sábado, 23 de maio de 2020

As Vias Travessas da Democracia


                                            

      Já dizia Octávio Mangabeira que a democracia é uma plantinha tenra que se deve regar com cuidado.  Essa turma verde-oliva trazida por Bolsonaro para os círculos do poder parece haver aprendido pouco com o desfazer - lento, mas seguro - da margarida da impunidade, que caracterizara, com o óbvio desequilíbrio do chamado regime militar,  a longa noite a que foi introduzida para pelo menos uma geração de brasileiros.
  
       A embriaguez do poder discricionário já se pôde entrever pela cortina que mestre Celso de Mello tratara em boa hora de descerrar, em respeito à própria biografia e à sua iluminante presença no Supremo, que infelizmente, muito mais cedo que devera, há de findar neste ano de 2020.

         A húbris do poder boçal pensava dispor das pesadas cortinas do mando discricionário na dita reunião do dia 22 de abril. Saboreavam eles que o esporte de quebrar vidraças iria continuar impune, e dessarte, pequenos e grandes desvelariam e despejariam os próprios nefandos rancores, num jogo do vale-tudo que o fascistão-mor  está aí para presidir, passar a mão na cabeça e, sobretudo, permitir.

           Não é necessário, de resto, perder muito tempo com os maus propósitos desse bando que envergonha ao Brasil.  Cabe, ao invés, estar atento para atalhar a seus maus propósitos, e mostrar com a firmeza da democracia - que é esse governo que os gregos inventaram do próprio povão, fundado na maioria, no princípio  em cidades-estado, antes dominadas pelas grandes famílias (aristocracias), e mais tarde pelas assembleias regularmente constituídas, com os tijolos de mando não baseado em rancores, nem em virulentas minorias, mas no sentir majoritário  do demos (povo).

             Em outras palavras, é mister no futuro eleger os nossos governantes  dentre aqueles que realmente representem a maioria do sentir de nosso Povo, de tudo aquilo que é bom e justo para a comunidade brasileira, e não só ao que aproveita a grupos rancorosos e sempre minoritários porque alimentados de estranhos ressentimentos e de bizarras fantasias, cortadas e ajaezadas por alfaiates da laia de  B.Mussolini e A. Hitler, que os seus povos respectivos já repudiaram faz muito, esses mesmos que apenas sobrenadam nos recessos e nos pântanos que são por vezes encontrados nos lixões da Humanidade.


( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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