na corporação, denunciada pelo ex-Ministro da Justiça, Sérgio Moro teria como escopo blindar parentes e aliados em investigações.
              Na sexta-feira, dia 22, o STF autorizou a divulgação do vídeo da reunião ministerial em que Bolsonaro pressiona por 'mudanças' na P.F.
                A equipe de procuradores considera que, no vídeo e em outros elementos, como mensagens trocadas por celular, há evidências de que Bolsonaro se movia pelo propósito de assegurar alguma vantagem para ele próprio ou terceiros.
                 A expectativa é que, com o avanço das investigações, seja possível delimitar melhor qual é o tipo de delito penal aplicável no caso. Um dos desafios da investigação é identificar quem especificamente ele estaria tratando de beneficiar, e em quais processos.  Isso depende de diligências pendentes, como depoimentos de testemunhas.
                 Tendo em vista as informações já obtidas no inquérito, segundo a equipe de Aras, seria possível, em caso de denúncia, enquadrar o Presidente, em alguma das três infrações sinalizadas.
                  O Procurador-Geral, Augusto Aras, designou três procuradores da República para auxiliá-lo nesse caso. Mas a decisão sobre se cabe acusar o presidente e sobre qual dispositivo da lei será eventualmente aplicado é exclusiva de Aras.
                    Tal situação só ocorrerá mais adiante, após a Polícia Federal concluir o inquérito e apresentar relatório final `à PGR.  Segundo investigador com acesso ao caso, o vídeo aponta que, de fato, Bolsonaro pressionou o então ministro Moro a nomear policiais de sua confiança em cargos-chave da P.F. com a intenção de favorecer parentes e aliados.
                       Assinale-se que em um dos momentos da reunião, ele olha em direção do Ministro Moro e afirma: "Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, e não consegui. E isso acabou. Eu não  vou esperar f.;. a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meus, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa.  Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele!  Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro ! E ponto final ! Não estamos aqui pra brincadeira."
                          Outros indícios que apontam a tentativa de proteger pessoas próximas  se acham em mensagem, segundo a equipe da PGR, enviada  pelo presidente a Moro, dias antes de demitir o então diretor-geral da P.F. Maurício Valeixo, na qual o presidente copia o link da notícia com o título: "PF na cola de dez a doze deputados bolsonaristas". Na sequência, Bolsonaro escreveu: "Mais um motivo para a troca."
                           Conforme o Código Penal, prevaricar é "retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa da lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal." A lei prevê detenção, de três meses a um ano, e multa, em caso de  condenação.
                  Já advocacia administrativa consiste em "patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública", valendo-se  da qualidade de servidor ou agente político.  A pena  vai de um mês a um ano de detenção, fora multa, a depender de eventual agravante.
                                  Há outro possível enquadramento, que está no artigo 33 da Lei de Abuso de Autoridade. Esse prevê detenção de seis meses a dois anos, além de multa, a quem "exigir informação ou cumprimento de obrigação inclusive o dever de fazer ou de não fazer, sem expresso amparo legal".  Segundo a norma em tela, incorre na mesma pena "quem se utiliza de cargo ou função pública ou invoca a condição de agente público para se eximir de obrigação legal ou para obter vantagem ou privilégio indevido."
                                 Por lei, caso o presidente seja denunciado por crime comum, o processo só pode prosseguir  com autorização da Câmara. Se ao menos dois terços dos deputados derem seu aval e a denúncia for aceita pelo STF, ele é afastado do cargo por 180 dias, até haver uma solução sobre a eventual condenação ou não do investigado.
                                   Nesse contexto, Bolsonaro nega tentativa de ingerência indevida na Polícia Federal.  Sustenta ele que ao falar em trocas no Rio de Janeiro, se referia à equipe que faz sua segurança  pessoal e de sua família.
                                Para investigadores, o principal ponto que confirma que Bolsonaro fazia referência à |P.F. do Rio de Janeiro é o fato de ele ter mencionado "amigos" no contexto, que não são responsabilidade da segurança oferecida pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Em agosto de 2019, Bolsonaro se irritou com uma investigação no Rio em que apareceu um homônimo de Hélio Negrão (PSL-RJ), deputado federal que é seu aliado. O presidente e Sérgio Moro  sustentavam  que havia uma fraude, mas o Ministério Público disse que não viu problema no inquérito.
                                       Bolsonaro forçou a substituição do chefe do órgão no estado quatro vezes em menos de um ano e meio.  Segundo Moro, o presidente fez pressões pela mudança em agosto de 2019 e em janeiro, março e abril  de 2020. A promoção a general de oficial  responsável pela segurança de Bolsonaro e de sua família também reforça dúvidas sobre a versão do presidente de que era difícil realizar trocas.
                                            André Laranja Sá Correa, general de brigada que era diretor do Departamento de Segurança Presidencial, órgão ligado ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) foi promovido  por Bolsonaro. O militar se tornou , no dia 26 de março,comandante da 8ª Brigada de Infantaria Motorizada,  no Rio Grande do Sul.    Isso ocorreu antes da reunião ministerial. Para a vaga de Sá Correa, foi designado pelo Presidente Gustavo Suarez da Silva, coronel que era diretor adjunto da estrutura federal.
                             O Departamento de Segurança Presidencial tem entre as suas obrigações zelar pela segurança pessoal do presidente, do vice e de seus familiares, além de proteger os palácios presidenciais e as residências oficiais.

(Fonte:  Folha de S. Paulo )

Nenhum comentário: