quarta-feira, 13 de maio de 2020

O Brexit e a Pandemia


                                          

       Todo erro tem uma origem e neste caso presente, em que a pandemia do coronavirus se espalha pelo mundo, a pobre Inglaterra será forçada a uma vez mais reconhecer o equívoco inicial - a palavra inglesa blunder se aplica com particular força - da incrível decisão do então Primeiro Ministro Brad Cameron submeter uma vez mais o UK a um processo de referendo (sobre a sua posição na União Européia) continua a ter danosas e até mesmo ruinosas consequências para a velha Ilha, que, por um estúpido capricho, volta a sofrer, movida por insondáveis e, na realidade, estúpidos processos de pano verde quanto ao seu destino na Europa.

          Como o planejamento de Cameron deu errado e o referendo saíu contra os seus pouco brilhantes planos  - to say the least - , que levaram a um acréscimo de castigo, em  cruel e mesmo incrível reviravolta, à gente do Reino Unido, por concordar meter-se nessa gigantesca fria, será forçoso lembrar-lhe graves e inóspitas verdades - decerto já reiteradas na imprensa inglesa -  eis que, embora não mais seja parte da U.E. desde janeiro último, esse mesmo U.K. vive período de transição até 31 de dezembro p.f.. Até lá, o país terá acesso  aos mercados vizinhos, mas precisa decidir ao longo do próximo mês se pedirá a extensão  desse estágio. Com os dois lados da Mancha sob brutal pressão de inesperadas e implacáveis contingências factuais, a previsão mais fácil é a de que afigurá-se, no mínimo, muito pouco provável a finalização de acordos comerciais até o fim de 2020. 

            Nesse contexto, em que a irresponsabilidade de Cameron - e as ajudas posteriores de seus ressabiados apoiadores tories - terá sido castigada  pela sorte (no caso o azar ou a fúria dos deuses por exagerar na respectiva leviandade e, porque não dizer, estupidez) e os danos causados pela pandemia mundial, sem dúvida amarga e pesada punição  e  que multiplicará as consequências negativas da reckless and stupid  decisão daquele Primeiro Ministro que contrariou a toda uma geração de brilhantes políticos britânicos - de  a maior parte dos analistas acredita que o governo de Sua Majestade  britânica estaria disposto a chegar ao fim abrupto da transição do malsinado Brexit sem qualquer acordo, forçado pela irresponsabilidade de tantos gabinetes e pela incrível má-sorte de uma hecatombe fora de qualquer previsão no passado recente.

               The English fickleness terá consequências decerto cruéis para o Povo inglês, que será submetido a condições que semelhariam de todo desnecessárias, se o bom senso junto com a leviandade de Cameron e de diversos companheiros seus, que preferiram seguir o caminho dos lemmings, ao invés de terem a coragem de rever a estupidez pregressa e a repetida dúvida em tentar reviver um  passado já de todo superado, com confusas jogadas que parecem formas de acirrar forças de todo desnecessárias se a solução lógica e razoável do Remain houvesse prevalecido. Isso tudo me faz lembrar ditado de minha terra: não desejes muito alguma coisa (absurda ou pouco razoável), porque ao fim ela pode acontecer...

( Fonte: O Globo )

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